A reciclagem tem sido um ponto de entrada para o design sustentável. É uma atividade pessoal devido à micro escala que permite às pessoas reduzir o desperdício e economizar energia. Mas entre a escassez de recursos, a perda de habitat ambiental e a crise climática global, houve uma mudança nas práticas diárias em direção a um pensamento mais cíclico. Cada vez mais, a necessidade de manter a vida faz parte de um processo contínuo de produção, reabsorção e reciclagem, onde os resíduos são convertidos em insumos para a produção.
Instituir a reciclagem de materiais como uma prática cotidiana no campo da arquitetura e da industria da construção exigiria, sem dúvida, uma abordagem de cima para baixo além de ajustes nos processos de projeto e uma revisão completa dos sistemas construtivos mais usuais. Ainda assim, pequenas iniciativas estão provocando consideráveis mudanças neste cenário, forçando os profissionais a repensarem questões relativas ao desperdício assim como uma transformação completa na própria industria da construção civil. Neste contexto, este artigo esmiuçará alguns dos projetos mais inovadores realizados ao longo dos últimos anos, realizações que nos mostram que a reciclagem de materiais na arquitetura não é nenhum bicho de sete cabeças.
Galpões, sejam industriais ou rurais, são tipologias facilmente encontradas ao redor do mundo. Alguns desses espaços de abrigo são seculares e provavelmente foram construídos para armazenar produtos ou comportar fábricas. No entanto, através de fenômenos urbanos e novas tecnologias, muitos deixaram de funcionar de acordo com seu uso inicial e passaram a configurar lugares de interesse para diversos empreendimentos que envolvem a readaptação dessas estruturas para atender a novas funções.
A reciclagem e reutilização de materiais continua a ganhar espaço e relevância na indústria da arquitetura e construção. Tal prática tem se firmado como uma importante alternativa aos métodos mais tradicionais de construção, oferecendo uma solução mais econômica e sustentável quando implementada de forma consciente. Além de contribuir substancialmente para a economia de recursos e matéria-prima, o estabelecimento de usinas de reciclagem também apresenta uma oportunidade para a geração de novos empregos, desde à coleta, o transporte e o processamento até a comercialização dos materiais e produtos resultantes dos processos de reciclagem. De forma complementar, estações de processamento de resíduos sólidos também podem incorporar sistemas de produção de energia, minimizando os custos operacionais e o impacto global da construção de tais edifícios.
O conceito de Design for Disassembly (DfD) ou “projetar para desmontar”, é uma prática que vem ganhando força ao longo dos últimos anos entre arquitetos do mundo todo. Tal abordagem revela uma crescente preocupação com o excessivo consumo de recursos naturais, o desperdício e a baixa taxa de reciclagem na indústria da construção civil. O artigo a seguir pretende analizar em detalhe esta nova tendência na arquitetura, apresentando algumas diretrizes de projeto que contemplam a possibilidade de desmontagem e reciclagem de edifícios no futuro, oferecendo uma melhor compreensão desse conceito e seu impacto na prática profissional da arquitetura e na economia circular.
Como alternativas à produção de materiais na construção civil, caracterizada por altos gastos energéticos e altos índices de poluentes lançados na atmosfera, a reciclagem e o reuso de materiais e estruturas têm se tornado cada vez mais comuns na arquitetura. A principal diferença entre esses métodos é que, enquanto o primeiro emprega certo gasto energético no tratamento do material antes do seu reaproveitamento, o segundo não requer esse processo, reutilizando-o na forma em que foi descartado.
Amateur Architecture Studio, Ningbo History Museum, 2008. . Imagem Cortesia de Louisiana
Ao longo dos dois últimos séculos, a China passou por um vertiginoso processo de expansão demográfica e urbana, resultando na completa descaracterização de sua paisagem histórica, onde inúmeras pequenas cidades e vilarejos acabaram sendo varridos do mapa, substituídos por novas infra-estruturas urbanas e edifícios cada vez mais altos. À medida que a antiga paisagem chinesa vai desaparecendo sob o novo tecido urbano da China do século XXI, importantes elementos da cultura cívica e social também estão sendo esquecidos e negligenciados. Wang Shu, o primeiro arquiteto chinês a ser galardoado com o Prêmio Pritzker, tem lidado com esta delicada situação cotidianamente desde o início de sua carreira, desenvolvendo uma arquitetura que busca construir pontes entre o passado e o presente. Utilizando materiais reciclados e recuperados de antigas estruturas abandonadas ou destruídas, Wang Shu está resignificando a arquitetura tradicional chinesa no contexto de um país em rápido e incansável processo de desenvolvimento e expansão urbana. A seguir, discutiremos algumas das principais obras construídas por Wang Shu, como o Museu de arte contemporânea (2005) e o Museu Histórico de Ningbo (2008), e o Campus da Nova Academia de Arte de Hangzhou (2004).
