Por Constanza Martínez Gaete, via Plataforma Urbana. Tradução Archdaily Brasil.
Em 2050, sete de cada dez pessoas viverão em cidades, segundo estimativas das Nações Unidas. Como já é visível, a maior parte da população mundial se estabeleceu em áreas urbanas, salientando que certas regiões protagonizaram um crescimento demográfico explosivo nos últimos anos. Frente a isso, a consultora norte americana Demographia determinou quais são as dez cidades - com 10 milhões de habitantes ou mais - de crescimento mais rápido nos últimos anos onde.
Utilizando oito fontes entre as que se destacam dados de censos nacionais, medições anteriores realizadas pelas Nações Unidas e imagens de satélites que permitem estimar a população de certos locais, Demographia mediu o crescimento de 875 cidades com 500.000 habitantes ou mais, segundo sua população, superfície e densidade populacional.
Cabe mencionar que a grande maioria das dez cidades que lideram a lista se localiza em países em desenvolvimento. Porém, isso não quer dizer que se tornarão futuramente megacidades - compreendidas como zonas urbanas com mais de dez milhões de habitantes.
A seguir, o ranking.
Dez cidades que mais crescem no mundo
1. Karachi, Paquistão.
Acolhendo exatamente 20 milhões e 877 mil habitantes, segundo Demographia, esta cidade asiática aumentou sua população desde sua independência do Reino Unido em 1947. Após isto, conseguiu se posicionar como um novo polo industrial e econômico para o país. Tanta foi a atração que este fato gerou sobre os habitantes de cidades vizinhas que sua população protagonizou um crescimento de 80,5% nos últimos dez anos, de modo que o governo teve que planejar novas obras de infraestrutura que ajudassem a melhorar a qualidade de vida dos habitantes. Uma das mais representativas é o trem Karachi Circular Railway que consiste em reativar uma antiga linha férrea que data de 1964 e que parou de funcionar em 1999. Com isso, 38 km seriam conectados ao trem em uma data indeterminada, já que a Unidade de Transporte Urbano de Karachi espera que esteja pronta em 2017, enquanto a Agência de Cooperação Internacional Japonesa, que financiará parte do projeto, propõe que funcione apenas em 2022.
2. Shenzhen, China.
Reconhecida em 1980 como uma “zona de economia especial” onde é possível desenvolver um sistema econômico de livre mercado, seu atrativo levou um grande número de empresas a se instalar na cidade. Diante disso, Shenzhen passou de uma enseada de pescadores a um lugar mais diversificado marcado pelo crescimento econômico. Apesar de ser uma das cidades com menor número de habitantes dentro das dez que lideram a lista (cerca de 12 milhões), Shenzhen experimentou um crescimento populacional de 56,1% na última década.
3. Lagos, Nigéria.
O crescimento demográfico urbano que ocorreu na Nigéria se concentrou principalmente em Lagos, o principal centro econômico do país e um dos mais importantes do continente. Seu protagonismo se viu fortalecido pela instalação de grandes multinacionais ligadas ao petróleo, o que levou uma grande parcela da população rural a migrar para a cidade em busca de melhores oportunidades. Hoje em dia, em Lagos habitam 12 milhões e 90 mil pessoas, o que significa que nos últimos dez anos a cidade cresceu 48,2%.
4. Pequim, China.
O crescimento econômico mantido e os baixos índices de desemprego resultaram no fato de que a cada ano cerca de 600.000 pessoas se mudem para a cidade. Com este panorama, surgiram problemas externos, como poluição, congestionamentos como consequência do aumento do número de automóveis e uma limitação de recursos. Portanto seu prefeito, Wang Anshun, declarou que “nos esforçaremos para controlar a escala de Pequim através de medidas econômicas, legais e administrativas”. Acrescentou ainda que “a cidade não pode se expandir de maneira descontrolada”.
5. Bangkok, Tailandia.
Um relatório do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD) mostra que, diante do aumento da população na capital tailandesa, é necessário criar estratégias de desenvolvimento sustentável para enfrentar a poluição existente na cidade. Além disso, esta iniciativa deve se concretizar já que, nos próximos dez anos, 21 das 37 cidades mais povoadas do mundo estarão na Ásia. Apesar da cidade se localizar na costa e esteja, por isso, vulnerável a inundações, o perigo latente parece não desencantar os habitantes que a cada ano se instalam no local.
