O ambiente construído é responsável por aproximadamente 42% das emissões anuais globais de CO2. Durante a vida útil de um edifício, metade dessas emissões provém de sua construção e demolição. Para tornar a arquitetura mais sustentável e controlar as emissões globais, é essencial repensar e reduzir os impactos de carbono gerados durante as demolições, bem como implementar estratégias sustentáveis na construção de edifícios. As demolições geralmente envolvem a desmontagem, derrubada, destruição ou eliminação de edifícios e estruturas, resultando em níveis insustentáveis de emissões de carbono, esgotamento de recursos, resíduos e poluição. Esses métodos apressados para encerrar o ciclo de vida de um edifício têm impactos negativos no meio ambiente, nos materiais envolvidos e nas possibilidades de reciclagem. Portanto, é evidente a necessidade de repensar como abordamos o fim da vida de um edifício ou projeto de infraestrutura, em vista de um sistema de desconstrução mais sustentável.
Paul Yakubu
Quais estratégias de demolição sustentável podem descarbonizar a arquitetura?
Lugares de protesto na África: espaços públicos para engajar e promover a democracia
O protesto é uma ferramenta poderosa para gerar mudanças e os espaços públicos sempre foram uma plataforma para o engajamento social nas sociedades. No dia 15 de setembro foi comemorado o Dia Internacional da Democracia e para celebrar a data examinamos a África, os protestos emergentes do último ano e como os cidadãos de vários países africanos contestam a justiça política, exigem melhores condições de vida aos governos e questionam a soberania de suas nações.
Com manifestações que vão desde grandes marchas organizadas até movimentos espontâneos menores, os habitantes desses países ocupam os espaços públicos de maneiras simbólicas e significativas para amplificar suas vozes. Esses espaços incluem praças públicas com significado cultural e histórico, edifícios políticos ou áreas de protesto improvisadas, como estradas e locais abertos. Por meio disso, as cidades africanas mostram como as pessoas tornam esses espaços seus e como o poder de sua confluência não pode ser ignorado ao revelar a essência democrática dos espaços públicos.
Rayon: um software que revoluciona o desenvolvimento de projetos colaborativos
Rayon, uma inovadora ferramenta de projeto online que tem como objetivo criar uma nova abordagem colaborativa para o desenvolvimento de "prédios mundanos" na cidade, foi selecionada como uma das melhores Novas Práticas do ArchDaily 2023. Fundado em 2021 por Bastien Dolla e Stanislas Chaillou, o software de projeto colaborativo reúne profissionais das indústrias de arquitetura, engenharia e construção. A empresa acredita que existe uma "cultura do ordinário" na arquitetura. Essa cultura representa um ecossistema de edifícios que podem parecer comuns ou não são marcos impressionantes na cidade. No entanto, esses edifícios e seus profissionais da construção constituem 90% do tecido urbano e contribuem para a cultura do design que coletivamente dá identidade à cidade. Os fundadores acreditam que as gerações anteriores de software negligenciaram essa cultura e propõem o Rayon como uma nova ferramenta para preencher essa lacuna, aprimorando a colaboração e a ergonomia do usuário.
Cidades efêmeras: três conceitos radicais que propõem aos usuários moldarem seu ambiente
O conceito de uma cidade pode ser entendido como um sistema em constante transformação, no qual arquitetos e habitantes colaboram para sua concepção e remodelagem. Embora sua estrutura inicial possa ser delineada por designers ou arquitetos, a essência da trama urbana é, em última instância, moldada pela sociedade e pelas gerações que a ocupam. A questão da "autoria da cidade" frequentemente surge no contexto do planejamento urbano. Será que os arquitetos e urbanistas podem prever até que ponto uma cidade evoluirá por meio de seu projeto inicial? A resposta é não. A noção de autoria do usuário reconhece, então, que o planejamento urbano não deve ser abordado como um projeto de construção convencional, no qual os designers tentam prever todos os aspectos de forma, padrão, comportamento e cultura. Em vez disso, ela reconhece o papel desempenhado pelas pessoas na configuração da trama urbana por meio de suas preferências arquitetônicas, desenvolvimento da identidade do bairro e remodelagem contínua que contribui para a história e o espírito do lugar. Esses elementos devem ser considerados desde o início do processo de projeto, contemplando ideias relacionadas à expansão futura, infraestrutura adaptável e capacitação dos cidadãos para contribuir com a arquitetura da cidade, tornando, assim, o planejamento urbano mais democrático. Este artigo explora conceitos de cidades radicais, nas quais os designers adotam ideias de autoria dos usuários e a evolução constante da arquitetura efêmera.
