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Julia Daudén
Arquiteta Urbanista formada pela Escola da Cidade, em São Paulo. Fez parte de sua graduação em intercâmbio com a Universidade IUAV de Veneza. Atua profissionalmente no campo de projeto e no ArchDaily Brasil como autora e tradutora de artigos.
Congresso Nacional. Foto de Mario Duran-Ortiz, via Flickr. Licença CC BY-SA 2.0
A partir do século XIX, com sua Revolução Industrial e emergência dos novos tempos da máquina, a crescente população e as demandas pelo espaço urbano cada vez mais pungentes, na Europa, emergem as primeiras reflexões sobre a cidade e, mais do que isso, inicia-se o processo de estruturação disciplinar do urbanismo como teoria e prática inerentes ao novo momento histórico que se consolidava, e que teria seu produto, em relação às cidades, como apanágio do século XX. Dentro dessa lógica disciplinar que se configurava a partir de uma demanda social, ou muitas vezes, uma demanda política vinculada a pretensões militaristas de ordem e controle urbano, o século XX foi palco de todo o desenrolar dessa sociedade industrial, que tinha a cidade como seu horizonte.
Em projetos residenciais, os elementos de conforto ambiental são centrais para a concepção de propostas que estabeleçam um sentido de aconchego, acolhimento e sensação de pertencimento em um lugar protegido e seguro. A iluminação talvez seja o aspecto mais importante na conformação desse conjunto, já que ela é capaz de apontar usos específicos nos ambientes internos e externos das casas, estabelecer funções de uso prático ou de relaxamento, e destacar elementos arquitetônicos que atribuem grande valor às obras.
Há muito tempo a história das civilizações vem sendo contada e ensinada de forma linear, com um sentido evolutivo, em prol de uma apreensão facilitada por uma didática mais direta. É fato que, muitas vezes, questionou-se esse método de pensar e organizar a forma como os eventos ou manifestações culturais aconteceram no decorrer do tempo, nas diversas partes do mundo, com suas especificidades que, muitas vezes, são deixadas de lado nas grandes narrativas históricas produzidas, sobretudo, no âmbito ocidental e, mais ainda, europeu.
Talvez uma das decisões mais importantes inerentes a um processo de projeto seja a forma de implantação dos volumes construídos dentro dos limites do terreno. Essa escolha pode render diversas virtudes à obra, desde uma boa orientação para receber luz natural, até funcionalidade em relação a acessos e distribuição de funções do programa. Um dos fatores centrais na hora de entender qual é a melhor forma de pousar um projeto sobre o chão é a inclinação do terreno.
Projetos residenciais de casas podem ser campos de experimentação de formas, materiais, técnicas construtivas ou organizações espaciais. Um desses recursos é o pé-direito duplo, isto é, situações nas quais a distância livre entre o piso e o teto equivale a cerca do dobro de um pé-direito padrão (considerado entre 2,50 e 2,70 m). Os grandes espaços formados nessa condição são um prato cheio para se aproveitar de entradas de luz e ventilação naturais, além de estabelecer relações verticais mais interessantes.
Manter os materiais em sua forma natural e aparentes nos projetos parece uma estratégia cada vez mais disseminada na prática da arquitetura contemporânea. Herdada das formulações modernas, a ideia de manter em vista os elementos que constituem as construções, além de estabelecer uma relação franca entre o usuário e o espaço construído, diversifica a paleta material das obras e pode ser uma ferramenta muito importante no momento de pensar as composições de interiores. O tijolo talvez seja o material mais aplicado nesse contexto: hoje em dia, fala-se em "revestimento" de tijolo à vista, o que leva a noção da exposição dos materiais para um outro lugar, o do ornamento, sendo reproduzido inclusive como papel de parede ou peças exclusivamente de acabamento.
Uma das constantes ao projetar residências é a reflexão a respeito de como estabelecer divisões entre ambientes, ou delimitar setores a partir de usos e dinâmicas do dia a dia sem comprometer a qualidade espacial da construção. Esse tipo de exercício faz parte da prática arquitetônica em geral, mas quando se considera projetos residenciais, sobretudo casas, a busca por recursos de conforto, como luz e ventilação naturais, controle de ruídos e privacidade, ganha camadas de complexidade ligadas à multiplicidade de situações que uma residência deve comportar.
No universo da arquitetura é recorrente que soluções técnicas ligadas ao conforto dos ambientes sejam transformadas em recursos expressivos ou detalhes únicos nos projetos. Esse é o caso dos espelhos d'água, dispositivos que contribuem amplamente com os parâmetros de conforto térmico nos edifícios e, ao mesmo tempo, funcionam como elementos de interesse estético que criam situações surpreendentes onde empregados.
No debate da arquitetura, muito se discute sobre a influência do meio onde se insere o edifício, seja pela incorporação de elementos do entorno durante o processo de desenho, seja pela negação ou superação de características indesejadas desses locais. Algumas situações evidenciam mais essa negociação do que outras, sobretudo quando o entorno natural é dominante. Nesses casos, observa-se a todo momento o confronto entre a preexistência natural e as intervenções humanas, e as formas possíveis de atingir a harmonia entre ambas.
Ligados a um imaginário arquitetônico dos anos 80, os tijolos – ou blocos – de vidro são elementos construtivos que voltaram a ter sua potência plástica notada e revisitada pela produção contemporânea. Com sua primeira patente registrada em 1907, esse produto foi elaborado a partir da demanda por iluminação nas áreas internas das edificações, mas é pelos efeitos visuais produzidos por sua translucidez e textura que ele é procurado. Atualmente, vem sendo empregado em diferentes contextos, de banheiros a divisórias residenciais e, até mesmo, fachadas inteiras de bares, lojas e restaurantes.
