Você já parou para pensar que, praticamente todas as cidades do mundo, desde os primórdios da humanidade, foram e continuam sendo criadas e pensadas por homens? Do planejamento urbano ao desenho dos edifícios, dos transportes públicos às cadeiras – as mulheres pouco fizeram parte do processo de criação de tudo que nos rodeia.
Redesenhando as cidades para as mulheres
"Não é porque você tem recursos limitados que deve aceitar a mediocridade": entrevista com Francis Kéré, vencedor do Prêmio Pritzker 2022
A arquitetura africana tem recebido merecida atenção internacional na última década e um dos principais responsáveis por isso é, sem dúvida, Diébédo Francis Kéré. Natural de Gando, Burkina Faso, Kéré se formou em arquitetura na Technische Universität Berlin, Alemanha. Hoje, mantém filiais de seu escritório Kéré Architecture em ambos os países, com o qual busca desenvolver trabalhos na "intersecção da utopia com o pragmatismo", explorando a fronteira entre a arquitetura ocidental e a prática local.
"Urbanismo cidadão é um conceito que estamos promovendo a partir da América Latina": Lucía Nogales da Ocupa tu Calle
Lucía Nogales é a coordenadora geral da "Ocupa tu Calle" - uma iniciativa promovida por Lima Cómo Vamos e apoiada pela Fundação Avina e pela ONU Habitat - que se concentra no "urbanismo cidadão" na América Latina para cidades mais justas, inclusivas e resilientes.
7 Grandes transformações para solucionar a desigualdade urbana
Em Accra, capital de Gana, Owusu, a esposa e os quatro filhos dividem uma casa com outros cinco inquilinos e suas famílias no bairro de Tantra Hills. A casa possui um banheiro e energia elétrica, mas os custos de ambos são excessivamente altos. Como não é conectada à rede municipal de abastecimento de água, Owusu precisa comprar água de vendedores que cobram caro. A conta de luz, em torno de US$ 50 por mês, é mais alta do que o aluguel de US$ 33. Com uma renda mensal de US$ 175, Owusu vive com o medo de ser despejado caso haja aumento no preço do aluguel, da água ou da eletricidade.
Como as smart cities podem agravar a desigualdade
As metrópoles urbanas de nosso planeta são o lar de uma abundância de histórias. Elas são o lar de histórias de riqueza, de inovação e de maravilhas arquitetônicas, assim como de histórias de desigualdade, iniquidade e segregação urbana — lugares onde a renda determina a qualidade do ambiente espacial ao seu redor. Dentro destas histórias se desenvolveu uma crescente defesa para tornar as cidades "mais inteligentes", para usar dados e tecnologia digital para construir ambientes urbanos mais eficientes e convenientes.
A evolução da planta residencial nos EUA: o período pós-guerra
Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo buscava um recomeço e a população dos Estados Unidos, o lugar certo para viver o sonho americano. Passando por um amplo processo de desenvolvimento e crescimento populacional, porém com um estoque habitacional insuficiente, soluções rápidas e eficientes tiveram que ser inventadas da noite para o dia para poder suprir a paulatina demanda por moradia. Neste sentido, o surgimento de novas técnicas de construção e a popularização de materiais de construção industriais e pré-fabricados pareciam abrir caminho para um novo futuro mais digno e equitativo para todos.
Neurociência ambiental: um campo emergente para cidades mais equitativas
A neurociência ambiental é um campo emergente, dedicado ao estudo do impacto dos ambientes sociais e físicos, sobre os processos e comportamentos do cérebro. Desde várias oportunidades de interação social aos níveis de ruído, e acesso a áreas verdes, as características do meio urbano têm implicações importantes para os mecanismos neurais e o funcionamento do cérebro, influenciando assim nosso estado físico. O campo ilustra uma imagem diferente de como as cidades impactam nossa saúde e bem-estar, proporcionando assim uma nova camada científica de compreensão, que poderia ajudar arquitetos, urbanistas e tomadores de decisão a criar ambientes urbanos mais equitativos.
O custo da mudança climática: quem realmente está protegido pelos esforços de mitigação urbana?
O impacto que a crise climática teve no planeta na última década é uma influência crítica de como os arquitetos e urbanistas projetam as cidades do futuro. É claro que, tanto em nível individual quanto corporativo, é importante agir e proteger a Terra antes que os impactos negativos mudem nossos ambientes familiares para sempre - e o tempo esteja se esgotando rapidamente. Quando se trata de criar formas para salvar nossas cidades do “the next big one”, seja um furacão, enchente, nevasca ou incêndio, a maneira como projetamos a infraestrutura preventiva negligencia um número significativo de pessoas. A mudança climática não afeta apenas os lugares mais ricos do mundo, na verdade, tem efeitos maiores sobre os mais pobres.
Nossas cidades são construídas para os jovens?
As cidades em que vivemos hoje foram construídas com base em princípios concebidos há décadas, com a perspectiva de garantir que sejam habitáveis por todos. Ao longo da história, as cidades têm sido catalisadoras do crescimento econômico, servindo como pontos focais para negócios e migração. No entanto, na última década, especialmente durante os últimos dois anos, o mundo testemunhou reconfigurações drásticas na forma como as sociedades funcionam, vivem e se deslocam.
