Texto por Constanza Martínez Gaete via Plataforma Urbana. Tradução Archdaily Brasil.
Acredita-se que os bairros que tem uma mistura de usos de solo – comerciais, escritórios, e residenciais - apresentam uma série de benefícios. No entanto, há alguns anos, uma modificação no planejamento urbano buscou separar os usos do solo, colocando as áreas residenciais em um setor da cidade e as áreas comerciais em outro. Os bairros de uso misto, onde as pessoas podem caminhar mais, geram benefícios para a saúde de seus habitantes e fomentam a criação de comunidades mais ativas, com qualidade de vida superior.
O número de exemplos que buscam esta estratégia é cada vez maior e os planejadores podem acrescentar um argumento mais empírico para colocar estes planos em ação: o uso misto do solo parece reduzir também a criminalidade.
John McDonald, diretor do Departamento de Criminologia da Universidade da Pennsylvania, afirma que “as pessoas dizem que sentem isso intuitivamente”. Um bairro com condomínios, escritórios e restaurantes, provavelmente terá mais “olhos na rua” durante o dia. Esta vigilância coletiva aparentemente desestimula a criminalidade.
Contudo, em um novo estudo publicado pela Universidade da Pennsylvania Law Review, McDonald e os demais pesquisadores abordaram pela primeira vez os dados reais que existem por detrás desta visão. Foram examinados oito bairros com altas taxas de criminalidade em Los Angeles, agrupando as zonas comerciais e residenciais dos bairros que apresentam uso misto do solo.
Segundo os resultados, as áreas comerciais exclusivas tiveram os índices de criminalidade mais elevados – 45% mais alto – em comparação com áreas similares que incluíam residências. Os pesquisadores também observaram que os bairros mostram uma mudança de zoneamento quando unem as áreas comerciais com as áreas residenciais. Nos casos estudados, esta situação registrou baixa de 7% nos índices de criminalidade, o que se reflete na diminuição dos assaltos e roubos de carros.
Os pesquisadores não podem explicar porque estas tendências ocorrem, mas parece lógico que as pessoas tenham um sentimento de pertencimento mais forte ao bairro onde moram que em relação ao bairro onde trabalham ou vão fazer compras. Portanto, para que se aumente o sentimento de pertencimento e a sensação de que há mais “olhos na rua”, a pesquisa recomenda a construção de habitações nas áreas comerciais.
Os resultados sugerem que as leis de zoneamento devem ser utilizadas como ferramentas que ajudam na prevenção da criminalidade. Como ressalta McDonald, as leis de zoneamento são “menos custosas que a detenção encarceramento de pessoas”.
Freqüentemente, quando a polícia pensa no “desenho ambiental” para a prevenção de crimes, ela se detém em intervenções como a instalação de iluminação pública e câmeras de segurança. Este estudo sugere também que, junto ao planejamento urbano, deve-se pensar no uso do solo. McDonald reforça que “pensamos que se podemos ver alguma relação entre zoneamento – e também a mudança de zoneamento - e a criminalidade, então poderíamos estar um pouco mais próximos de entender a relação entre o espaço e o crime.”
Evidentemente, o contrário também está correto: os planejadores deveriam ter consciência de que decisões tão fundamentais, como o zoneamento de um bairro, também poderiam ter implicações na criminalidade.
Por fim, McDonald acrescenta que “já que existe uma expectativa geral de ‘como isto [o planejamento urbano] vai afetar o tráfego, os estacionamentos, a coleta de lixo... Porém, quase nunca existe um modelo sistemático que permita interferir nas decisões.Como isto vai se refletir nos índices de criminalidade?”