Arquitetos e estudantes de todo o mundo estavam ansiosos pelo lançamento de Archiculture - um documentário que oferece uma visão única sobre o aprendizado da arquitetura através da prática em ateliê pela ótica de cinco estudantes de arquitetura do Pratt Institute, no Brooklyn. O filme, dirigido e produzido por dois arquiteto que viraram cineastas Ian Harris e David Krantz de Arbuckle Industries, apresenta entrevistas exclusivas com profissionais, historiadores e educadores para ajudar a criar um diálogo crítico em torno das principais questões enfrentadas por esta metodologia de ensino exclusiva.
Ansiosos para aprender mais, nós nos sentamos com o diretor Ian Harris para uma entrevista exclusiva. Leia a entrevista e compartilhe suas opiniões após o intervalo.
O que o motivou a criar Archiculture?
Archiculture começou como uma ideia inicial na mente de David, que cresceu a partir de muitas noites de sextas-feiras despendidas discutindo o maravilhoso, porém louco mundo que ninguém além de arquitetos parece conhecer. Obcecado por documentários e principalmente por documentários de personagens, começamos a categorizar cada um dos personagens encontrados em ateliês. Ocorreu-nos que este poderia ser um filme incrível, e que com certeza alguém já havia feito isso antes. Acontece que ninguém ainda havia feito. Foi quase um ano mais tarde (2005) que começamos a levar a ideia mais a sério. Coincidentemente, nessa mesma época, nós participamos da empresa de produção Empty Kingdom Media em uma vernissage de abertura de uma exposição, e acabamos juntando uma equipe para aperfeiçoar o aprendizados sobre a arte e as técnicas de produção de filmes.
Como você disse, sua missão é examinar o aspecto atual e futuro do aprendizado de arquitetura baseado na prática em ateliê, e destacar os diversos debates sobre o impacto da arquitetura na nossa sociedade. Como esta missão consumiu cinco anos e meio de produção?
A ideia de Archiculture começou como um documentário longa metragem fundamentado nos personagens, onde alguns estudantes em vias de se graduar seriam acompanhados e poderiam compartilhar algumas ideias sobre a arquitetura contemporânea; uma espécie de mosaico sobre o que os estudantes estão fazendo e como aplicar isto em questões mais abrangentes que poderiam ser incorporadas pelos nossos ambientes construídos em gerações futuras.
Depois de filmar os alunos, percebemos que o material gravado não era interessante o bastante para prender a atenção de um público mais amplo (fora do campo da arquitetura). Tentamos então moldar o filme para que se tornasse um documentário temático que conectasse a experiência dos alunos à questões reais de sustentabilidade, psicologia ambiental e assim por diante. Após muitas tentativas de montagem, as questões tratadas estavam começando a aniquilar a narrativa dos alunos. Não estava dando certo.
Paramos um pouco e retomamos o foco nas estórias dos alunos, sem nos preocuparmos tanto com a duração do filme. Isto nos trouxe ao Archiculture, que acabou tendo 25 minutos, um curta metragem que discursa sobre o ambiente dos ateliês por uma série de mantes pensantes que apoiam, conflitam ou combatem com outras com a discussão sobre a educação arquitetonica e o ambiente do atelier como uma plataforma de aprendizado para a profissão.
Quem você imagina que seria a audiência para este filme? E porquê?
Nós imaginamos que nosso público alvo seja qualquer pessoa que estudou ou que ainda esteja envolvida com o ensino e aprendizado arquitetônico. Além desta audiência, imaginamos que o documentário atraia a atenção de todos os interessados em ingressar em uma escola de design ou arquitetura. Seria maravilhoso se Archiculture atingisse um público mais jovem, estudantes de ensino médio, e pudesse ajudá-los a ter uma ideia do que significa estudar arquitetura. Também imaginamos que o filme possa ser uma grande oportunidade para arquitetos e designers mostrarem a amigos e conhecidos o que é realmente um ateliê. Eu sei, por experiência própria, que minha família e amigos não têm ideia do que eu fico fazendo no ateliê.
