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Arquitetos: Julie D'Aubioul
- Área: 860 m²
- Ano: 2012
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Fotografias:Tim Van de Velde
CONCEITO
A envolvente do edifício ≠ da envolvente de isolamento: o espaço intermediário entre estas duas conchas é "coberto por espaço externo".
Este espaço intermediário permite/ obriga os habitantes a utilizá-lo de forma diferente em cada estação.
No verão e na primavera, o espaço intermediário é ocupado como espaço de vida (coberto de chuva) e no inverno, há apenas o "casulo" que precisa ser aquecido.
Este espaço externo coberto também permite um uso flexível no tempo, o que corresponde à uma maneira estar/ construir sustentável.
As unidades podem ser adicionadas, removidas ou reposicionadas para criar uma configuração diferente e utilizar melhor o espaço.
DESAFIOS
O espaço intermediário permite a utilização de materiais e detalhes construtivos de uma forma que não seria possível ao ar livre, em qualquer condição.
Em um edifício "normal" a fachada e o telhado devem proteger o espaço interno e isolar o externo contra o interno. Isto implica em uma certa modo de detalhamento construtivo.
Neste caso isto não acontece, o que torna muito interessando o projeto destes detalhes não convencionais.
Nós (meu namorado e eu) dividimos a fábrica de 800 m2 em duas partes: e o outro é o escritório.
- um lado onde nós construímos nossa casa.
- e o outro é a oficina.
É no interior desta oficina que fizemos as unidades como espaços temporários, entretanto, estamos construindo nossa casa definitiva. A indéia era de fazer um espaço habitável, porém, não tendo que determinar muito nossas possibilidades para qualquer uso futuro do escritório.
A iluminação nas unidades móveis vem através de placas de policarbonato da cobertura. Não há janelas nas paredes, para que quando você esteja dentro da unidade, pareça estar em um casulo. Possivelmente não dentro de uma fábrica... (Isso foi uma vantagem psicológica, porque quando você trabalha o dia todo no mesmo lugar ao fim do dia você quer relaxar, sem ver o mesmo ambiente o tempo todo...)
Ao contrário do escritório, fiz a oficina totalmente aberta e definitiva.
Possivelmente farei algumas adições no futuro quando meu escritório de arquitetura expandir.
HABITANTES CRIAM OPORTUNIDADES
Meu namorado e eu somos os habitantes.
Sua demanda específica por uma oficina (para trabalhar com motos e carros como atividade secundária) e meu desejo de escritório de arquitetura foram decisivos na procura do local.
Nós dois somos interessados em (antigas) arquiteturas industriais
Nossa escolha de construir nossa casa definitiva nós mesmo (projeto de longos prazos e fases), resultou no fato de que precisávamos de uma casa temporária.
No final de 2011, meu escritório foi a primeira coisa que adicionamos ao edifício. Em Maio de 2012 mudamos para uma residência temporária.
Quando compramos o galpão, a cobertura e as paredes externas estavam (algumas ainda estão) muito ruins. As paredes tem estão cheias de umidade e algumas estavam quase caindo aos pedaços.
Por este motivo optamos por fazer as habitações isoladas, independentes das paredes externas e da cobertura. Desta forma, as paredes externas tornam-se "muros" e os espaços recentemente adicionados podem ter conforto e convivência de um novo espaço moderno.
Isto nos permite eliminar a execução de todo o projeto.
DESCOBERTA
Em 2010, fomos capazes de comprar o edifício e terreno por um valor muito baixo.
Aos olhos do vendedor/ antigo dono, o edifício não teria nenhum valor. Ele nem queria nos mostrar o interior pois achava que não era relevante. Deveria ser demolido de qualquer maneira!
Meu namorado e eu imediatamente nos apaixonamos com os pilares de ferro fundido e os sheds da cobertura com orientação para o norte. O edifício data de 1880 e foi o edifício mais antigo que fez parte de uma fábrica têxtil, que empregava cerca de 2000 pessoas. Hoje em dia, um monte de belos outros edifício da fábrica foram demolidos.
