O estigma de arquitetura rudimentar somado aos ideais de tecnologia enquanto high tech relegam os saberes construtivos indígenas a um imaginário pré-histórico. Esse padrão, o qual aponta para uma direção inequívoca do progresso, revela a chamada colonialidade do saber, conceito do sociólogo peruano Aníbal Quijano que escancara o lado oculto da modernidade: produzir hierarquias entre povos, o que mantém a América Latina, em especial seus povos originários, como subalterna. Em outras palavras, tendemos a pensar que o conhecimento que representa o futuro é produzido em outras terras, localizadas no Norte Global.
Vernacular: O mais recente de arquitetura e notícia
Saberes construtivos indígenas revelam soluções para edificações contemporâneas
Casas brasileiras: 9 exemplos da arquitetura residencial vernacular
As expressões regionais da cultura de um país representam um dado significativo que ajuda a entender a relação do contexto e das condições específicas com as mais diversas formas de manifestação social. Essas nuances e singularidades dentro do âmbito da construção se traduzem no que pode ser entendido como arquitetura vernacular. Apesar de sempre ter existido, esse universo dos exemplares locais de arquitetura a partir de materiais, técnicas e soluções construtivas regionais veio a ser bastante estudado no Brasil na segunda metade do século XX, em um projeto de traçado da história arquitetônica nacional encabeçado por Lucio Costa.
Angola contemporânea: tecnologia e identidade em 4 obras de arquitetura
Angola, como muitos países da África, apresenta acelerado processo de urbanização. Um processo em grande medida desregulado que está conformando grandes cidades repletas de espaços que não atendem aos níveis mínimos de qualidade de vida para sua população. Não obstante, é notável a qualidade da arquitetura contemporânea produzida no segundo maior país de língua portuguesa, onde projetos de inspiração vernacular e forte identidade local coexistem com materiais e tecnologias atuais.
A seguir, reunimos quatro projetos contemporâneos construídos em Angola. Trata-se de uma pequena amostra da produção recente não apenas de Luanda, mas de localidades menores, que confirma a riqueza da arquitetura local - uma arquitetura que merece amplo reconhecimento internacional.
A cidade fantasma mais bela do mundo: vídeo aéreo registra a atmosfera de Houtouwan na China
Enquanto as sombras do passado pairam em torno do que restou das casas e das estradas, o cinegrafista Joe Nafis captou perfeitamente o raro charme da vila de pescadores abandonada de Houtouwan usando seu drone. De cima, pode-se apreciar a extensão da folhagem tapetes nas paredes, telhados e aberturas. Foi a promessa deste cenário improvável que levou Nafis a visitar a vila como parte de um ensaio de moda.
Como escolas na África podem se beneficiar com um projeto inteligente e vegetação abundante
Muitas crianças na África são obrigadas a suportar estudar em escolas com pouca ventilação, que podem superaquecer facilmente sob o sol africano. A proposta de WAYAiR para uma nova escola em Ulyankulu aborda a questão do clima e fornece uma "vila educacional" respeitando o patrimônio local e a identidade da cidade. WAYAiR é um grupo de educadores com ideias semelhantes que, nos últimos 25 anos, desenvolveram seu singular programa educacional em Poznan, na Polônia, usando uma abordagem baseada na arte e agora desejam compartilhar seus conhecimentos em todo o mundo.
Quando telhados tornam-se ruas: vila histórica de Masuleh, no Irã
Mais de mil metros acima do nível do mar nas encostas da serra de Alborz em Gilan, no norte do Irã, uma vila que remonta a 1006 DC agita-se com a vida. As estruturas castanho-ocre de Masuleh seguem o declive da montanha em que a vila se implanta - ou melhor, brota - dando à aldeia a sua qualidade mais incomum: os telhados de muitas casas se conectam diretamente ou formam parte da rua servindo às casas acima.
11 Técnicas vernaculares de construção que estão desaparecendo
"Arquitetura vernacular pode ser dito àquela linguagem arquitetônica das pessoas' com seus 'dialetos' étnicos, regionais e locais,'" escreve Paul Oliver, autor da Enciclopédia da Arquitetura Vernacular do Mundo’. Infelizmente, tem havido um crescente desprezo pela linguagem arquitetônica tradicional ao redor do mundo devido à modernas tecnologias construtivas que tem rapidamente espalhando a 'perda de identidade e apelo cultural' através do que a Architectural Review recentemente descreveu como "uma pandemia global de edifícios genéricos." As pessoas vieram para ver o aço, concreto e vidro como uma arquitetura de alta qualidade, enquanto o leque de métodos vernaculares incluem adobe, junco ou esfagno (tipo de musgo) que são frequentemente associados com subdesenvolvimento. Ironicamente, estes métodos locais são muito mais sustentáveis e contextualmente conscientes que muita arquitetura contemporânea vista hoje em dia, apesar do grande discurso sobre a importância da sustentabilidade. Como resultado desta tendência, uma grande quantidade de conhecimento cultural e arquitetônico está sendo perdida.
