Conhecido por seus livros e documentários para a televisão, que abordam a importância da filosofia em nosso cotidiano, Alain de Botton é o fundador da “Living Architecture,” uma companhia que aluga casas de férias projetadas por famosos escritórios de arquitetura como: MVRDV, NORD, Jarmund/Vigsnaes, David Kohn Architects e Peter Zumthor. Foi durante a produção do livro “A Arquitetura da Felicidade” que o filósofo suíço/britânico teve esta ideia. Ele também está sendo nomeado membro honorário do Royal Institute of British Architects, em reconhecimento aos seus serviços à arquitetura.
Hugo Oliveira: Arquitetos como Alison e Peter Smithson acreditam que podem transformar a vida das pessoas para melhor através da arquitetura. Este espécie de ingenuidade é importante?
Alain de Botton: A ambição dos Smithson é formidável. O problema é que arquitetos não podem mudar o mundo antes de se tornarem empreendedores. No momento, os melhores arquitetos são fantoches contratados para avivar os egos e os saldos bancários de grandes investidores imobiliários.
A atual crise expôs a existência de uma infinidade de edifícios que estão vazios. Empreendedores, construtores e arquitetos fazem parte disso. Você acha que, nas escolas de arquitetura, os estudantes deveriam ser ensinados a, primeiramente, não prejudicar?
Arquitetos são muito desentendidos de economia. Precisam aprender para compreender as finanças, como os desenvolvimentos imobiliários são financiados - e deste modo, estarão mais bem preparados para interpretar e, em alguns casos, ajudar a prevenir crises.
A obra de um arquiteto pode refletir sua moral e caráter da mesma forma que reflete outras de suas virtudes e habilidades técnicas?
Sim, há humanidade nos edifícios, assim como na música, na gastronomia, da moda e nas conversas. Parte de ser verdadeiramente um grande arquiteto é - de certo modo - ser uma boa pessoa. Isso é muito raro...
Por que você pensa que os arquitetos se sentem - há muito tempo - desconfortáveis ao falar sobre beleza?
Arquitetos geralmente se preocupam em ter que justificar aos seus clientes que projetaram um edifício de tal modo "porque é bonito". Isso os deixa muito propensos a serem atacados. Então, eles falam de qualquer outra coisa que não seja a "beleza". Precisam recuperar sua confiança. É melhor ser franco sobre os interesses neste campo.
Você concorda com Dennis Dutton quando diz que a beleza não está nos olhos de quem vê, mas "está no fundo de nossas mentes. É uma dádiva transmitida pela rica e sábia existência emocional de nossos mais antigos ancestrais"?
Sim, beleza é objetiva, não subjetiva. Todo mundo concorda que Veneza é atraente, ninguém pensa que Frankfurt é. Chega de relativismo, que apenas dá aos investidores imobiliários uma desculpa para dizer que "vale tudo" - e aí, nós acabamos em Dubai...
Esta entrevista foi originalmente publicada em Hugo's Peep Box.