Projetando com os usuários: 7 projetos em que arquitetos trabalharam com a comunidade

Existem momentos em que os arquitetos levam o processo projetual para além de sua prática e envolvem potenciais usuários, o que expande o escopo do projeto e se mostra fundamental para o desenvolvimento da obra. Baseando-se no conhecimento, habilidades e opiniões de uma comunidade, o projeto se torna mais adequado às suas necessidades e melhor projetado para se adequar ao contexto local. Torna-se uma plataforma de intercâmbio cultural e cria um senso geral de pertencimento nas comunidades.

O design participativo é um processo que pode ser aplicado em todas as escalas da arquitetura, desde casas e escritórios até espaços públicos e intervenções urbanas. Ao examinar vários projetos pelo viés da colaboração comunitária com arquitetos, temos uma compreensão mais profunda do valor desse processo projetual. Ele divide os princípios teóricos participativos de colaboração, co-criação e capacitação em exemplos acionáveis e eventos pragmáticos. Esses projetos exemplificam as contribuições dos usuários para o processo projetual, seja com planejamento espacial e urbano ou com materiais e técnicas de construção locais.

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Conheça 7 projetos arquitetônicos projetados através da participação do usuário e da colaboração comunitária.

Edifício La Borda / Lacol

Barcelona, Espanha, 2018

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Edifício La Borda, Spain. Image © Lluc Miralles

Em uma ação para revitalizar o bairro industrial de Sants e enfrentar os desafios habitacionais de La Borda, o projeto foi concebido como uma cooperativa habitacional. Isso envolve uma cooperativa de possíveis usuários do edifício que são responsáveis por tomar decisões sobre ele, como seu projeto, operação e necessidades legais, econômicas e de infraestrutura. Os membros da cooperativa não são proprietários do prédio, mas fazem contribuições contínuas, como taxas anuais de uso da terra para certificar sua ocupação. Quando um cooperado sai, seu apartamento é devolvido à cooperativa, que então busca novos cooperados para ocupar o espaço. Esta é uma forma única de habitação social que exigiu uma forma dinâmica de processo de projeto participativo quando os arquitetos da Lacol foram convidados a projetá-la.

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Interior do Edifício La Borda Image © Lacol

Por meio de consultas contínuas, workshops e debates com a cooperativa, os arquitetos desenvolveram um projeto de arranha-céus de madeira composto por 28 unidades habitacionais de diferentes tamanhos, bem como 280m² de espaço comunitário. Essas áreas comuns foram planejadas para uso doméstico e cotidiano, incluindo espaços de lazer, bicicletários, lavanderias e locadoras. Esses espaços aproximam as pessoas e complementam o resto do bairro.

Habitação Social Pinotepa Nacional / HDA: Hector Delmar Arquitectura + M+N Diseño

Pinotepa Nacional, México, 2019

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Habitação Social Pinotepa Nacional. Imagem © Jaime Navarro Soto

Este esquema de habitação social nasceu como uma colaboração entre arquitetos, empreiteiros e agricultores comunitários com o objetivo de projetar as casas de trinta e oito famílias em uma comunidade dedicada à agricultura. Apesar da localidade, região e topografia únicas do terreno, a peculiaridade das necessidades de cada família tornou-se um atributo agregado a ser negociado no processo projetual. Para resolver isso, os arquitetos usaram o design participativo, entrevistando moradores para entender como seria sua casa ideal e coletando diferentes perspectivas sobre seus estilos de vida e tradições.

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Habitação Social Pinotepa Nacional. Imagem © Jaime Navarro Soto

A proposta coletiva consiste em dois volumes com telhados de duas águas. Cada volume abriga áreas privadas e comuns, separadas por um pátio aberto, que serve como um espaço de transição para as atividades diárias, bem como um espaço livre para plantar um pomar ou criar animais. Materiais locais e técnicas de construção familiares foram usados para enfatizar o lugar das casas no contexto rural e proporcionar um sentimento de pertencimento às famílias.

