Pensar uma casa para padres usando exaustivamente as possibilidades do tijolo (paredes, estrutura, tetos). Facilitar condições para uma participação criativa dos operários no canteiro de obras. Revisitar velhas técnicas construtivas buscando novos espaços. Essas foram ideias que nortearam o projeto de Batatais
Como nos antigos conventos, a construção foi organizada ao redor de um jardim central, quadrado, com uma galeria – claustro - para onde se abrem os diversos espaços. Dois lados contêm os dormitórios, abóbadas de tijolo levantadas sem nenhuma fôrma ou cimbramento. Articulando esses dois lados estão a estrutura com as placas coletoras de energia solar e a torre de água. Dela partem duas paredes perpendiculares às abóbadas, separando quartos de banheiros que, como aquedutos, levam os encanamentos hidráulicos. Na terceira ala, as áreas de serviço, cozinha e refeitório têm abóbadas semicirculares construídas à velha maneira romana, com cambotas de madeira deslocadas ao longo das paredes. Quatro abóbadas cobrem o refeitório, organizadas como um “catavento” e se encontrando no centro, no pilar monolítico de granito.
O quarto lado, o da entrada, tem os espaços de estar e encontro, cilindros cobertos por cúpulas de tijolo construídas também sem o auxílio de fôrmas e com aberturas de iluminação zenital.Por essa ala se tem acesso à capela, único volume a invadir o espaço do jardim central, com sua parábola cerâmica contínua – chão, parede, teto – fechada nos dois lados por vitrais coloridos.
Na cobertura do claustro foi utilizada uma técnica quase esquecida: a construção de lajes planas feitas com tijolos de barro. Na galeria da entrada esse teto apoia-se em generosos arcos e abre-se para a luz através de vários rasgos zenitais circulares.
Foi intensa a participação do pessoal da obra na tomada de decisões de muitos elementos e operações da construção: desenhos variados na amarração dos tijolos, quase a assinatura de cada operário nas paredes, aprimoramento e transformação de técnicas, elaboração carinhosa dos detalhes. Assim, por exemplo, as chaminés “gaudianas” e as paredes de elementos vazados do mestre de obra; a cruz em rebaixo modulado de tijolos que surpreendeu a todos quando da desforma da capela: o detalhe que faltava na abóbada que cobre o altar.
Outras mãos inspiradas trabalharam madeira, ferro, pedra, vidro.
A “história como amiga”, no dizer de Louis Kahn, foi o tema gerador desses espaços.
* por Affonso Risi
- Ano: 1984