Seja devido à demolição total ou parcial de um edifício, seja para reforma ou adaptação de uma estrutura existente — em busca de sistemas de cobertura mais eficientes —, telhas de barro e cimento são materiais que muito frequentemente acabam virando entulho. Devido ao seu baixo custo de produção, telhas não costumam ser recicladas e reaproveitadas cotidianamente, menos ainda utilizadas para cumprir outra função que não a de cobertura. Felizmente, somando-se a uma crescente conscientização sobre os custos ambientais da produção de materiais para a construção civil, a cada dia mais, arquitetos e arquitetas têm se comprometido a reciclar e reaproveitar resíduos de antigas estruturas obsoletas, estabelecendo uma arquitetura responsável e inovadora. A seguir, elencamos alguns recentes projetos que apresentam soluções alternativas para a reciclagem e reincorporação de telhas na arquitetura contemporânea, seja em paredes, fachadas, elementos de proteção solar, pisos e até mobiliário.
Reciclagem de telhas: 15 exemplos de reuso na arquitetura contemporânea
Caçando relíquias: elementos arquitetônicos e materiais reutilizados em novas obras
Alguns pesquisadores definem que o início do Antropoceno se deu com a Revolução Industrial, outros com a explosão da bomba nuclear ou até no advento da agricultura. Isso ainda não é um consenso científico. Mas a noção de que as atividades humanas vêm gerando alterações com repercussão planetária, seja na temperatura da Terra, nos biomas e ecossistemas, é algo cada vez mais disseminado. O antropoceno seria uma nova era geológica marcada pelo impacto da ação humana no planeta Terra. Isso é particularmente perturbador se considerarmos que se toda a história da Terra fosse condensada em 24 horas, os humanos só apareceriam nos últimos 20 segundos. Seja na extração massiva de recursos naturais, liberação de carbono dos veículos e indústrias, é sabido que boa parte da culpa é da construção civil, sobretudo na produção de resíduos sólidos, por conta de desperdícios e demolições. No Brasil, por exemplo, os Resíduos da Construção Civil podem representar entre 50% e 70% da massa dos resíduos sólidos urbanos [1]. Muitos acabarão descartados irregularmente ou utilizados como aterros soterrados por tempo indeterminado.
“Os materiais estão sendo produzidos de acordo com uma demanda fictícia”: uma conversa com Irene Roca
O projeto “Appropriating the grid”, de Irene Roca, nasce das ruínas contemporâneas de nossos processos de construção atuais. A exploração dos resíduos gerados e das complexidades jurídicas da sua eliminação despertou na arquiteta um sentido de urgência e criatividade, resultando numa recolha que molda e reformula os resíduos da construção em objetos versáteis de design de interiores.
Um museu sobre o plástico, de plástico, e que será completamente reciclado
O plástico é um material incrível. O grande problema é a forma como estamos usando-o e descartando-o na natureza. Foi com essa ideia em mente que o Museu do Plástico foi criado, para mostrar o papel vital que o plástico desempenha nas nossas vidas, bem como as possibilidades que o seu reaproveitamento e reciclagem oferecem. Inaugurado em Madri no dia 8 de maio, não conterá apenas plástico, mas será construído inteiramente a partir desse material. Através das peças que se encontram no interior, como objetos essenciais para os cuidados de saúde, comunicação, construção, alimentação e mobilidade sustentável, o visitante poderá conhecer tudo o que o plástico nos proporciona quando é feito o seu uso correto.
Impressão 3D com termoplásticos cria um sistema de dobras que controla a temperatura da luz
O telhado da Euston Station em Londres é o cenário arquitetônico em grande escala para a aplicação virtual do sistema integral Metaplas, criado por alunos da Bartlett School of Architecture - UCL. Parte de uma investigação realizada no Research Cluster 8 (RC8) do programa de Mestrado em Design de Arquitetura, os alunos desenvolveram um sistema multimaterial impresso em 3D a partir de termoplásticos biodegradáveis e recicláveis. Assim, uma série de painéis planos tornam-se tridimensionais, criando um sistema estrutural com dobras geométricas que permite o controle passivo da temperatura de iluminação dos espaços interiores.
