Desde que o Barão Georges-Eugène Haussmann iniciou o redesenho do centro de Paris em meados do século XIX, o Plano Hausmann tem sido assunto de discussão entre arquitetos, planejadores e teóricos sociais. A rede de amplos boulevares abertos, ladeados por edifícios neoclássicos regulares (e regulamentados) já foi louvada e criticada ao longo dos anos, e hoje é uma das principais características que fazem de Paris uma cidade bela.
Recentemente, porém, uma nova onda de acadêmicos iniciaram uma discussão para oferecer uma nova abordagem de interpretação dos Planos de Haussmann: um grupo de físicos matemáticos do Instituto CEA de Teoria Física Gif-sur-Yvette tem colaborado com um grupo de cientistas sociais para analisar as mudanças do Plano Haussmann utilizando sofisticadas teorias, de acordo com reportagem de BBC Worldwide.
Leia mais sobre as descobertas de seus estudos na continuação.
Utilizando mapas históricos de 1789, 1826, 1836, 1888, 1999 e 2010, o estudo utilizou duas abordagens principais para quantificar as mudanças feitas na rede de ruas da cidade de Paris: a primeira foi simplesmente analisar o número e comprimento das ruas e o número de nós (entroncamentos, intersecções e praças públicas). A segunda foi utilizar uma teoria conhecida como "centralidade de intermediação", que estabelece o quão importante é cada nó dentro da rede.
O estudo concluiu que em termos de uma rede geral, o Plano Haussmann talvez não foi tão impactante como se pensava, à medida que o número de nós e ruas 'apenas' teve um crescimento alinhado com o da população, e a média da centralidade de intermediação dos nós se manteve a mesma. O artigo da BBC conclui:
"Nesse crescimento é refletido por um aumento acentuado na população da cidade, sugerindo que foi este fator, ao invés do planejamento em si, que levou aos aumentos: eles poderiam ter acontecido de qualquer maneira, embora não necessariamente da mesma forma."
No entanto, essa atitude parece ser uma má interpretação do que é um bom planejamento, e a outra conclusão do estudo coloca isto em evidência: enquanto a média da centralidade dos intervalos dos nós se manteve nivelada, o estudo descobriu que os nós mais importantes na rede se tornaram muito mais espalhados. Portanto, enquanto que antes do Plano Haussmann, quase todos os trajetos em Paris passavam através do centro da cidade, após as mudanças, foi muito mais fácil ir de um lado a outro da cidade sem aumentar o congestionado no seu centro. Uma simples redistribuição é, frequentemente, a característica de um bom planejamento, e foi assim que o Plano Haussmann deixou sua marca.
Portanto, ao invés de ter simplesmente acontecido simultaneamente à explosão demográfica em Paris, o Plano Haussmann teve um papel fundamental no direcionamento desse crescimento, ao passo que facilitou as viagens ao redor da cidade e tornou a vida fora do centro uma opção mais viável para os novos moradores.
O Plano Haussmann se iniciou em reação às condições de habitabilidade em Paris no século XIX, em que as ruas eram esquálidas e as doenças comuns. A largura dos bulevares e praças tinham como objetivo "permitir a circulação do ar e dos homens", portanto, diminuir a contaminação de doenças. Esse novo estudo demonstra que nesse aspecto, o Plano Haussmann parece ter sido um grande sucesso.
Mas isto, de maneira alguma, pretende terminar a discussão sobre o sucesso do plano como um todo. Os efeitos do completo remodelamento de uma cidade vão além do âmbito desse estudo; seja se este envolve a frequente ideia de que estas largas e retas avenidas eram um meio dissimulado de suprimir as revoluções que definiram o século anterior da história francesa, ou o fato de que a redistribuição gerada pelo plano parece ter causado a segregação entre ricos e pobres.
A abordagem matemática para essa questão oferece uma perspectiva interessante, mas não finaliza a discussão deste assunto tão fascinante.