Repensando o papel das pequenas madeireiras informais na África tropical
A África tropical abriga vastas florestas que se estendem por 3,6 milhões de quilômetros quadrados nas regiões Ocidental, Oriental e Central do continente. Essas florestas desempenham um papel crucial, fornecendo madeira para os setores de móveis, combustíveis e indústrias de papel. No entanto, a madeira ainda não faz parte da arquitetura contemporânea dessas regiões. Embora o gosto arquitetônico seja um fator, a principal razão para essa ausência está relacionada à incapacidade das indústrias madeireiras em atender aos requisitos de disponibilidade, acessibilidade, apelo estético, durabilidade e desempenho climático e estrutural da madeira. A indústria madeireira na África tropical é composta principalmente por operações informais e de pequena escala, focando principalmente no corte de toras, em vez de refinar a madeira para uso em projetos arquitetônicos ou estruturais. Apesar disso, o grande número de empresas informais na região apresenta uma oportunidade para remodelar a indústria e aproveitar os recursos florestais locais na construção de edifícios em madeira.
Do Art Nouveau à Bauhaus: como eram os interiores residenciais nos movimentos artísticos do passado
A arte sempre foi um meio pelo qual as pessoas podem se conectar com os espaços, e os movimentos artísticos têm servido como uma plataforma para explorar novas relações com a arquitetura. Ao incorporar a arte em edifícios e espaços internos, eles foram transformados, resultando em uma fusão que cria ambientes bonitos, inspiradores e espiritualmente edificantes. Ao longo da história, vários movimentos artísticos, como o Renascimento no século XVII, o Barroco no século XVIII e o Art Nouveau, Art Déco e Bauhaus no início do século XX, tiveram um impacto significativo na arquitetura. Os arquitetos se inspiraram nos ideais, conceitos, abordagens estilísticas e técnicas desses movimentos, usando-os para criar estruturas habitáveis em grande escala. Como a casa é uma expressão fundamental de um movimento arquitetônico e a moldura mais simples para exibir o ethos artístico de uma determinada época, estudar seus espaços internos fornece uma imagem detalhada da influência da arte na organização espacial, design de móveis, padrões de produtos e interação do usuário.
As inspirações por trás das cores da arquitetura tradicional africana
As culturas das sociedades africanas estão intrinsecamente ligadas à cor. Em tecidos, roupas, produtos, esculturas e na arquitetura, diversas sociedades exploram cores ricas e vibrantes, expressivas e alegres. Com diferentes tons, matizes, contrastes, motivos e ornamentos, as cores são abraçadas como uma linguagem não falada, uma paleta para contar histórias e um senso de identidade cultural. Embora o uso da cor nas sociedades africanas possa parecer decorativo ao olhar ocidental, ele é extremamente simbólico, e traz profundo sentido de história. Comunidades usam as cores por meio de ornamentos e motivos, expressando-se com padrões religiosos e culturais nas fachadas para contar histórias familiares e coletivas.