Projeto de Requalificação da Favela de Sanjaynagar / Community Design Agency

Ahmednagar, Índia, 2022

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Swapnapurti, Ahmednagar, Índia. Imagem © Rajesh Vora

O projeto mostrou o valor da participação do usuário no planejamento espacial do esquema ao  abordar a desigualdade habitacional construindo comunidades em vez de unidades individuais. O projeto é uma parceria público/privada parcialmente financiada pelo governo indiano por meio de seu programa Housing for All (PMAY-Urban). Ele transforma as condições de vida de 298 famílias confinadas em uma favela. Os projetistas empregaram ideais participativos, permitindo que os residentes de Sanjaynagar contribuíssem para as decisões de projeto em todas as escalas, desde o nível do bairro até as personalizações em suas casas individuais.

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Processo projetual participativo com os moradores. Imagem © Community Design Agency

As unidades habitacionais são organizadas em torno de pátios que servem como espaços públicos. Corredores amplos foram projetados para ter espaços comuns para interações sociais, bem como a inclusão de telas de bambu e pérgulas que trazem um elemento local e fazem sombra em todo o edifício.

Centro de Oportunidade para Mulheres / Sharon Davis Design

Kayonza, Ruanda, 2013

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Centro de Oportunidade para Mulheres, Kayonza, Ruanda. Imagem © Elizabeth Felicella

Materiaise técnicas de construção locais podem ser cruciais para envolver os usuários no processo projetual. Sharon Davis Design adotou essa abordagem ao desenvolver o Centro de Oportunidade para Mulheres para promover o empoderamento feminino e impulsionar a economia agrícola de subsistência de uma pequena comunidade. As arquitetas usaram as habilidades de fabricação de tijolos dos residentes da comunidade como uma estrutura não apenas para projetar o edifício, mas também para estabelecer um programa de treinamento em técnicas locais de construção. Os futuros usuários do centro fabricaram tijolos usando materiais encontrados no local e um novo método de prensagem manual mais durável, adaptado de técnicas de construção locais. No total, eles fabricaram 450.000 tijolos de barro.

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Centro de Oportunidade para Mulheres, Kayonza, Ruanda. Imagem © Elizabeth Felicella

O desenvolvimento desse material criou um ciclo de feedback entre as arquitetas e uma comunidade de até 300 mulheres. Este loop é refletido na eventual morfologia espacial do esquema, que apresenta uma série de pavilhões baseados na aldeia vernacular ruandesa. As formas circulares dos pavilhões irradiam para fora, indo de salas de aula mais intimistas no centro do terreno até um espaço comunitário. O uso de tela em vez de janelas amplifica a natureza íntima do espaço, eliminando as distrações visuais durante as reuniões comunitárias e melhorando a qualidade do ar interior.

Escola Primária em Gando / Kéré Architecture

Gando, Burkina Faso, 2001

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Escola Primária em Gando, Burkina Faso. Image © Erik Jan Ouwerkerk

Francis Kéré, vencedor do prêmio Pritzker, é conhecido por sua abordagem colaborativa comunitária à arquitetura. Ele enfatiza o envolvimento dos usuários por meio da construção local. A escola primária de Gando é um exemplo fundamental dessa abordagem, já que o sucesso do projeto dependeu da adoção de restrições como custo, clima, disponibilidade de recursos e viabilidade de construção. O envolvimento dos moradores locais foi fundamental para a conclusão do edifício. Na zona rural de Burkina Faso, os membros da comunidade tradicionalmente constroem e consertam casas. Para manter essa prática cultural, técnicas sustentáveis e de baixa tecnologia foram desenvolvidas e aprimoradas para a participação dos moradores do Gando no processo de construção.