Como alvo mais abrangente, imaginamos que este discurso sobre o ateliê pode tratar um tema mais amplo da questão da educação: colaboração e trabalho em equipe, juntamente a elaboração de uma crítica, deste modo a estrutura do ateliê pode agir como um exemplo para outras formas de ensino.
Por quê Pratt Institute e estes cinco alunos em particular?
Quando começamos a procurar por escolas, pesquisamos todas as Escolas de Arquitetura (B.Arch) do país. Tínhamos em mente um curso de graduação, já que, em geral, os mestrando são mais velhos, têm mais experiência e não são tão impressionáveis quanto os alunos mais jovens. Estávamos em busca da jovialidade que existe antes do contato com o mundo profissional.
Acabamos selecionando Pratt pois eles foram os que melhor acolheram o projeto e não quiseram controlá-lo. Eles, do Pratt Institute, a escola de arquitetura e Dean Tom Hanrahan realmente acreditaram no projeto e no que ele representa.
Quanto aos estudantes, cada um dos cinco apresenta um grupo diferente de características que a maioria das pessoas podem identificar em suas próprias experiências nos ateliês - Molie é a questionadora, Alanna a artista, Dionysios é o engraçado, Mike é o garoto "indie", e Giancarlo é o tipo de "cara legal" que costuma liderar as coisas. Além disso, estes cinco foram os que discorriam sobre nossos tópicos e os trabalhavam mais fisicamente no ateliê, por isso os escolhemos, sempre presentes nos estúdios, nos deram a oportunidade de filmar a transformação física/processo da modelagem dos projetos.
Como você acha que a experiência desses alunos selecionados e o conteúdo do filme será transmitido para a audiência internacional?
Sempre nos impressionamos com a quantidade de comentários e com o interesse de outros lugares; penso que isto se deve ao fato de que a experiência em ateliê transcende a linguagem e de que estes ambientes apresentam qualidades muito similares independentemente do local. Estar cercado por pessoas apaixonadas que acreditam no ambiente construído e que desejam melhorar aquilo que existe, buscando um bem maior, é uma premissa para o que estamos fazendo na escola de arquitetura e, portanto, pode ser transmitido através de todas as barreiras. Pela primeira vez, as pessoas terão a chance de adentrar neste mundo e ver para quê serve um ateliê. Penso que é por isso que atraímos tanto interesse internacional, que poderá gerar muitas discussões ao redor do mundo.
Durante o trailer, Phil Bernstein declarou: "Todo o tipo de modelo pedagógico [de ensino de arquitetura] gira em torno de criar a próxima geração de starchitects, que é na verdade um modelo falho." Você concorda? Como você vê o atual modelo de ensino de arquitetura, e como você proporia sua evolução?
Concordo até certo ponto que a grande parte do que experienciei em escolas de arquitetura se baseia no conceito do onipresente starchitect. Contudo, penso que este modelo está mudando devido, sobretudo, às mudanças econômicas e as pressões que surgiram com isso. Esta mudanças têm desafiado os arquitetos, especialmente os mais jovens, a reavaliarem seus valores e a repensar seu modo de projetar. A ideia do que é um projeto tem se afastado da imagem de tijolos e argamassa, em que o cliente vem até você, e indo mais em direção a um ambiente onde os arquitetos concebam um projeto que tenha algum significado para um determinado lugar que conheçam e compreendam. Penso que este é um modo extremamente poderoso e útil de transmitir as habilidades que aprendemos em ateliê para o mundo que nos cerca. Porém, não acho que estejamos sendo ensinados a prestar atenção como deveríamos, nem a desenvolver projetos como um "negócio", tampouco a envolver a comunidade.