O uso estratégico da cor no design gráfico ambiental
Nosso dia a dia envolve comunicação constante com a cidade. À medida que percorremos diferentes espaços, fazemos perguntas como “Onde estou agora?”, “Para onde vou?”, “O que procuro?”, “Para que serve este edifício?”. Embora os encontros nestes espaços possam parecer intuitivos, o design gráfico ambiental (EGD) fornece as respostas para estas perguntas, servindo como uma interface importante entre nós e o ambiente construído. Envolve o design de elementos gráficos que se fundem com projetos arquitetônicos, paisagísticos, urbanos e de interiores para tornar os espaços mais informativos, fáceis de navegar e memoráveis. O EDG consiste em três elementos principais: texto, forma e cor. Texto e formas normalmente transmitem as informações gráficas, mas as cores as projetam, amplificam e ajudam a comunicá-las na cidade. Nas experiências espaciais, percebemos primeiro as cores, uma vez que nossos sentidos registram principalmente sensações visuais. Portanto, o uso estratégico da cor é fundamental para que os gráficos ambientais proporcionem uma experiência completa de imagens de identidade, senso de lugar e conexão emocional.
Transformando subprodutos agrícolas em materiais de construção: o trabalho de Willow Technologies em Gana
Willow Technologies é uma empresa voltada para pesquisa de materiais e tecnologias de construção que foi selecionada como parte das Melhores Novas Práticas de 2023 do ArchDaily. Fundada pela arquiteta e cientista ganense-filipina Mae-Ling Lokko, opera na lacuna entre pesquisa, desenvolvimento e difusão de materiais construtivos feitos a partir de biomassa. Trabalhar com resíduos agrícolas e materiais de base biológica levanta questões técnicas relacionadas à escalabilidade, produção industrial, padronização, resistência ao fogo e resistência mecânica. Explorar esses dados é um dos focos da Willow Technologies, que o faz de forma peculiar através da perspectiva de regiões em desenvolvimento na África Ocidental. Por meio de trabalhos abrangentes com coqueiros, moringas, arroz e outras espécies, a prática de Lokko tem sido capaz de investigar e catalogar as características materiais de várias culturas, seus possíveis subprodutos, técnicas locais de transformação e as perspectivas e desafios da escalabilidade como materiais de construção.
Projetando com os usuários: 7 projetos em que arquitetos trabalharam com a comunidade
Existem momentos em que os arquitetos levam o processo projetual para além de sua prática e envolvem potenciais usuários, o que expande o escopo do projeto e se mostra fundamental para o desenvolvimento da obra. Baseando-se no conhecimento, habilidades e opiniões de uma comunidade, o projeto se torna mais adequado às suas necessidades e melhor projetado para se adequar ao contexto local. Torna-se uma plataforma de intercâmbio cultural e cria um senso geral de pertencimento nas comunidades.
O design participativo é um processo que pode ser aplicado em todas as escalas da arquitetura, desde casas e escritórios até espaços públicos e intervenções urbanas. Ao examinar vários projetos pelo viés da colaboração comunitária com arquitetos, temos uma compreensão mais profunda do valor desse processo projetual. Ele divide os princípios teóricos participativos de colaboração, co-criação e capacitação em exemplos acionáveis e eventos pragmáticos. Esses projetos exemplificam as contribuições dos usuários para o processo projetual, seja com planejamento espacial e urbano ou com materiais e técnicas de construção locais.
Como alguns bairros estão usando o grafite para protestar contra a gentrificação
O grafite, como forma de arte, tem uma relação complexa com a gentrificação. Por um lado, ele envolve as ruas e o tecido urbano como uma tela para as pessoas se expressarem cultural, social e politicamente. Essa expressão pode ser uma forma de rebelião por minorias étnicas e grupos desfavorecidos em certos bairros, ou pode construir um senso de singularidade cultural e expressão social, conferindo a um bairro um caráter positivo e atraindo novos moradores. No entanto, ao longo dos anos, ele tem sido um agente de gentrificação, aumentando os valores imobiliários para acomodar residentes mais ricos e alienando as comunidades mais antigas.
Em certos casos, os artistas reconhecem seu papel nesse esquema urbano e modificam sua forma de arte por meio de seu estilo, mensagem, localização e ação como formas diretas de protesto contra a gentrificação. De Brixton, Shoreditch e Hackney em Londres, Williamsburg e Bushwick em Nova York, até o Canal Saint-Denis e Belleville em Paris, o uso do grafite nas paisagens urbanas desses bairros pode protestar ou inspirar diferentes formas de desenvolvimento.
