As cores têm desempenhado um papel essencial na história da arquitetura moderna — desde a teoria da policromia de Le Corbusier até as concepções estéticas da Bauhaus. No entanto, estamos no início de uma era em que a interpretação e implementação das cores na arquitetura estão passando por uma mudança a partir de seu impacto no ambiente construído.
As cores são fundamentais para as dinâmicas e o cotidiano da vida urbana, mas seu impacto ultrapassa sua aparência e dimensão estética, sobretudo para as pessoas com algum tipo de comprometimento visual. Para essa parcela da população, as cores desempenham um papel ainda mais significativo, porém muitas vezes subestimado, na formação e aprimoramento da acessibilidade dos espaços públicos. A arquitetura tem um papel importante nessa inclusão, o que perpassa a escolha consciente de cores que tem o poder de melhorar a acessibilidade urbana e criar um ambiente mais inclusivo para as pessoas de todas as habilidades.
Embora o uso da cor possa ser utilizado para esconder ou disfarçar uma característica específica, também pode servir para destacá-las. Dentro do território latino-americano, podemos descobrir que em estruturas e fechamentos têm predominado tonalidades de vermelho, verde e azul no contexto de uma arquitetura residencial que pretende integrar uma linguagem adequada ao ambiente em que se insere.
O Mágico de Oz (dir. Victor Fleming, cinematografia Harold Rosson, 1939). Captura de tela
É sabido que as cores evocam sentimentos específicos, portanto são utilizadas para transmitir ou causar um ou outro efeito na superfície em que é aplicada, ou no observador que a contempla. Na arquitetura, a cor desempenha um papel fundamental na definição da forma. Materiais em seu estado natural já possuem uma coloração própria, que é percebida de uma certa maneira. No entanto, quando tingidos de alguma forma, a percepção do observador é alterada, levando a associações de sensações diferentes em relação ao mesmo objeto. Essa transformação na sensação devido à cor ocorre em qualquer meio visual, dos tridimensionais (como arquitetura), aos bidimensionais imóveis e móveis: gravuras, fotografias, pinturas e filmes.
Dentre as muitas marcas deixadas pela arquiteta Lina Bo Bardi na arquitetura brasileira está o uso da cor vermelha como elemento de destaque em suas obras. Seja trazendo leveza e vividez à dureza do concreto paulistano do Sesc Pompeia ou aquecendo a alvura do Solar do Unhão da Bahia, o vermelho transcendeu o status meramente visual e estético para tornar-se uma característica distintiva da arquiteta ítalo-brasileira, tecendo conexões entre muitas de suas obras.
As culturas das sociedades africanas estão intrinsecamente ligadas à cor. Em tecidos, roupas, produtos, esculturas e na arquitetura, diversas sociedades exploram cores ricas e vibrantes, expressivas e alegres. Com diferentes tons, matizes, contrastes, motivos e ornamentos, as cores são abraçadas como uma linguagem não falada, uma paleta para contar histórias e um senso de identidade cultural. Embora o uso da cor nas sociedades africanas possa parecer decorativo ao olhar ocidental, ele é extremamente simbólico, e traz profundo sentido de história. Comunidades usam as cores por meio de ornamentos e motivos, expressando-se com padrões religiosos e culturais nas fachadas para contar histórias familiares e coletivas.
Das construções vernaculares às tendências de interiores contemporâneas, os tons terrosos ajudam a criar ambientes acolhedores, orgânicos e harmoniosos, utilizando uma variedade de tons que lembram a terra, o barro, a areia, a pedra e outros elementos naturais. Assim, carregam em si uma sensação de conexão com a natureza. Essas cores podem ser encontradas em diversos materiais de construção, pinturas ou revestimentos, e permitem a criação de um jogo de texturas ímpar. A seguir, veja alguns projetos que podem servir de inspiração para pensar essas composições.
https://www.archdaily.com.br/br/1005535/como-utilizar-tons-terrosos-na-arquitetura-do-vernacular-ao-contemporaneoArchDaily Team
O uso do concreto pigmentado na arquitetura latino-americana está crescendo e influenciando a expressão arquitetônica contemporânea. Isso pode ser visto em construções recentes que vão desde o Centro de Inovação INES, projetado por Pezo von Ellrichshausen no Chile, até o Centro Cultural Comunitário Teotitlán del Valle, da PRODUCTORA, no México.
Nosso dia a dia envolve comunicação constante com a cidade. À medida que percorremos diferentes espaços, fazemos perguntas como “Onde estou agora?”, “Para onde vou?”, “O que procuro?”, “Para que serve este edifício?”. Embora os encontros nestes espaços possam parecer intuitivos, o design gráfico ambiental (EGD) fornece as respostas para estas perguntas, servindo como uma interface importante entre nós e o ambiente construído. Envolve o design de elementos gráficos que se fundem com projetos arquitetônicos, paisagísticos, urbanos e de interiores para tornar os espaços mais informativos, fáceis de navegar e memoráveis. O EDG consiste em três elementos principais: texto, forma e cor. Texto e formas normalmente transmitem as informações gráficas, mas as cores as projetam, amplificam e ajudam a comunicá-las na cidade. Nas experiências espaciais, percebemos primeiro as cores, uma vez que nossos sentidos registram principalmente sensações visuais. Portanto, o uso estratégico da cor é fundamental para que os gráficos ambientais proporcionem uma experiência completa de imagens de identidade, senso de lugar e conexão emocional.
