Perspectivas sobre Cidade do Cabo: Estratégias que ampliam desigualdades

Por Dr. Arq. Guillermo Tella, via Plataforma Urbana. Tradução Archdaily Brasil

Cape Town ou Cidade do Cabo é a capital da Província do Cabo Ocidental, na África do Sul. Em uma área de 2,5 mil quilômetros quadrados, possui 3,5 milhões de habitantes, com uma densidade de 1,4 mil hab/km². Sua administração governamental é de caráter metropolitano e nos últimos anos reduziu os índices de desemprego e de criminalidade, e aumentou sensivelmente seu PIB.

A área central de Cape Town é denominada “Central City” (Cidade Central). Em relação às atividades econômicas, é considerada uma cidade diversificada. Possui diferentes tipos de indústrias, uma atividade financeira crescente, direcionada aos serviços, ao turismo, ao lazer e à cultura. Também se destacam as atividades comerciais e a portuária, já que a cidade se encontra em uma rota marítima importante.

Seu desenvolvimento esteve historicamente ligado a seu porto, atualmente de grande porte e movimento de cargas. Em meados do século XX, sob o Apartheid, a cidade passou por mudanças significativas, com a demolição de bairros inteiros e a realocação de população. Desde a década de 1990, com a volta à democracia, a cidade passou a viver uma nova etapa de seu desenvolvimento. E a realização do Campeonato mundial de Futebol FIFA 2010 a posicionou competitivamente, com nova disposição de instalações e infraestrutura.

Expansão na periferia vs. adensamento no centro

Cape Town tendo sido uma das sedes anfitriãs de eventos relacionados à FIFA World Cup 2010 e experimentou nos últimos anos um boom na construção. A isso se soma a execução de novas residências de veraneio na periferia e uma atividade constante que contribui com a expansão da cidade metropolitana. Incorporou uma série de edifícios altos na área central, alguns dos quais superam 120 metros de altura.

Pela diversidade de atividades que caracteriza a economia da cidade, em Cape Town também são diversas as tipologias de construção dominantes. Na Cidade Central há uma forte demanda por escritórios pequenos – de boa localização, modernos e versáteis – assim como por grandes edifícios corporativos, como torres residenciais, hotéis e centros de convenções.

A maioria das empresas com sede na cidade são: companhias de seguros, comércios, editoriais, casas de design, moda, companhias de navegação, empresas petroquímicas, estúdios de arquitetura e agências de publicidade. Também se destacam, como um ramo da indústria de atividade crescente, as empresas de tecnologia da informação. Quanto às áreas residências nos subúrbios, predominam as habitações particulares com alta ocupação do solo e aparecem também conjuntos de apartamentos de poucos pavimentos.

Observa-se um processo de expansão nas extremidades e de adensamento no centro. Nos últimos vinte anos a cidade expandiu em 40% sua superfície urbana, com usos residenciais e densidades muito baixas. Simultaneamente, a Cidade Central atravessa processos de adensamento, com áreas de grande atração de investimentos privados. Entretanto, o maior desenvolvimento vem sendo produzido sobre a costa oeste, onde se localizam residências de setores de alta renda, enquanto as habitações para os setores baixos se encontram nas periferias do sudeste metropolitano.

A ocupação define uma expansão metropolitana

Embora a cidade de Cape Town se encontre dividida em distritos de planificação, os índices urbanísticos de ocupação máxima do solo são definidos por áreas correspondentes à Cidade Metropolitana. Na Cidade Central, a norma de zoneamento vigente (1990) define apenas os fatores morfológicos, os usos dominantes, a quantidade de pavimentos e altura máxima permitidas para cada uma das zonas delimitadas.

Por outro lado, o Cape Town Partnership é um organismo de articulação público-privada que tem o objetivo de desenvolver, promover e administrar a Cidade Central. Dentro do plano de desenvolvimento, propõe a subdivisão da cidade em vinte bairros, cada um dos quais possui características particulares que o definem com indicadores urbanos particulares.

Preparar Cape Town como uma das sedes do Campeonato Mundial de Futebol FIFA 2010 despertou na população uma mobilização intensa. A ideia era a de uma cidade em obras em função do evento esportivo, com gigantescos estádios, novos aeroportos, novos hotéis, grandes shoppings, criação de novas estradas e ampliação das existentes. Tal percepção girava em torno das oportunidades que gerava este tipo de espetáculo mundial para a integração social.

Igualmente, os novos equipamentos são considerados fatores de progresso e a indústria da construção como o motor para o desenvolvimento da cidade A partir da percepção pública, os temas demandados são: o turismo como gerador de crescimento, a necessária proteção do patrimônio, a reativação do mercado imobiliário, o desenvolvimento de habitação de densidade média, a construção como motor da cidade, e a participação como espaço para propor modificações.

Caminho a uma integração social e urbana

O Apartheid, de 1948 a 1990, foi uma política oficial de segregação implantada na África do Sul, marcada por um processo sistemático de discriminação política, econômica e social que legitimou crimes, torturas, perseguições e explorações por parte de uma minoria branca sobre a maioria negra. Escolas, hospitais, ônibus, praças, bairros e até cidades “brancas”, por exemplo, proibiam seu acesso aos negros, pessoas “de cor”, qualquer “não branco”.

Este modelo opressivo despertou fortes movimentos de resistência que, sob a mão de Nelson Mandela, conduziram ao fim do Apartheid, com as primeiras eleições livres, e iniciaram um processo de democratização e igualdade para todos os cidadãos. Os altos muros erguidos têm ainda uma forte expressão física que consolida processos de segregação forçada.

O Victoria & Alfred Waterfront constitui o centro turístico mais importante de Cape Town. O antigo porto da cidade é atualmente uma área gentrificada, com restaurantes étnicos, espaços de terraço, iates exuberantes, hotéis de luxo e lojas de departamento que recuperam uma arquitetura industrial oitocentista de qualidade para introduzir funções recreativas, culturais e comerciais.

As mansões fortificadas dos bairros ricos conotam um valor simbólico que aumenta as desigualdades. Muros intransponíveis, barreiras visuais, monitoramento e profissionais de segurança protegem as casas e tornam o espaço público urbano remanescente reduzido à circulação de veículos. Níveis extremos de precariedade podem ser observados ao percorrer os townships, assentamentos informais das periferias metropolitanas.

Os casos de Langa e de Eziko são testemunho de processos organizados de ocupação de terras comunais e levantamento de habitação em áreas desprovidas de qualquer serviço, sem a mínima infraestrutura. Hoje, depois de quase duas décadas de vigência constitucional dos direitos políticos, o grande desafio que a cidade enfrenta é - nada menos - do que o da integração.


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Sobre este autor
Cita: Romullo Baratto. "Perspectivas sobre Cidade do Cabo: Estratégias que ampliam desigualdades" 11 Jun 2013. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-119665/perspectivas-sobre-cidade-do-cabo-estrategias-que-ampliam-desigualdades> ISSN 0719-8906

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