Materiais locais na arquitetura contemporânea: usando o solo para garantir identidade aos edifícios na Nigéria
Em Lagos, uma cidade de tecido urbano complexo, com edifícios históricos e diversas interpretações da arquitetura contemporânea, está sediado o PatrickWaheed Design Consulting (PWDC). O escritório, coordenado por Adeyemo Shokunbi, procura contribuir para uma nova linguagem arquitetônica nigeriana por meio do renascimento de materiais locais. Seus estudos focam no solo local, composto por laterita, que serve de base para acabamentos e corantes naturais, além de apresentar boas propriedades térmicas. Em dois de seus projetos recentes em Lagos — a Mad House e a Mesquita Abijo — o escritório faz uso dos acabamentos em laterita e defende uma linguagem arquitetônica nigeriana baseada no uso inventivo de materiais locais.
Os fractais no coração da arquitetura indígena africana
Os fractais são formas geométricas complexas com propriedades dimensionais fracionárias. Eles surgiram como padrões turbilhonantes dentro das fronteiras da matemática, tecnologia da informação e gráficos de computador. Nos últimos 30 anos, esses padrões também se tornaram importantes ferramentas de modelagem em outros campos, incluindo biologia, geologia e outras ciências naturais. No entanto, os fractais existem muito além do surgimento dos computadores e foram observados por antropólogos em sociedades africanas indígenas. Um deles é Ron Eglash; um cientista americano que apresenta a evidência de fractais na arquitetura, arte, escultura têxtil e religião de sociedades africanas indígenas. Em seu livro, "Fractais africanos: computação moderna e design indígena", os fractais nas sociedades africanas não são simplesmente acidentais ou intuitivos, mas sim temas de design que evoluem a partir de práticas culturais e estruturas sociais. Embora a África seja um continente com grande diversidade de culturas, exemplos de arquitetura e padrões urbanos fractais podem ser encontrados em muitas sociedades indígenas. Essas formas de padrões urbanos e espaciais podem ser identificadas por características básicas, incluindo recursão, escala, auto-similaridade, infinito e dimensão fractal. Elas formam a base do caráter de looping contínuo desses padrões em diferentes escalas que podem se projetar ao infinito. Enquanto os termos usados para descrever o caráter fractal muitas vezes se encontram em matemática e semiótica da natureza, os padrões urbanos nas sociedades africanas indígenas, que são precursoras dessas terminologias, são originárias de práticas culturais e normas sociais. Um exemplo de design urbano fractal é a cidade indígena de Logone-Birni, em Camarões, fundada pelo povo Kotoko. As visões aéreas da cidade mostram iterações contínuas de edifícios retangulares formando um padrão fractal como design urbano. Esses complexos de construções são casas de barro locais construídas pelo povo Kotoko e, como descrito por Eglash em seu livro, "uma arquitetura de acreção", onde novos recintos retangulares crescem adotando e projetando-se a partir das paredes preexistentes de edifícios antigos. O padrão urbano resultante nasce de uma cultura de casa patrilocal e da necessidade de defesa coletiva da cidade. "Um homem gostaria que seus filhos morassem ao lado dele, então construímos adicionando paredes à casa do pai" era a história da arquitetura contada pelos descendentes dessa comunidade. Conforme a montagem de famílias cresce, os padrões fractais emergem, os edifícios coletivos formam um recinto defensivo e a escala de um edifício na paisagem é um testemunho da hierarquia familiar. Os assentamentos Ba-ila do sul da Zâmbia fornecem outro exemplo. As visões aéreas revelam uma série de cercados circulares dispostos dentro de um anel maior que abriga a comunidade, suas casas e cercados para animais. Cada cercado circular contém uma habitação familiar, cercada por um cercado para animais à frente e um altar sagrado atrás. Os cercados diminuem gradualmente de tamanho do topo para a base do anel, revelando a hierarquia de cada família na sociedade. Esse design urbano fractal único reflete a estrutura