É possível reciclar e reaproveitar concreto?
Usado desde a era romana massivamente em construções das mais diversas escalas, é quase impossível pensar em uma edificação que não tenha ao menos um elemento em concreto. De fato, trata-se do material de construção mais utilizado no mundo, por sua versatilidade, resistência, facilidade de manuseio, valor acessível, estética, entre outros fatores. Ao mesmo tempo, sua manufatura também é um dos principais poluidores na atmosfera, sobretudo pelo fato de a indústria de cimento emitir por volta de 8% de todas as emissões mundiais de dióxido de carbono (CO2).
Reciclagem de bitucas de cigarro como matéria prima para tijolos leves
Alunos da Escola de Engenharia da Universidade RMIT publicaram recentemente um estudo experimentando uma nova forma de gerenciamento de resíduos e reciclagem. Como eles observaram em sua pesquisa, bitucas de cigarro são o item de lixo individual mais comumente descartado no mundo, com cerca de 5,7 trilhões tendo sido consumidos em todo o mundo em 2016. No entanto, os materiais das pontas de cigarro - particularmente seus filtros de acetato de celulose - podem ser extremamente prejudiciais ao meio ambiente devido à baixa biodegradabilidade. O estudo RMIT baseia-se em uma pesquisa anterior de Mohajerani et. al (2016) que experimentou adicionar pontas de cigarro descartadas a tijolos de argila para uso arquitetônico. Em sua pesquisa, os alunos da RMIT descobriram que tal medida reduziria o consumo de energia do processo de produção de tijolos e diminuiria a condutividade térmica dos mesmos, mas que outras questões, incluindo contaminação bacteriana, teriam que ser abordadas antes de uma implementação bem-sucedida. A seguir, exploramos essa pesquisa com mais detalhes, investigando sua relevância para a indústria da arquitetura e imaginando possíveis futuros de aplicação.
Materiais de demolição, uma nova vida através da reciclagem
Em muitos lugares do mundo, uma nuvem de poeira e detritos combinada com uma bola de demolição e uma escavadeira compõem uma imagem que, ainda hoje, tende a simbolizar sinais de progresso, inovação, atividade econômica e a esperança de um futuro melhor através da arquitetura e da indústria da construção civil.
Projetando com baixo custo: 6 instalações urbanas e pavilhões construídos com paletes reciclados
Comumente utilizados como suportes de armazenamento para mercadorias em estoques de supermercados e feiras livres, os paletes tem como característica a versatilidade, e após inutilização em sua função primária é cada vez mais comum sua reutilização para outros fins, sobretudo como matéria-prima para a criação de mobiliários e decks, colaborando ativamente para a diminuição da quantidade de resíduos descartados. No entanto, indo além dos tradicionais móveis comumente destacados em tutoriais DIY no youtube, estas estruturas vem ganhando espaço como principal materialidade na construção de arquiteturas efêmera, a exemplo de pequenos pavilhões e instalações urbanas, de modo que as peças de pequenas dimensões podem ser empilhadas e unidas umas às outras de maneiras e padrões diversos.
Adobe: o material reciclável mais sustentável
Pensando em mundo mais sustentável, no momento de construir são tomadas decisões a fim de gerar o menor impacto possível, e os materiais recicláveis contribuem muito para isso. Ao construir uma parede com materiais reaproveitáveis, pode-se pensar, por exemplo, em garrafas plásticas, e assim evitar seu descarte. Porém, existe uma técnica milenar utilizada em todo o mundo que é possivelmente o material mais sustentável: o adobe.