Relações de poder e desigualdade em mapas: uma análise urbana através da cartografia
A humanidade como a conhecemos hoje é resultado de séculos e mais séculos de fenômenos naturais e migratórios complexos responsáveis por forjar a aparência geográfica e humana do planeta no qual habitamos. Humanos são seres sensoriais, e como tais, se relacionam com o mundo através de suas experiências vividas, mas, além disso, há outra forma pela qual podemos compreender o mundo no qual vivemos, isto é, através da uma representação bidimensional inventada pelo homem—os mapas. A cartografia, muitas vezes, é utilizada para delinear fronteiras e estabelecer limites, e desta forma têm sido utilizada historicamente como uma ferramenta de opressão e segregação.
Como as cidades estão assumindo um papel central no combate à crise climática
Desde que o acordo de Paris foi firmado em 2015, minimizar os efeitos e consequências das mudanças climáticas em curso no planeta tem sido, pelo menos declarativamente, um objetivo comum em todo o mundo; no entanto, as ações que estão sendo tomadas variam amplamente de país para país. Pensando nisso, as principais grandes cidades do planeta decidiram se posicionar e partir para a ação ao invés de apenas esperar ordens de cima. Fato é que muitas das iniciativas levadas a cabo pelas administrações municipais e regionais acabam sendo neutralizadas pelo consequente aumento das emissões de carbono em outras regiões do país e do mundo. Além disso, é importante ressaltar que a vulnerabilidade e a capacidade de adaptação frente às consequências do agravamento da crise climática varia muito de lugar para lugar. Procurando esclarecer e discutir o conceito de desigualdade ambiental, este artigo chama a atenção para o fato de que a crise climática só pode ser combatida de maneira eficaz através de um esforço global conjunto, coordenado e transdisciplinar.
Vestígios urbanos do passado colonial: Dar es Salaam e Nairobi
Observando rapidamente o continente africano, encontraremos uma enorme diversidade de padrões de assentamentos humanos, variando desde pequenos ambientes urbanos, enclaves rurais até extensas metrópoles. Sobrevoando este vasto território, podemos concluir também que muitas cidades africanas estão trabalhando para superar a lacuna histórica que as separa do resto do mundo—embora essa “evolução”, na maioria dos casos, esteja apenas acentuando as desigualdades estruturais que permeiam este continente de norte a sul. E esta dinâmica não é uma novidade, pois a aparência de muitas das cidades africanas ainda hoje é resultado de uma longa história de opressão e segregação.
As mulheres e o canteiro de obras autogestionário
Muitas vezes despercebida ou desconsiderada, a desigualdade de gênero na arquitetura traz consequências tanto às mulheres e suas carreiras quanto aos espaços e produtos criados. Há, porém, um nicho de trabalho dentro da construção civil que contradiz essa lógica, propondo a criar um espaço de trabalho mais igualitário. Este texto propõe uma reflexão sobre essa desigualdade e como ela é desafiada pelas práticas autogestionárias.
Projeto interseccional: transformando a prática arquitetônica para o futuro
Um projeto de arquitetura nasce de nuances, da empatia para com os usuários e de uma compreensão profunda de seu contexto específico. Melhores soluções são aquelas que atendem tanto às necessidades e os anseios dos clientes quanto questões de contexto e identidade. Neste sentido, o projeto interseccional pode ser entendido como uma abordagem que leva em conta diversos fatores —de identidade, gênero, raça, sexualidade, classe e muitos mais — e como estes interagem entre si. Considerando isso, quanto melhor compreendermos as questões de relativas ao contexto específico e ao usuários para os quais projetamos nossos espaços, melhor serão nossos edifícios e, consequentemente, as cidades que estaremos construído para o futuro.
O que é equidade em arquitetura e design?
Segundo o dicionário, equidade significa “disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um” enfatizando a importância de se levar em consideração as diferenças dos indivíduos. Nesse sentido, a equidade representa um senso de justiça que determina o modo de agir em relação a cada pessoa, reconhecendo suas características e necessidades específicas. Usando uma analogia médica, equidade significa entender que todos precisam de atenção, mas não necessariamente dos mesmos cuidados. Vale ressaltar ainda que este termo é frequentemente confundido com a palavra igualdade, porém, difere-se dela justamente porque a igualdade é baseada no princípio da universalidade, perante o qual todos os indivíduos deveriam ser regidos pelas mesmas regras, sem possibilidade de adaptação.
De Chicago a Nápoles: o fracasso de dois grandes projetos de habitação social
A atual pandemia escancarou as muitas desigualdades enraizadas em nossa sociedade, especialmente no que se refere à distribuição extremamente desigual de recursos e infraestruturas públicas em territórios urbanos. Desde o início da corrente crise sanitária mundial, aqueles que podiam pagar, por exemplo, optaram por trocar a vida na cidade por suas confortáveis casas de final de semana em meio à natureza. No outro extremo, também testemunhamos como as pessoas mais pobres sofreram com a dificuldade de acesso à cidade, espaços públicos e áreas verdes—sendo forçados a continuar suas rotinas de trabalho e deslocamento apesar das muitas restrições e dos evidentes riscos de saúde pública. Para piorar, não podemos deixar de mencionar a questão do acesso (ou a falta de) à moradia digna e de que forma deveríamos abordá-la para responder aos muitos desafios do presente e do futuro.
A impossibilidade da equidade na arquitetura
“Equidade” é um termo tão amplo quanto fugaz, e isso também se extende para o campo da arquitetura. Embora muitos arquitetos e arquitetas reafirmem constantemente seu desejo por uma maior equidade em nossa disciplina, motivações não são suficientes para alcançar resultados na prática. Além disso, há uma série de problemas históricos que contribuem e muito para que esses anseios ainda pareçam muito distantes de serem alcançados.