Arquitetos e designers muitas vezes procuram maneiras de fazer com que as fachadas e superfícies internas dos edifícios se destaquem em meio a outros edifícios. Mas, às vezes, uma singela mudança pode ter um grande impacto quando você dá um passo para trás e compreende o todo. Ao empregar um padrão ilusório, como pixels pontilhados, pontos de meio-tom ou alterações sutis, mas intencionais, na posição ou orientação dos materiais, as superfícies planas podem ser transformadas em formas curvas e mutáveis.
As cores são muito mais do que apenas estética. Elas podem interferir nas sensações que um espaço transmite, como percebemos o ambiente e até mesmo em questões de conforto. Com tantos fatores que elas podem influenciar, utilizá-las não é uma tarefa fácil e, por isso, muitos arquitetos optam por manter o clássico branco, escalas de cinza ou ainda os materiais aparentes para evitar qualquer possível conflito visual. No entanto, algumas práticas de arquitetura ousam nas paletas escolhidas e geram obras únicas que se destacam exatamente pela forma que as cores ajudam a compor o projeto.
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A materialidade é um fator determinante para moldar o caráter e a experiência de um edifício. Brincando com as qualidades estéticas e táteis dos materiais, o processo de design abrange sua análise, seleção e arranjo para criar espaços com propósito e ricos sensorialmente. Juntamente com texturas e padrões, explorar a materialidade também envolve o estudo das possibilidades de cores. O papel versátil da cor nos materiais arquitetônicos se estende além da mera estética, pois pode ampliar oportunidades de design e influenciar respostas emocionais, funcionalidade, relevância cultural e desempenho ambiental.
A tonalidade das cores desempenha um papel importante no conforto térmico dos edifícios, influenciando a absorção, reflexão e emissão de energia térmica. Junto da análise do clima local, da orientação solar e das qualidades dos materiais de construção, é possível conceber uma abordagem integrada consoante as pinturas das superfícies que ajuda a economizar até mesmo na conta de luz. Saiba como essas variáveis podem ser combinadas para trabalhar as cores com o desempenho térmico do seu projeto.
Pantone 219C, ou rosa Barbie, é um tom rosa vibrante e brilhante, sinônimo da marca Barbie. Desde a criação da boneca em 1959, pela empresa Mattel, a boneca se associou a esse tom específico de rosa. À medida que a popularidade da Barbie crescia, a associação com a cor rosa também crescia. Com acessórios cor-de-rosa, casas cor-de-rosa, cortes de cabelo cor-de-rosa e embalagens cor-de-rosa, não há Barbie sem o rosa. Além disso, à medida que a boneca se tornava um ícone cultural popular, seu tom icônico de rosa começava a influenciar várias indústrias que não são de brinquedos, como moda, beleza e design de interiores.
No mundo do varejo, a concorrência é acirrada. As marcas buscam distinguir sua presença e criar conexões íntimas com os clientes. Em meio à variedade de produtos que oferecem, as marcas reconhecem o valor de ambientes imersivos que criam identificação e provocam os desejos dos consumidores. Nesse sentido, quando se trata de projetos comerciais, a cor é um poderoso instrumento que permite às marcas articular seus valores, evocar emoções e criar experiências de compra memoráveis na mente de seus clientes. A cor transforma as lojas em algo mais do que espaços para transações — ela faz do design de interiores uma ferramenta de marketing estratégica para atrair e manter os clientes.
Frente às urgências climáticas do planeta, campos diversos estão pressionados a reformular seus funcionamentos e atuações, e a arquitetura não está de fora. Afinal, o ambiente construído e a indústria da construção civil são responsáveis por uma porcentagem considerável da emissão de gás carbono na atmosfera. Repensar e reestruturar a cadeia construtiva – do projeto à execução – é a ordem do dia para os profissionais envolvidos com construção.
A arquitetura islâmica tem uma história diversa, que abrange mais de um milênio, e se estende do oeste da África à Europa e à Ásia Oriental. Com sua origem no início do século VII na Arábia, essa forma de arquitetura surge com a civilização islâmica. Al Masjid Al Nabawi, a primeira mesquita já construída, foi erguida em 622, em Medina, na Arábia Saudita. Além disso, a arquitetura islâmica foi inicialmente influenciada pelos estilos pré-existentes da região, com características romanas, bizantinas e persas.
Dado que os arquitetos da modernidade estavam em busca da pureza da forma, é razoável supor que a imagem desta arquitetura moderna seja quase inevitavelmente representada em branco no imaginário coletivo. Livre de decorações supérfluas, a arquitetura moderna passou a ser associada ao uso predominante de superfícies brancas para destacar a composição volumétrica. Combinada com o conceito de "verdade material" articulado pela primeira vez pelo crítico vitoriano John Ruskin, a arquitetura em cores brancas é frequentemente entendida como direta, clara e franca.