Ficou claro para nós que, na primeira vez em que visitamos o espaço, nós trabalharíamos com o espaço e as características existentes.
MATERIAIS
Testemunha da rica história do edifício são as muitas inscrições de nomes e datas que encontramos nos pilares, treliças e vigas.
Esta é uma das razões pelas quais não queríamos derrubar todo o interior e dar-lhe uma nova cara.
Eu acho que o edifício deve ser habitável e adaptado aos padrões modernos de conforto, mas também deve mostrar sua verdadeira idade.
O contraste entre as novas partes e o antigo é muito interessante.
Para construir o espaço do meu escritório, usei vigas KERTO. Este é um produto escandinavo, feita de madeira compensada, que é usado como alternativa para vigas de madeira, por exemplo em pisos de madeira.
Usei-os de forma pouco convencional, em uma sequência de quadros invertidos em forma de U. Entre eles funcionam estantes e estão os painéis de vidros isolantes.
Observando o KRETO, parece que é realmente um material fino. Vê-los de lado, ele tem uma certa massa. Eu gosto de percepções diferentes dependendo do ângulo que se vê.
Os detalhes construtivos do KRETO combinado com junta fria (siliconada) o painel de vidro nunca seria possível/ durável em um ambiente externo. Este é um exemplo de um detalhe muito específico para este ambiente (protegido).
De um lado do escritório eu usei painéis de vidro "martelados"(com nervuras). Foi uma referência ao tipo de vidros da iluminação zenital existente. Eles admitem luz, mas fazem uma barreira visual entre a minha parte da oficina e a parte do meu namorado.
SUSTENTABILIDADE
O ponto de partida do projeto, a reutilização de um edifício antigo, é uma forma de pensamento sustentável.
Toda adição ao edifício existente pode ser removida no futuro, deixando o edifício e a estrutura existente ilesos.
Deixando alguns espaços abertos e indefinidos nos permite adaptar o edifício para alterações funcionais e idéias futuras.
Toda madeira que usamos nas novas adições tem selos reponsáveis.
COLABORAÇÃO
Eu gosto do fato de que o lado prático da construção teve grande influência sobre a forma e as dimensões das coisas. Nós mesmos construímos muita coisa, o que tem consequências práticas,
Construímos as unidades móveis de vida temporária em dois fins de semana.
Eu os projetei para uma construção simples, muito básica (sobre rodas). Foi fácil e rápido para construir.
Optei por criar essas unidades usando as dimensões padrões de uma placa de OBS. A vantagem de fazê-los assim era que não teríamos que ver as placas e não haveria qualquer resíduo de madeira.
Fizemos as paredes no chão, erguemos e prendemos em um piso de madeira sobre rodas. É como fazer uma casa de cartas de baralho.
A dimensão total das unidades também é determinada pela distância entre os pilares de ferro fundido da oficina. As unidades encaixam perfeitamente entre eles, para que possamos mudar quando quisermos.
Como qualquer outro projeto de arquitetura, os detalhes construtivos do escritório são o resultado de diversas pesquisas e consultas com o fornecedor e muitas experiências práticas.
Os painéis de vidro não poderiam ser muito maior que os que estão na frente do escritório, já que o empreiteiro tece que carregá-los com a mão.
LIÇÃO APRENDIDA
Eu tento dar a entender a "grande idéia" (de um espaço intermediário entre o interno e o externo) em todos os meus projetos, embora nem sempre tenha a área necessária para fazê-lo da maneira que fizemos aqui.
Estou convencida que um espaço intermediário entre o interior e o exterior pode ser uma premissa muito valiosa para a casa "tradicional", mesmo em um clima belga (chuvoso).
Este já é o caso de um monte de casas flamengas e suas "varandas" típicas, embora eu esteja convencida de que não possa haver solução mais valiosa que isso.
Por exemplo, os arquitetos Lacaton & Vassal utilizam esta idéia de espaço intermediário para criar uma arquitetura muito relevante que incide sobre o uso de uma casa de acordo com as estações do ano.