O acadêmico e crítico Kenneth Frampton, que fixou nos anos 1980 o termo "regionalismo crítico" e foi fundamental na divulgação internacional da arquitetura portuguesa, venceu a terceira edição do Prêmio Carreira Trienal de Lisboa Millennium BCP.
Autor das obras Modern Architecture, a Critical History e Studies in Techtonic Culture, Frampton nasceu no Reino Unido em 1930, onde se formou na Architectural Association School of Architecture, e é atualmente professor na Universidade de Columbia, nos EUA, onde vive.
"É um excelente desfecho para esta edição da trienal, dar o prêmio carreira a alguém que tem dedicado a sua vida ao pensamento e à cultura arquitetônica, demonstrando mais uma vez que a arquitetura não vive só de obras feitas", comenta André Tavares, diretor do Jornal Arquitetos e coordenador da editora Dafne.
Frampton teve um papel determinante no pensamento arquitetônico dos anos 80 e 90, propondo caminhos alternativos para a arquitetura não se transformar num mero serviço técnico ou burocrático, ou numa simples feira de vaidades. Resgatou a ideia de cultura arquitetônica, contribuindo de forma decisiva para ancorar essa cultura arquitetônica à prática construtiva e à história, instigando os arquitetos a pensar a sua relação com o lugar.
O prêmio, que este ano teve como júri Beatrice Galilee (curadora-geral da trienal), Gonçalo Byrne, Guilherme Wisnik, Juhani Pallasmaa, Mónica Gili, Taro Igarashi e William Menking, já foi atribuído em 2007 ao arquiteto italiano Vittorio Gregotti (co-autor com Manuel Salgado do CCB) e na última edição, em 2010, a Álvaro Siza.
A obra teórica mais conhecida de Frampton — Modern Architecture, a Critical History — foi publicada em 1980, várias vezes revista, e é nela que desenvolve o conceito de "regionalismo crítico".
Embora o termo tivesse sido cunhado por Alexander Tzonis e Liliane Lefaivre para a arquitetura grega, é Frampton que o torna célebre. André Tavares é cauteloso quando fala sobre o papel do conceito na internacionalização da arquitetura portuguesa: "O ‘regionalismo crítico’ é uma ideia difusa e presta-se a muitas interpretações e usos que nem sempre coincidem com o cunho original da expressão. Frampton usou essa noção num contexto americano para enquadrar uma arquitetura de periferia capaz de resistir a pressões mundanas, demonstrando que era possível construir arquitetura contemporânea sem negar a história, a cultura dos lugares, o conhecimento construtivo que se sedimenta ao longo do tempo."
Frampton explica que o que vê na arquitetura portuguesa "é um forte sentimento pela paisagem. Esse sentimento partilha-o, de algum modo, com Espanha — a manipulação da superfície da terra e a integração do edifício no solo. É uma característica muito própria e um elemento que se destaca no conjunto da arquitetura européia."
Referência: publico.pt