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Escola Primária em Gando, Burkina Faso. Image © Simeon Duchoud

O edifício é em forma de tijolo retangular, coberto com um teto de tijolos empilhados e um grande telhado de metal ondulado saliente. Este design permite uma ventilação máxima, aspirando o ar frio pelas janelas interiores e libertando o ar quente pelas perfurações no teto. O edifício tem uma pegada de carbono baixa e não requer ar condicionado. Em 2004, recebeu o Prêmio Aga Khan de Arquitetura, o que mostra como a escola se tornou um marco de orgulho e coletividade da comunidade.

Centro de atendimento a pessoas com deficiência Anandaloy / Studio Anna Heringer

Rudrapur, Bangladesh, 2019

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Centro de atendimento a pessoas com deficiência Anandaloy, Rudrapur, Bangladesh. Imagem © Kurt Hoerbst

O Studio Anna Heringer também acredita que a arquitetura é uma ferramenta para melhorar vidas. Sua estratégia para todos os projetos, seja em contextos europeus, asiáticos ou africanos, é usar materiais locais, fontes locais de energia (incluindo trabalho manual) e know-how global. Neste projeto, eles usaram barro e bambu, que são os materiais locais, e investiram extensivamente em artesãs locais e pessoas com deficiência, que seriam os futuros usuários, para construí-lo. A arquiteta desafia a noção de que o barro é um material antiquado e inferior ao tijolo explorando suas habilidades plásticas para criar uma identidade mais forte.

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Mulheres envolvidas na construção local. Imagem © Stefano Mori

Com essas ideias em mente, os espaços foram pensados com formas mais curvas que se encaixam na técnica construtiva de taipa e incluíram uma rampa até o primeiro andar, tornando-o acessível a todos. Ao envolver a comunidade no processo de projeto, o edifício tornou-se mais do que apenas uma estrutura; tornou-se um catalisador para o desenvolvimento local.

House of Dreams / Kuo Jze Yi and Peter Hasdel

Aldeia de Zhoushan, China, 2020

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House of Dreams, Zhoushan, China. Imagem © Insitu Project

O projeto utilizou uma abordagem de baixo para cima para a construção participativa, priorizando soluções locais. Kuo Jze Yi e Peter Hasdell, os arquitetos, mantiveram compromissos constantes com os moradores da aldeia de Zhoushan para convencê-los da viabilidade de construir uma casa com materiais residuais. O processo começou com o treinamento de moradores idosos em construção experimental usando materiais residuais, que incluiu etapas como coleta, projeto e construção. Resíduos de garrafas, plásticos e outros objetos foram coletados da comunidade e incorporados às paredes, pisos e superfícies dos prédios. Essa abordagem desenvolveu a economia do know-how local ao reciclar os recursos locais, reduziu os custos de construção e permitiu que aldeões não qualificados participassem do processo de construção.

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House of Dreams Community workshop. Imagem © Insitu Project

O projeto envolveu a construção de 19 espaços em cavernas em torno de 4 grandes pátios, abrigando pousadas comunitárias, instalações para refeições e cozinha, espaços para atividades e novas comodidades. Foi chamada de 'Casa dos Sonhos' pelas memórias coletivas dos aldeões mais velhos que passaram a infância vivendo nas cavernas.

Este artigo é parte dos Temas do ArchDaily: Processo Projetual. Mensalmente, exploramos um tema em profundidade através de artigos, entrevistas, notícias e projetos de arquitetura. Convidamos você a conhecer mais sobre os temas do ArchDaily. E, como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuição de nossas leitoras e leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.

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Sobre este autor
Cita: Yakubu, Paul. "Projetando com os usuários: 7 projetos em que arquitetos trabalharam com a comunidade" [Designing With Users: 7 Projects Where Architects Collaborated With Communities] 12 Ago 2023. ArchDaily Brasil. (Trad. Simões, Diogo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1004159/projetando-com-os-usuarios-7-projetos-em-que-arquitetos-trabalharam-com-a-comunidade> ISSN 0719-8906

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