Construção de presépios em Burkina Faso: uma tradição natalina que ensina arquitetura às crianças
Em Burkina Faso, a fabricação de presépios natalinos é uma importante tradição que tem como protagonistas as crianças. Todos os anos elas formam equipes para construir estes modelos em grande escala, alcançando quase a própria altura, em uma espécie de competição sadia que estimula a criatividade através do desenho e construção colaborativa.
Como resposta a esta iniciativa, o espanhol Albert Faus liderou um grupo de arquitetos para criar o Kamba Zaka, um projeto que pretende levar este interesse arquitetônico um passo adiante. Em seus ateliês, os arquitetos não apenas ensinam conceitos relacionados à disciplina, mas também apresentam às crianças materiais e técnicas construtivas vernaculares para que elas possam valorizá-las e praticá-las em construções reais no futuro.
Saiba mais sobre esta incrível experiência, a seguir.
Série fotográfica registra a beleza de uma cidade chinesa abandonada
Vestígios de ocupação humana, formas esculpidas na paisagem, objetos em desuso e uma atmosfera que parece congelada no tempo - mórbidas ou sublimes, construções e ocupações abandonadas são objeto de fascinação e curiosidade de arquitetos e do público geral. Como mostram as fotografias da cidade abandonada na Ilha de Gouqi, China, feitas pela fotógrafa Jane Qing, há um raro tipo de beleza encontrado naquilo que foi deixado para trás.
Veja mais fotografias, a seguir.
Por que criei um banco de dados para documentar a arquitetura vernacular africana?
A arquitetura é um componente único da cultura de um país, tanto quanto a sua linguagem, música, arte, literatura ou culinária. A arquitetura é também o mais visual de tais componentes culturais; as pirâmides do Egito, arranha-céus em Nova Iorque, um templo no Japão, cúpulas na Rússia, tudo transmite uma imagem única. Isso é chamado de "genius loci", o "espírito de um lugar". Cada país tem seu próprio genius loci, sua própria singularidade. Arquitetura vernacular é composta por materiais locais, derivada de costumes locais, técnicas que foram passadas de geração em geração. Mas a arquitetura vernacular na maioria (se não em todos) dos países africanos está prestes a desaparecer, sendo substituída por materiais e técnicas ocidentais.
Light Matters: Aprendendo com janelas vernaculares
Antes dos computadores, simulações de iluminação natural eram usadas para otimizar a atmosfera e a energia nos edifícios, e gerações de construtores desenvolveram princípios simples para criar as melhores janelas para cada situação. Dois especialistas em iluminação estudaram essas tradicionais aberturas em edifícios visando encontrar inspiração para projetos atuais mais sustentáveis. Francesco Anselmo, designer de iluminação da Arup, e John Mardaljevic, professor de simulação de iluminação natural na School of Civil & Building Engineering da Loughborough University, analisaram as variações de sol e iluminação natural em latitudes que vão desde Estocolmo até o Haiti e Abu Dhabi.
Continue lendo para saber mais sobre a variedade de janelas tradicionais em cada região.
Arquitetura vernacular: casas Musgum, nos Camarões
Durante os últimos três séculos, a comunidade Musgum (ou Mousgoum) tem habitado as planícies da fronteira norte dos Camarões. Suas casas, chamadas em seu idioma de Tolek, foram conhecidas pelo ocidente na década de 1850, quando o explorador alemão Heinrich Barth viajou ao centro e norte da África.
As comunidades são compostas por até 15 cúpulas de terra compactada, cada uma com uma função diferente e determinada pela necessidade do grupo familiar. Apesar de não parecerem viáveis no tecnológico e "avançado" mundo de hoje, as casas Musgum nos apresentam um grande exemplo de arquitetura sustentável, simplesmente por cumprir perfeitamente sua "tarefa": sem adornos nem excessos, respondem com exatidão às necessidades de seus usuários e aproveitam ao máximo o principal material disponível na região.
O que podemos resgatar deste exemplo? Veja, a seguir, os desenhos, composição espacial e imagens deste exemplo de arquitetura vernacular.