social do povo Ila, com o chefe da comunidade no ápice e novos membros na base do anel. Designs semelhantes são encontrados em outras comunidades indígenas, como Mokoulek em Camarões e Labbenzanga no Mali. Os fractais estão presentes não apenas no planejamento urbano da arquitetura indígena africana, mas também em seus planos de construção, arte, tecidos, penteados, ritos religiosos, jogos infantis e outros elementos culturais. Em sua palestra TED, Ron Eglash destacou a Insígnia Real, que é o palácio do rei de Logone-Birni. O palácio implica uma recursão de retângulos como padrão espacial. O padrão espacial revela saguões como espirais retangulares onde, à medida que alguém se move mais para o interior do recinto, é necessário se tornar mais educado. Esses planos espaciais fractais essencialmente mapeiam uma escala social para o comportamento das pessoas. A recursão desses fractais também continua em escalas menores, como a forma como os utensílios são empilhados dentro da casa e os padrões que adornam o design de objetos domésticos. Consequentemente, a presença de fractais em vários aspectos da cultura dentro de sociedades indígenas sugere a existência de algoritmos culturais dentro de sua ética. Por exemplo, ritos religiosos, como a Adivinhação de Areia Bamana, são algoritmos fractais importantes em sociedades da África Ocidental. Essa adivinhação, que é nativa dos moradores de Dakar, Senegal, usa um código simbólico de linhas com palavras binárias de 4 bits como modos de busca de conhecimento do sobrenatural. Eglash observa em sua palestra que essa adivinhação não apenas influenciou padrões fractais na África Ocidental, mas também códigos binários e álgebra booleana nos anos 1800, que foram usados para criar o computador digital. Outro algoritmo cultural em sociedades africanas pré-coloniais foi a ausência de hierarquia política e a presença de grupos sociais descentralizados. Essas sociedades apresentavam uma abordagem ascendente para a organização comunitária, que não impunha um plano urbano fixo, mas sim ideais sociais para interpretações arquitetônicas. Essas interpretações foram exploradas com diferentes iterações de famílias individuais e, coletivamente, projetaram um padrão que era fractal. Esses padrões não apenas auxiliaram no design, mas também foram celebrados e adotados como estéticas de práticas culturais dentro dessas comunidades. Essencialmente, os fractais no coração do design indígena africano não eram uma dinâmica social inconsciente, mas sim uma representação abstrata e técnica prática para definir suas estruturas socioculturais. Bibliografia Chétima, Melchisedek. "Além das fronteiras étnicas: práticas arquitetônicas e identidade social nas Terras Altas de Mandara, Camarões". Revista Arqueológica de Cambridge 29, nº 1 (2019): 45-63. Eglash, Ron. "Fractais na arquitetura de assentamentos africanos." Complexidade 4, nº 2 (1998): 21-29. Eglash, Ron. "Fractais africanos: computação moderna e design indígena." (1999). Eglash, Ron, e Toluwalogo B. Odumosu. "Fractais, complexidade e conectividade na África." O que as matemáticas da África 4 (2005): 101-9. Kitchley, Jinu Louishidha. "Fractais na arquitetura." ARQUITETURA E DESIGN-NOVA DELHI- 20, nº 3 (2003): 42-51. Lorenz, Wolfgang E. Fractais e arquitetura fractal. na, 2002.
O impacto dos aterros e do manejo da terra em cidades costeiras
O manejo do terreno junto ao mar tornou-se um fenômeno popular no desenvolvimento costeiro. É a solução mais comum para suprir a necessidade de terra em áreas costeiras e foi implementada para vários tipos de uso, incluindo controle de inundação e agricultura. Hoje em dia, tornou-se uma conhecida resposta para o rápido aumento da urbanização costeira, da atividade econômica e para o aumento da população mundial. Países como a China e os Países Baixos lideram a lista em área. No entanto, a maioria dos projetos ocorrem dentro de centros urbanos no sul global. Cidades na África Ocidental, Leste Asiático e Oriente Médio criam essas novas porções de terra para impulsionar a economia industrial ou para gerar espaço para projetos residenciais de luxo.