O ateliê cria o starchitect se você pensar que está em um ambiente, projetando seu próprio projeto, sua própria visão, e se alienando do trabalho em equipe. Qualquer pessoa que trabalhe em qualquer carreira sabe que tudo se baseia em trabalho em equipe e comunicação. Por isso eu penso que esta visão é potencialmente falha.
Qual é o maior desafio a ser superado pelo ensino da arquitetura?
No final das contas, você está investindo uma enorme quantidade de tempo e dinheiro em sua educação, portanto, aumentar o valor do diploma, ou título, que você vai receber e garantir que os estudantes sejam competentes e capazes de sobreviver é um grande desafio. Com o aumento do número de estudantes de arquitetura, não há empregos o bastante para os recém formados. Então, passar por todo este processo de aprendizado e acumular tantos débitos e depois ingressar em uma carreira que é tão mal remunerada ilustra nosso valor como uma profissão.
O que você acredita ser a maior qualidade do ensino da arquitetura atrelado ao ateliê hoje em dia?
O que é único no ensino da arquitetura é que se trata de uma plataforma ágil e aberta de aprendizagem que se baseia na capacidade de debater ideias e rapidamente reforçá-las com artifícios visuais, de modo a comunicá-las efetivamente. Desenvolver esta habilidade é incrivelmente valioso e uma das nossas características mais fortes enquanto arquitetos.
Outro ponto importante é nossa habilidade de examinar um assunto em diversas escalas simultaneamente. Esta habilidade é extremamente relevante hoje em dia, especialmente em relação à questões socio- econômicas e de sustentabilidade.
Como seus estudos na Universidade de Cincinnati influenciou sua carreira de cineasta?
Estudar e trabalhar em arquitetura é muito parecido com compor um filme. A primeira coisa que se deve saber é que ambos tomam muito tempo. Levamos quase seis anos para produzir Archiculture. Além disso, como um arquiteto, você é um colaborador dentre muitos outros de outras disciplinas, e deve se apoiar no trabalho em equipe. Arquitetos e diretores de filmes são ambos generalistas. Assim como alguns se apoiam em seus engenheiros, outros se apoiam em seus coloristas, compositores, editores...que possuem outras habilidades necessárias para o todo.
Você vai retornar à prática "tradicional"? Se não, como você prevê seu papel na profissão da arquitetura?
Pergunte-me daqui há algumas semanas e a resposta provavelmente será outra. Eu não me vejo voltando à prática tradicional. Eu estou afastado do trabalho em escritório desde 2007, portanto, vendo por este ângulo, sou uma ferramenta velha e inútil. Eu nem cheguei a utilizar o Revit!
Eu deixei de trabalhar com a arquitetura para poder explorar o uso da câmera como um modo de debater sobre arquitetura com um número maior de pessoas. Muitos dos trabalhos realizados pela nossa produtora, Arbuckle Industries, são para arquitetos, mas eu estou interessado em utilizar a linguagem cinematográfica como um meio para começar a engajar mais pessoas que são de fora da comunidade arquitetônica. Precisamos de mais gente falando sobre o ambiente construído para que as pessoas percebam como ele afeta nossas vidas.
O que vem agora? Algum filme relacionado com arquitetura em mente?
Estamos atualmente pós-produzindo um documentário longa metragem chamado Girls Show, que mostra uma competição que começou com uma mensagem de igualdade feminina no atletismo e se tornou uma batalha épica entre duas equipes apresentando os desafios enfrentados hoje em dia pelas garotas no ensino médio, além de mostrar a dedicação intensa para transformar o Girls Show no maior evento de New Jersey.
Também estamos levantando fundos para um filme de abrangência mais ampla, um documentário temático chamado Built. Ele se estrutura essencialmente no tipo de filme de Food Inc., porém sobre o ambiente construído. Diferente de Urbanized, que é um filme belamente produzido por Gary Hustwit sobre o desenho de nossas cidades, queremos que Built atraia um público mais amplo para as estórias humanas daqueles que sofrem o impacto e os efeitos do nosso ambiente construído.
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