A equipe ArchDaily teve a oportunidade de falar com o arquiteto português vencedor do Prêmio Pritzker Eduardo Souto de Moura, no momento que (juntamente com a Autoridade do Metrô do Porto) recebeu o Prêmio Veronica Rudge Green de Desenho Urbano na Graduate School of Design da Universidade de Harvard, no início deste mês. Seu projeto para o sistema de metrô da cidade do Porto recebeu grandes elogios do júri, cujo membro Rahul Mehrotra explicou que o projeto "mostra generosidade com a esfera pública, incomum nos projetos de infraestrutura contemporâneos." Após receber o prêmio, o diretor da Porto Metro agradeceu a Souto de Moura por seus esforços nesta "revolução urbana" e citou Porto como um destino onde as pessoas procuram com entusiasmo pela arquitetura de Souto de Moura e seu amigo, o arquiteto Alvaro Siza.
O Prêmio Veronica Rudge Green, em sua 11ª edição, também foi concedido ao Projeto de Integração Urbana Nordeste em Medellín, Colômbia. Uma exposição na Graduate School of Design, em cartaz até 13 de outubro, celebra as ideias, táticas e estratégias destes projetos.
Souto de Moura passou algum tempo conosco descrevendo os desafios e recompensas de se trabalhar no projeto das 60 novas estações de metrô construídas em apenas 10 anos no sensível tecido urbano da cidade do Porto, Patrimônio Mundial da UNESCO.
ArchDaily: Qual a sua opinião sobre prêmios de arquitetura?
Não serei modesto, gosto de dar minha opinião sobre isto porque a profissão está tão difícil que é complicado desempenhar o trabalho com qualidade. Então, quando se é premiado, é como se fosse uma confirmação dos seus esforços. Mas, por outro lado, um projeto não é uma ação individual, mas coletiva. Quando há um prêmio, a imprensa e as pessoas - os "anônimos" - vão ver o projeto e falam sobre ele, criticam-no. Penso que isso é um incentivo a continuar a profissão. E cada vez é mais difícil.
ArchDaily: Como foi trabalhar em um projeto de escala tão grande como este - um projeto com tantas partes interessadas? Você prefere este tipo de projeto aos menores?
Eu prefiro os projetos maiores. São mais desafiadores, mas este era um projeto muito complexo e técnico. Não era fácil para um arquiteto impor suas ideias, porque haviam muitos engenheiros e uma parte técnica muito complicada. Além disso, haviam grandes limitações financeiras. A concepção do projeto não envolveu desenho algum; era apenas coordenar para que eu me conquistasse respeito durante o processo. Eles disseram: "Você, como arquiteto, apenas escolherá as cores dos ladrilhos." Aos poucos eles descobriram a importância da arquitetura não como especialista em algo, mas como coordenadora das outras especialidades. Foi uma experiência incrível, pois estávamos trabalhando em 70 km na escala 1:1. Estávamos cortando montanhas, mas fazíamos isso sabendo que estávamos transformando o mundo para melhor, levando infraestrutura para um milhão de pessoas que usam o sistema todos os dias no Porto, para as quais a vida é agora mais fácil - e sendo mais fácil as pessoas são mais felizes. Isto serve de consolação para o trabalho. Este é um projeto que reconheci como uma arte social. Não é uma arte autônoma como a música ou a pintura; é uma arte social. Se é que é uma arte, não estou muito certo disso. Esta é uma discussão a qual sempre retorno. Siza diz que é arte, eu digo que não - eu não sei. Tenho minhas dúvidas.
ArchDaily: Ao fim do processo, você acha que os engenheiros e outros especialistas que trabalharam no projeto começaram a respeitar mais a arquitetura?
Existe essa ideia de que engenheiros e arquitetos não se dão bem. Isto é um erro, pois não é possível fazer arquitetura sem engenheiros, e o inverso também é verdadeiro. Então, os engenheiros, ao menos na minha abordagem da arquitetura, me ajudam muito - com a simplicidade da estrutura, para que não haja material desnecessário, ou seja, "tirar as gorduras", e os engenheiros sabem fazer isto muito bem. Este é um esforço de simplificação e conquista da inteligência das coisas. Nisto os engenheiros ajudam muito.