Mas a relação entre o design do aumento da faixa de terra e a resposta da água em ambientes oceânicos é complexa. Requer uma relação simbiótica com corpos d'água para estabilidade, mas pode provocar forças naturais quando negligenciado no mar. Comportamentos da água do oceano, incluindo acúmulo de maré, aumento do nível do mar, conexão com áreas úmidas e biodiversidade aquática, podem questionar o sucesso ou fracasso dos projetos em diferentes contextos.
Colaboração entre culturas: uma ferramenta para imaginar o futuro da África
À medida que a Bienal de Arquitetura de Veneza apresenta sua 18ª edição intitulada O Laboratório do Futuro, ela se concentra na África como um lugar para testar e explorar possíveis soluções para o mundo. De acordo com a curadora Lesley Lokko, a Bienal explora conceitos arraigados como clima, direitos à terra, decolonização e cultura. Isso nos desafia a questionar como a história da África pode ser uma ferramenta radical para a imaginação e nos lembra da declaração de Stephen Covey: "Viva fora da sua imaginação, não apenas da sua história". O título da bienal é provavelmente a questão mais ambiciosa dos últimos anos e nos obriga a revisitar todas as fronteiras das sociedades históricas do continente, explorar a influência das fronteiras coloniais impostas sobre elas e examinar as identidades que surgiram disso. Devemos considerar como essas identidades podem ser instrumentos de criatividade e, mais importante, reconhecer que cada sociedade africana tem um ponto de vista específico. Esse ponto de vista anseia por colaboração intercultural como uma ferramenta poderosa para a imaginação.
Pavilhão Serpentine 2023 propõe espaços que inspiram diálogo
À medida que percorremos a partitura de pilares de madeira, paredes verdejantes e a cobertura plissada, seguindo os veios do piso e as vigas do teto que convergem numa entrada de luz, parece que o espaço sempre pertenceu a este local. Parte do parque, o pavilhão complementa a natureza ao seu redor, refletindo seus padrões, e propõe um espaço central composto por um conjunto concêntrico de mesas e bancos que inspiram as pessoas a se sentarem, dialogarem e se conectarem umas com as outras. Essa é a narrativa do Pavilhão Serpentine deste ano, projetado pela arquiteta franco-libanesa Lina Ghotmeh.
Intitulado “À table”, ele se inspira na conexão da arquiteta com a natureza e lembra do apelo francês para que todos sentem juntos à mesa, compartilhando uma refeição e conversando. Ele destaca a mesa como um laboratório de ideias, preocupações, alegrias, conexões e, essencialmente, reúne pessoas. Reflete ainda sobre os ideais arquitetônicos que podem provocar e acolher momentos de conversas coletivas.
A vila flutuante de Ganvie: um modelo de urbanismo socioecológico
Localizada na parte sul da República do Benin, perto da cidade portuária de Cotonou, Ganvie é a maior vila flutuante da África. Situada no meio do Lago Nokoué, é caracterizada por casas coloridas sobre palafitas de madeira construídas ao redor de ilhas artificiais do século XVII.
Essa arquitetura única nasceu da história da tribo Tofinu, que a construiu como um refúgio contra o comércio de escravos. Foi mantida ao longo do tempo pelos seus sistemas socioecológicos aquaculturais comunitários e hoje se tornou uma atração turística do país. A vila foi reconhecida como patrimônio cultural mundial pela UNESCO em 1996, atraindo até 10.000 visitantes anualmente. No entanto, esse fluxo de turistas impactou os moradores e as práticas socioecológicas que sustentam esse ambiente aquático. A aquacultura tornou-se cada vez mais desafiadora de manter, pois a vila luta para sustentar sua base econômica. Além disso, as práticas tradicionais de construção foram substituídas por modernas, e a vila enfrenta desafios ambientais contínuos. No entanto, o estilo de vida único dos moradores em torno da água ainda pode oferecer muitas lições para o design de futuras cidades flutuantes.