Dentre tantos temas urgentes no debate sobre gênero, há uma questão que merece destaque: a mobilidade das mulheres.
Caso você nunca tenha pensado sobre isso, pode parecer que a mobilidade urbana e seus condicionamentos relacionam-se a padrões de deslocamento que variam apenas de acordo com a territorialidade e a oferta de sistemas de transporte. Mas a verdade é que o acesso à cidade – a forma como navegamos no território – não é neutro quanto ao gênero.
https://www.archdaily.com.br/br/868899/porque-e-urgente-falarmos-de-mobilidade-e-generoITDP Brasil
Em 1996, um estudo icônico de Viena, na Áustria, explorou por que havia menos meninas (acima de nove anos) em parques públicos em comparação ao número de meninos. Os pesquisadores concluíram que os meninos eram mais seguros em seu uso do parque, e as meninas geralmente ficavam de fora nesta competição por espaço limitado. Após o estudo, em 1999, a cidade iniciou um projeto de redesenho do parque, e os resultados foram impressionantes. Ao adicionar mais caminhos de acesso e paisagismo para dividir grandes espaços abertos em seções menores, grupos de meninos e meninas foram capazes de criar zonas para si próprios sem competir. As moças da cidade voltaram para os parques.
Nas últimas duas décadas, Viena realizou mais de 60 projetos-piloto – em transporte público, moradias e trilhas – para incorporar a igualdade de acesso para homens e mulheres no design. Hoje, a integração da perspectiva de gênero é fundamental para a estratégia de planejamento de Viena.
https://www.archdaily.com.br/br/867799/a-importancia-de-incluir-a-igualdade-de-genero-no-planejamento-de-transportesJyot Chadha e Vishal Ramprasad
A luta das mulheres pelo reconhecimento de que sua contribuição para a sociedade não é apenas reprodutivo tem sido constante. De invisíveis e relegadas ao domínio do privado, hoje as mulheres tem passado a assumir novos papéis que antes lhes eram negados e os espaços ganhos, vão sendo modificados na maneira em que participam da vida da cidade.
No entanto, o excesso de burocracia, indolência e falta de vontade tem deixado as mudanças físicas da cidade em uma evidente defasagem, distanciadas das mudanças ideológicas, deixando-as, muitas vezes, no discurso do como deveria ser.
A Carta Europeia de Garantia dos Direitos Humanos na Cidade (Saint-Denis, 2000) estabelece a vontade de integrar o vínculo social de forma duradoura no espaço público partindo do princípio da igualdade, destinado a incrementar a consciência cidadã de todos os seus habitantes.
Neste contexto, as 146 organizações da sociedade civil que integram o Conselho de Planejamento Estratégico da Cidade de Buenos Aires acabam de aprovar uma nova iniciativa legislativa destinada a criação de itinerários turísticos, culturais e educativos que refletem a vida das mulheres e sua importância na história social e política.
Este último tópico contou com a contribuição de Silvana Rubino, cientista social e professora do IFCH da Unicamp, Paula Santoro, professora da FAU-USP e pesquisadora do tema, e Telmi Adame, estudante de Arquitetura e Urbanismo que articula o debate sobre gênero na Fenea, que compuseram a mesa Arquitetura e a questão de gênero: a mulher na arquitetura e na cidade.
Compartilhamos acima o vídeo dessa palestra, onde as participantes debatem essa questão relativamente recente na arquitetura - que em 2013 foi aquecida pela controversa recusa do Prêmio Pritzker em reconhecer retroativamente Denise Scott Brown como vencedora juntamente com Robert Venturi em 1991.