Todas as imagens são do fotógrafo Richard John Seymour, que capturou o edifício de Rem Koolhaas recém finalizado De Rotterdam em uma manhã nebulosa.
Na abertura do edifício recém construído De Rotterdam em sua cidade natal, Rem Koolhaas falou sobre como esta "cidade vertical" foi projetada para parecer sem escala, apesar de seu contexto urbano. Mais sobre o que Koolhaas disse sobre o projeto e a cidade a seguir.
Transcrição editada via Dezeen:
"O principal a ser entendido sobre Rotterdam é que foi uma cidade destruída no começo da guerra, sendo assim uma cidade muito interessante. A cidade foi quase completamente destruída e apenas alguns edifícios restaram. Claro que tinha que ser reconstruída, e por isso é um assunto interessante para arquitetos trabalharem. Não é coincidência que a grande maioria dos arquitetos da Holanda viva lá".
"Mas, é claro, não somos a primeira leva de arquitetos, somos a sétima onda a operar aqui. A primeira onda foi um grupo muito heroico, modernistas durões que basicamente construíam lajes em todos os lugares. Nos anos 1960, a cidade estava novamente em pé e tinha um centro muito estruturado. O centro era em grande parte de lajes planas, com alguns edifícios de departamentos e alguma rede comercial conectada. Quando eu era criança, Rotterdam era uma espécie de exemplo global, então havia muitas excursões de países em desenvolvimento para ver como seria o futuro".
"Durante os anos 1970, as pessoas questionavam a modernidade e queriam algo mais interessante. Tudo se tornou muito pequeno e humanístico, e a nostalgia passou a ter um grande papel. Aquele período veio e foi, e naquele ponto toda a atividade portuária começou a ser retirada e a se mover cada vez mais para o mar".
"Nos anos 1980 e 90 a cidade não tinha mais um porto agitado, mas depósitos vazios; tornou-se uma espécie de cidade fantasma. Então a razão do edifício De Rotterdam estar onde está é apenas porque se tornou importante para a cidade projetar a próxima fase de sua existência e desfazer a cidade fantasma".
"Um plano foi lançado no final dos anos 80 para mudar o sul (da cidade) para o outro lado do rio e foi desenvolvido com o tempo. É complicado em termos de escala e preparação do solo, mas pela primeira vez, há uma especie de massa crítica lá para justificar esta noção de que a cidade poderia ter este lado sul".
"Então esta não é apenas uma ambição arquitetônica, mas parte de uma ambição da cidade. Eu pessoalmente acho muito importante que as ambições não mudem a cada quatro anos, quando regimes políticos mudam ou quando a moda muda. É importante manter um grau de consistência no urbanismo".
"Eu posso contar uma estranha anedota. No final dos anos 70 em Amsterdam havia uma espécie de projeto notório baseado em hexágonos, chamado Bijlmermeer [um conjunto habitacional em Amsterdam]. No final dos anos 90, as pessoas começaram a criticar as condições desumanas de lá. Então um Isreali 747 bateu e uma das lajes e lentamente as pessoas começaram a demolir e substituir por habitações convencionais. Agora temos uma situação em que casas convencionais estão se tornando impopulares, e para preservação e patrimônio cultural alguns desses tipos de estruturas estão sendo ressuscitadas. Isso realmente mostra o ciclo do descrédito. O crédito é tão rápido que se você segui-lo, simplesmente não pode mais construir uma cidade".
"Assim o que fizemos com o De Rotterdam, começamos no final dos anos 90. É um edifício para desenvolvedores, como no final dos anos 90 o setor público simplesmente não tinha fundos para construir este tipo de visão, colaboramos com o setor privado".
"Originalmente começamos com dois locais e em ambos era para ser uma torre. Quando começamos, pensamos que este grau de separação levaria a uma condição urbana muito fragmentada, então nossa ideia era ter uma base que combinasse estas duas operações".
