Quando participou da 25a Bienal de São Paulo, em 2002, o artista alemão Michael Wesely conheceu Brasília e se encantou pela cidade. Admirado diante de sua magnitude e elegância, perguntou pelos livros que documentariam essa experiência tão rica quanto recente – a cidade tem apenas 53 anos. E, surpreso diante da inexistência de tais documentos, como um Fitzcarraldo desembarcando em terras amazônicas, lançou-se à tarefa árdua de pesquisar e recuperar um imenso acervo de fotografias da construção da cidade, bem como de sua vida nos primeiros anos. A artista brasileira Lina Kim aderiu com paixão a essa missão histórica, e os dois juntos levantaram em torno de 200 mil fotos, restaurando meticulosamente a seleção que fizeram desse material. O resultado foi publicado pela editora Cosac Naify em 2010.
Por que vemos Brasília quase sempre em fotos desbotadas e em preto e branco se ela foi construída ontem? O Brasil é um país que não cultiva a memória, mesmo a mais recente. E, se estamos “condenados ao moderno”, como afirmou Mário Pedrosa, a própria modernidade cai no esquecimento à medida que se torna passado. É justamente contra essa tendência cultural entrópica e displicente que esse arquivo se levanta. Brasília é uma experiência-limite da modernidade, que não cessa de receber agressões e ameaças de descaracterização.
Ao longo desse ensaio visual, percorremos passo a passo a bela e violenta aventura da modernidade no Brasil: as árvores retorcidas do sertão, como à espera de seu sacrifício ritual, as veredas e as cachoeiras ainda virgens, a comitiva de Juscelino Kubitschek visitando a área, os índios e os candangos misturados, a poeira vermelha nos horizontes infinitos e nas grandes obras de terraplenagem, os cavalos, os tratores e os aviões, as formas modernas nascendo no meio do cerrado e seu contraste com os casebres de madeira feitos para alojar os trabalhadores, a dominância dos chapéus de aba larga em vez dos capacetes – essas e muitas outras imagens contam de modo pungente a saga de Brasília, atualizando-a diante de nós. Como reavaliar nosso legado moderno depois da morte de Lucio Costa e de Oscar Niemeyer? Já estamos em condições de superar a metáfora da condenação, tornando essa herança mais presente e, ao mesmo tempo, menos mítica. A exposição se completa com poderosas fotos atuais da dupla Kim-Wesely, captando a cidade em imagens de longa exposição (12 horas).
14/10/13
19h – Mesa redonda “Modos de ser moderno”
Participantes: Lina Kim e Michael Wesely
Mediação: Guilherme Wisnik
Local: Centro Universitário Maria Antônia
Rua Maria Antônia, 294, Consolação - São Paulo - SP, 01222-010 - (11) 3123-5200