6. Daca, Bangladesh.
Apesar de Dhaka ser uma cidade com altos índices de delinquência e pobreza, poluição e congestionamento, os habitantes das zonas rurais se mudam para encontrar trabalho em uma das muitas fábricas têxteis. A proliferação dessas indústrias, somada a uma mão de obra barata, deram a Dhaka o reconhecimento internacional como o segundo exportador têxtil a nível mundial, atrás da China. Entretanto, esta indústria foi duramente criticada pelas condições de trabalho e pela falta de segurança a que os trabalhadores são submetidos.
7. Guangzhou e Foshan, China.
Localizadas a sudoeste do país e separadas entre si por apenas 20km, estas cidades serviram como alternativa às empresas de investimento estrangeiras que consideraram o preço da mão de obra em Hong Kong elevado. Além disso, como o governo chinês realizou em 1990 uma série de reformas tributárias, Guangzhou e Foshan assistiram não só seu desenvolvimento econômico, mas também um claro aumento de sua população que, segundo os dados de Demographia, chega aos 17 milhões e 681 mil habitantes. Esta última cifra é reflexo do crescimento em 43% que se deu na última década.
8. Xangai, China.
Nos anos 50 foi realizado um plano de descentralização que consistiu em que Xangai incluísse em seu tecido urbano várias cidades satélite e que as habitações dos trabalhadores se localizassem próximas aos locais de trabalho. Com essa última medida, a população se movimentou até Xangai, superando as expectativas dos especialistas e produzindo uma alta densidade populacional no centro da cidade. Atualmente, nesta cidade cosmopolita da China vivem mais de 21 milhões de pessoas, um aumento de 40% nos últimos dez anos.
9. Deli, India.
Os primeiros indícios de crescimento urbano explosivo em Deli remontam a 1947, quando o país se libertou do Reino Unido. Após este episódio as migrações aumentaram notoriamente e acabou por levar os indianos a condições de superlotação. De acordo com os resultados de Demographia, em Deli habitam 22 milhões e 826 mil pessoas que levaram a cidade a protagonizar um crescimento demográfico de 39,2%
10. Jakarta, Indonésia.
A poluição e um sistema problemático de transporte público são elementos cotidianos com os quais devem lidar os 26 milhões e 746 mil habitantes de residem em Jakarta, que na última década representaram um crescimento demográfico de 34,6%. Se somarmos a isso que entre dezembro e fevereiro a cidade deve enfrentar inundações, resultado de um crescimento urbano excessivo, percebe-se que o aumento da população não foi contido e nem bem gerenciado. Nas palavras de Hongioo Hahm, especialista em infraestruturas do Banco Mundial (BM) na Indonésia, “caso não sejam sanadas (as inundações), um terço da cidade estará sob a água em 2050, uma catástrofe que afetará milhões de pessoas”. Esta declaração tem relação direta com o crescimento econômico da cidade que levou as autoridades a conduzir grandes obras públicas como rodovias, centros comerciais e moradias que obstruem os percursos naturais e drenagem dos rios.
Diante dos resultados obtidos, uma das surpresas do ranking é ausência de cidades norte americanas e europeias entre as de maior crescimento, o que se contradiz com algumas das expectativas da consultoria.
A partir dos dados obtidos, New Geography conclui que “o crescimento mais acelerado se dá nos países que ainda contam com grandes zonas rurais interiores e com populações relativamente jovens. Estes lugares majoritariamente pobres – por exemplo Dhaka e Bangkok – continuarão crescendo pelo menos até que suas populações comecem a ver os resultados da diminuição das taxas de natalidade.”
Por sua vez, o Instituto Global McKinsey, através de sua aplicação “Urbano Mundial” que examina como os níveis populacionais e outros fatores vão mudar nas cidades em 2025, 440 grandes cidades das estudadas representam a metade do crescimento econômico do planeta para a mesma data.
O relatório completo de Demographia pode ser baixado neste link.