Reabilitar um edifício não é tarefa simples. Além de exigir sensibilidade aguçada para identificar e reconhecer o valor histórico das pré-existências – e, assim, decidir o que perduará no tempo e o que será substituído por elementos novos, coerentes com o programa atual –, trata-se também de uma estratégia que extrapola os limites do desenho e entra em temas como sustentabilidade e economia de meios. Afinal, estamos falando de reciclar uma estrutura, ou partes dela, e isso tem consequências tanto formais quanto ambientais.
https://www.archdaily.com.br/br/943027/reciclando-edificios-10-projetos-de-reabilitacao-em-portugalEquipe ArchDaily Brasil
A pauta do reuso e da reciclagem no contexto da construção civil é de extrema relevância, sobretudo ao se considerar os montantes de produção de resíduo e consumo de energia envolvidos nos processos ligados ao canteiro de obras. Elementos construtivos forjados a partir da reelaboração da função de antigos objetos ou materiais, representam uma oportunidade objetiva de aderir às formas de pensar no reaproveitamento como caminho para um futuro mais sustentável e responsável.
Videos
Construcción de vivienda tipo en ladrillos de plástico reciclado. Image Cortesía de Conceptos Plásticos
Há treze anos o colombiano Fernando Llanos tentou construir sua própria casa na cidade de Cundinamarca, na Colômbia. Nesta ocasião se deu conta de que deslocar os materiais de Bogotá até sua cidade seria um grande problema. Depois de muitas idas e vindas, decidiu construir sua moradia com plástico, e após uma série de erros e acertos, conheceu o arquiteto Óscar Méndez que desenvolveu sua tese exatamente sobre esse tema, e com quem fundou a empresa Conceptos Plásticos.
O TRS Studio desenvolveu o projeto para uma habitação de baixo custo na região de Callao, no Peru. O módulo unifamiliar é baseado em um contêiner de carga e foi construído com materiais resistentes que envolvem baixo custo e baixo impacto ambiental. O projeto depende da participação da comunidade e visa melhorar a qualidade da saúde e da habitação no assentamento Pesquero II através de materiais e técnicas sustentáveis.
https://www.archdaily.com.br/br/917372/trs-studio-converte-conteiner-em-modulo-unifamiliar-economico-no-peruNiall Patrick Walsh
Uma startup brasileira chamada SysHaus, em parceria com o arquiteto Arthur Casas, desenvolveu o projeto de uma casa sustentável e inteligente que fica pronta na metade do tempo de obras comuns. O projeto da startup especializada em imóveis de alto padrão é feito somente com peças de materiais reciclados, como alumínio e MDF. Além disso, a casa não produz resíduos nem desperdício de água.
Há alguns anos nos Estados Unidos, pesquisadores estavam buscando maneiras de aplicar substâncias à base de urina sintética na fabricação de materiais de construção. Há milhares e milhares de quilômetros dali, na Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, a pesquisadora Suzanne Lambert acaba de apresentar uma pesquisa muito parecida, na qual descobriu um processo de desperdício zero para produzir tijolos à base de urina humana.
Quando se trata de sustentabilidade a Holanda está sempre inovando. A mais recente novidade vem de Zwolle, cidade que já ganhou várias vezes o título de mais verde. Por lá, está sendo testado um trecho de ciclovia construída com resíduos pós-consumo que seriam descartados ou incinerados.
O escritório Fahed + Architects desenvolveu um pavilhão temporário para o Abwab 2017, destaque da Dubai Design Week, que exibe designers talentosos de todo o Oriente Médio, norte da África e sul da Ásia.
Project.DWG e LOOS.FM divulgaram seu pavilhão PET, uma estrutura temporária em um parque comunitário na Holanda, que se concentra em questões de construção sustentável, reciclagem e desperdício, repensando as maneiras como os edifícios são desenvolvidos, construídos e usados. Especificamente, o pavilhão é um estudo do uso de resíduos plásticos como material de construção.