As interfaces que estabelecem a relação entre dentro e fora nos projetos de arquitetura têm um papel fundamental para reiterar ou negar os graus possíveis dessa conexão. Nesse sentido, um dos fatores centrais na concepção das fachadas é o nível de opacidade dos materiais que as compõem, já que a partir disso criam-se situações absolutamente diversas em relação à luz, vistas e efeitos na atmosfera dos ambientes. Os materiais ou elementos translúcidos representam uma estratégia interessante para uma mediação entre interno e externo que sugere um efeito diáfano, etéreo, com certo mistério promovido por um tipo de superfície que deixa a luz entrar mas, ao mesmo tempo, não conforma uma imagem nítida sobre as superfícies para quem vê.
O concreto é símbolo importante de um período de grande reconhecimento da arquitetura brasileira e até hoje segue como um dos materiais preferidos dos profissionais da área interessados em explorar a flexibilidade e expressividade que seu uso confere aos projetos. Apesar de estar associado sobretudo às estruturas das construções, o concreto pode figurar como protagonista por sua materialidade, temperatura, cores e outros aspectos que vão além de suas qualidades estruturais. Quando mantido aparente, o concreto imprime um caráter marcante nas áreas internas das obras ao dialogar com os demais elementos que compõem a ambiência das propostas.
Uma das mais emblemáticas ferramentas de escolha para projetos de arquitetura e urbanismo no Brasil são os concursos. Sedimentados na cultura arquitetônica no país, estabelecem, por um lado, uma circunstância de estímulo, oportunidade e aquecimento, tanto da prática, quanto do debate de ideias – condição importante para a reafirmação de um sentido democrático e horizontal para as escolhas de propostas vencedoras. Por outro, são alvo de debate acalorado pela forma como têm se desenvolvido, pelos métodos de avaliação e, sobretudo, por premiarem propostas que, frequentemente, reiteram um tipo de arquitetura ligada a um vocabulário formal moderno, negligenciando prostas que buscam algum tipo de renovação do ideário formal.
Algumas obras consagradas da arquitetura são reconhecidas por seus detalhes ou por elementos específicos pensados com tamanho cuidado e inventividade que passam a ser a referência imediata que vem à cabeça quando pensamos nestes projetos.
Um desses elementos que frequentemente se torna protagonista nas propostas é a escada, que presente em alguns clássicos, como o Solar do Unhão de Lina Bo Bardi, com sua escada de madeira singular que organiza todo o espaço livre e faz da estrutura sua medida, ou, ainda, a icônica escada helicoidal do Palácio do Itamaraty desenhada por Oscar Niemeyer com as curvas precisas que caracterizam sua obra.
Componentes estruturais podem ser grandes protagonistas em projetos de arquitetura, e contribuem para estabelecer a compreensão de como se organizam e distribuem os esforços intrínsecos às construções. Os tirantes são um exemplo recorrente dessa possibilidade de tomada de cena: eles subvertem a lógica da sustentação por apoios e conformam conjuntos estáveis a partir da tração, criando um sentido, ao mesmo tempo, de força e leveza nas obras.
Este tipo de elemento está presente em diversos tipos de escala de edificação, desde os cabos de aço das grandes e imponentes pontes pênseis, até os tensores de coberturas residenciais. Selecionamos um conjunto de casas brasileiras que se valem desse delicado e potente componente estrutural de formas diversas, que servem enquanto demonstração da versatilidade de seus possíveis usos.
A pauta do reuso e da reciclagem no contexto da construção civil é de extrema relevância, sobretudo ao se considerar os montantes de produção de resíduo e consumo de energia envolvidos nos processos ligados ao canteiro de obras. Elementos construtivos forjados a partir da reelaboração da função de antigos objetos ou materiais, representam uma oportunidade objetiva de aderir às formas de pensar no reaproveitamento como caminho para um futuro mais sustentável e responsável.
A concepção de projetos residenciais lida a todo momento com pensar as formas de qualificar o cotidiano daqueles que ocuparão os espaços projetados diariamente. A ideia de subverter radicalmente o programa habitacional tem como limite justamente o contato com a vida do dia a dia, com as atividades e dinâmicas práticas domésticas e com um caráter de grande permanência dos usuários, o que faz com que a inovação e criatividade nesses casos estejam, em geral, materializadas em detalhes, articulações entre cômodos, pontos de interesse, mobiliários e formas de pensar o desenho dos interiores de forma agradável e adequada aos moradores.
Uma das formas de criar pontos de supresa e de quebra da monotonia de um conjunto padrão do programa residencial é o uso de cores de forma estratégica e pontual em ambientes internos. Associar elementos arquitetônicos como vigas, pilares, pisos, lareiras, painéis, armários a tons contrastantes entre si estabelece uma nova leitura para antigos componentes e pode mudar a percepção dos ambientes internos de forma inovadora. Reunimos a seguir uma seleção de projetos brasileiros que exploram o uso desse recurso em suas propostas para interiores.
Em diversos momentos da história, a escala humana e a aproximação dos edifícios à dimensão sensível e vinculada ao corpo foram valores perseguidos pelos arquitetos e objeto de reflexão dentro da produção teórica do campo. Embora seja uma virtude que um espaço possa ser apreendido em uma relação direta entre pessoa e construção, existem situações, e mais do que isso, algumas escalas de projeto, que só podem ser percebidas a partir de um olhar mais distanciado.