Queremos apresentar esta semana em nossa seção Fotografia e Arquitetura o fotógrafo e arquiteto alemão Moritz Bernoully, cujas obras foram publicadas em revistas e livros internacionais, assim como figuram em diversas exposições na Cidade do México, Rotterdam e Tel Aviv.
Moritz Bernoully trabalha no México como fotógrafo independente e na realização de projetos de documentários. Em 2012 colaborou com o coletivo Citámbulos, o coletivo Somos Mexas e a revista holandesa Archis/Volume na realização do Workshop de Pesquisa Urbana "Fronteiras Invisíveis" e publicou uma série de fotografias no livro "A Grande Transformação da Cidade do México".
A seguir uma entrevista exclusiva e uma seleção de suas melhores imagens.
1. Quando e como começou a fotografar arquitetura?
Comecei com a fotografia de obras arquitetônicas há seis anos, inicialmente como parte do meu trabalho como arquiteto em Korteknie Stuhlmacher Architecten e posteriormente para outros clientes. Há quase dois anos me mudei para o México. Aproveitei esta oportunidade para fazer da fotografia meu principal ofício. Chegando a um país como estrangeiro com certeza teria sido mais fácil encontrar trabalho em um escritório de arquitetura, mas decidi arriscar e começar meu próprio negócio. O confronto com um mundo tão diferente do europeu facilitou minha decisão, fomentando uma inquietude e um desejo de documentar os espaços urbanos e a arquitetura do México.
2. É arquiteto?
Sim, estudei arquitetura na Alemanha e na Holanda, e sou formado pela Universidade Técnica de Delft. Depois da minha carreira trabalhei como arquiteto na Holanda por vários anos.
3.Por que gosta de fotografar arquitetura?
Trabalhei como arquiteto em todas as fases de projeto, desde desenho preliminar até a entrega de projetos construídos. No entanto, sentia que o trabalho do arquiteto terminava antes da fase mais interessante, o instante em que começa a vida própria do edifício: quando os usuários e as pessoas começam a deixar suas marcas no espaço. Logo, verifica-se a proposta arquitetônica em uma situação e entorno reais no momento de sua apropriação. Como fotógrafo de arquitetura posso transpassar este limite e produzir uma imagem mais completa da obra, uma imagem que vai além do mundo dos renders, desenhos e maquetes, e que inclui encontros mais espontâneos entre a obra, seu entorno e seus usuários. Lembro de uma conferência do escritório japonês Atelier Bow Wow onde a arquiteta Momoyo Kaijima apresentou um projeto seu através de um simples vídeo que os arquitetos haviam feito durante uma visita aos clientes em sua casa recém entregue. Havia movimento nas imagens, via-se pilhas de livros, um piano elétrico e móveis simples, mas para os arquitetos era mais importante o diálogo com os donos e a exploração da convivência entre a obra e o cliente. Este enfrentamento aberto com uma obra terminada, sem a necessidade de apresentar o edifício como criação brilhante e única da mente do arquiteto, me fascinou. Gosto de ir além com a fotografia arquitetônica, com seu uso como ferramenta para a documentação de um processo que forma parte da produção arquitetônica, em imagens de alta qualidade.
4. Arquiteto favorito?
Não acredito em amor incondicional por um arquiteto. Minha paixão por certos arquitetos surgem mais da visita e experiência pessoal de obras específicas.
5. Obra favorita?
Sem hierarquia e por experiência pessoal: o conjunto Lafayette Park de Ludwig Mies van der Rohe em Detroit, a casa em Muuratsalo de Alvar Aalto, a igreja Santa Ana de Rudolf Schwarz em Düren, a piscina em Leça de Palmeira de Alvaro Siza, o convento Sainte-Marie de la Tourette de Le Corbusier em Eveux, a Capilla de las Capuchinas de Luis Barragán, a biblioteca em Exeter de Louis Kahn, o estacionamento Temple Street de Paul Rudolph em New Haven, a Kunsthal de OMA/Rem Koolhaas em Rotterdam, a galeria Tate Modern de Herzog & de Meuron em Londres, as Termas em Vals de Peter Zumthor. E a lista continua crescendo.
6. Como trabalha? (independente? com revistas, arquitetos? viaja?)
Trabalho como fotógrafo independente. Mas minha atividade não termina com a documentação de projetos para clientes específicos e "por encomenda". Há sempre projetos pessoais em produção que me dão mais liberdade em relação ao conteúdo e a forma de documentação. Os projetos pessoais permitem que eu dedique minha curiosidade a espaços e edifícios que em muitos casos não são sequer planejados ou realizados por arquitetos. Atualmente estou trabalhando em um projeto documental sobre casas de classe média nas colônias Narvarte e Del Valle na Cidade do México. Estas casas me encantam, depois de muitos anos de convivência com seus donos, desenvolvem uma personalidade própria e começam a nos falar sobre seus habitantes, seu gosto, seu orgulho e seus medos; com histórias que se refletem nas intervenções das fachadas e nos jardins.
7. Quais equipamentos e softwares usa?
Trabalho com uma câmera Nikon D600 full frame com lente tilt/shift 24mm e outras lentes fixas. Para o tratamento dos arquivos digitais uso Adobe Photoshop e Adobe Lightroom.