Preservar ou demolir: duas caras de uma mesma moeda
Desde o final do século XIX até os dias de hoje, a cidade de Nova Iorque se consolidou como o principal epicentro da construção de edifícios em altura ao redor do todo. Muitas destas estruturas, concebidas e projetadas pelos mais importantes personagens da história recente da arquitetura, rapidamente adquiriram o status de ícone, influenciando para sempre a forma como concebemos nossos edifícios e cidades. Ainda assim, muitos arranha-céus históricos da cidade de Nova Iorque acabaram sendo demolidos, dando lugar a estruturas cada vez mais altas e tecnológicas. Neste contexto, novidade e obsolescência parecem duas faces de uma mesma moeda. As recentes disputas e impasses ao redor de algumas das mais icônicas estruturas em altura já construídas na cidade de Nova Iorque, revela o quão rapidamente as coisas podem mudar de figura.
Materiais e técnicas construtivas tradicionais na arquitetura contemporânea chinesa
A arquitetura vernácula nasce da escassez, da restrição de materiais e recursos disponíveis assim como de barreiras físicas, geográficas e dificuldades para transportar matérias primas de um lugar para outro. Ela se adapta ao seu contexto, utilizando materiais locais e técnicas construtivas tradicionais. Como uma tendência sempre presente, muitos arquitetos ainda buscam inspiração no passado, e cada vez mais têm incorporado com sucesso materiais e técnicas construtivas locais em seus projetos. Este artigo pretende oferecer uma visão abrangente de como os materiais tradicionais, como tijolos e telhas de barro, pedras, bambu, estruturas de madeira e taipa estão sendo ressignificados em um movimento que talvez poderíamos chamar de “a nova arquitetura vernacular chinesa”.
Reuso criativo de portas e janelas em 10 projetos de arquitetura
Quando um material se torna obsoleto porque não cumpre mais sua função original adequadamente ou simplesmente é relegado para segundo plano por causa de reformas, ampliações ou demolições - somando-se à pilha de entulho que se transformará em desperdício - na grande maioria dos casos ele pode ser reparado, reutilizado e reciclado para recomeçar um novo ciclo de vida. Entretanto, com alguns elementos de construção, esta recuperação representa um desafio maior do que com outros, e sua reutilização pode nem sempre ser tão simples. No caso de portas e janelas, por exemplo, a demolição ou desmontagem deve ser muito mais cuidadosa se houver interesse em reciclar tais objetos, e algumas inspeções devem ser realizadas posteriormente para verificar o estado das peças e considerar possíveis custos de reforma. Também é verdade que este interesse em recuperar itens antigos nem sempre está presente, já que em muitos casos os proprietários priorizam o uso de peças novas e regulares que proporcionam uma certa uniformidade a todo o projeto.
Todos os plásticos são recicláveis? Conheça uma nova tecnologia que recupera rejeitos de plástico e vidro
Ao passo que nem todos os plásticos são reciclados, mesmo aqueles que exibem o sinal de reciclagem, o problema global causado por estes resíduos continua muito longe de ser resolvido. A reciclagem, geralmente determinada por fatores como demanda, legislação e economia, consome cerca de 20% da produção anual de plásticos, deixando uma grande quantidade não resolvida, destinada a durar para sempre em nosso ambiente. Além disso, ao competir com materiais recém-produzidos, os plásticos reciclados precisam atender aos padrões de qualidade e valor, bem como ser submetidos a uma transformação sustentável, eficiente e economicamente viável.
Reduzir, reutilizar e reciclar: o princípio dos 3 R's aplicado à arquitetura
Com o aumento dos níveis de emissão de poluentes ao longo dos anos, tem crescido também a preocupação sobre as ações que podem ser tomadas para minimizar os danos causados ao planeta. Como forma de promover a redução ou não-geração de resíduos, surge o princípio dos 3 R's: reduzir, reutilizar e reciclar. Estas ações, unidas à adoção de padrões de consumo sustentável, têm sido promovidas como forma de proteger os recursos naturais e minimizar o desperdício.