"Sempre foi claro que seria habitação, escritórios e um hotel, e todas as instalações, mas nunca ficou muito claro que proporção cada elemento teria. Pensamos que flexibilidade era importante para o projeto. No final, o que fizemos foi desenvolvido em um sistema onde cada um destes elementos poderia ser trocado, modificado e substituído por qualquer um dos outros elementos. Então de certa forma é um diagrama que mostra, mais ou menos, flexibilidade infinita em termos de programa".
"O edifício sempre foi buscado de acordo com um única rota ou única jornada porque - e isto é belo - está do outro lado do rio. A única maneira de chegar lá é uma única ponte. Isto significa que a maneira que o edifício é buscado é previsível, e portanto o projeto em si pode explorá-la. Assim, de longe parece uma massa única, mas quando você chega perto percebe sua transparência, e se chega ainda mais perto se torna uma forma oblíqua".
"O efeito geral que tentamos obter é que se você se move em direção a diferentes partes da cidade, o edifício também sugere uma nova identidade ou diferentes identidades. Acho chato quando um único edifício é o mesmo de todos os ângulos. Isto é quase inevitável para um arranha céu. Mas este edifício não é o mesmo de todos os ângulos, e talvez este seja o caso ainda mais com CCTV [China Central Television Headquarters em Pequim]. Não consideramos tanto uma inovação, mas de fato uma nova ambição em arquitetura. Alcança todas as partes da cidade de uma nova forma, com sua identidade mutável".
"Em 1994 escrevi um artigo chamado Bigness que explorava a forma como a arquitetura, a partir de uma certa escala, começa a responder para e ser definida por regras diferentes. Neste texto, que foi realmente direcionado para europeus, sugeri que contextualismo era uma característica importante no debate. A interpretação do contextualismo era que se você constrói um edifício em um ambiente com outros edifícios, a forma correta é fazer um edifício similar aos outros. Similar em escala e, se possível, similar em termos de expressão".
"Estava na verdade pensando que esta era uma forma muito limitadora de pensar e que há também outra abordagem, que é o contraste. Há maneiras - como a forma que os Surrealistas combinavam um guarda-chuva e uma máquina de costura na mesma imagem - de a arquitetura experimentar com estes contrastes".
"Agora Rotterdam é uma cidade onde esse tipo de experimentação é legítimo porque foi inteiramente destruída, e toda a ideia de contexto é muito relativa aqui. A cidade do começo era uma condição experimental onde era possível experimentar com este tipo de coisa. Isso também explica por que este edifício é cortado em partes. O mais alto se relaciona com os elementos mais altos, mas o corte permite que se relacione com os mais baixos. Assim os elementos acomodam essas duas escalas".
"Nós começamos [a trabalhar no projeto] em 1998, mas em 2001 houve 11 de setembro e criamos uma espiral descendente. Aí veio 2008 [fim da recessão] e quase não tivemos momentos de certeza que aconteceria. Mas a ironia é que por causa da última crise o preço do edifício baixou, e foi possível trabalhar com empreiteiros alemães pela primeira vez na Holanda. Assim, a primeira crise quase matou o projeto, mas a segunda o reviveu".
"Inicialmente havia muito mais articulação. Era possível ver habitação, era possível ver hotéis, mas então quase toda arquitetura tinha articulação, e decidimos que estávamos confiantes na escultura do edifício, simplesmente ao tratá-lo como um objeto ao invés de um edifício. Na verdade, é assim que é, não é parte do mundo da arquitetura".
"Jornalistas pensam que arquitetos de hoje podem ser voluntariosos ou divertidos, mas a pressão sob a qual trabalhamos é realmente extrema. Não estou reclamando, mas a ideia de que podemos fazer o que quisermos é profundamente equivocada em qualquer país ou ambiente".
O fotógrafo Richard John Seymour, que capturou o edifício de Rem Koolhaas recém finalizado De Rotterdam em uma manhã nebulosa. Seymour está atualmente completando um mestrado em arquitetura na Architectural Association of London, e teve suas fotografias publicadas em ArchDaily, BBC, e Dezeen, entre outros.