Santiago Calatrava coleciona fãs... e também críticas

* Artigo original publicado em Setembro de 2013, pelo The New York Times.

Durante um tempo, a cidade mediterrânea de Valência abraçou a arquitetura de Santiago Calatrava com gosto. Num leito seco de um rio, Calatrava construiu e construiu até preencher 34 hectares com seus ousados projetos. Mas hoje em dia, enquanto se aproxima a conclusão de seu projeto Path Station em Manhattan, as críticas à seu trabalho em Valência estão aumentando: um político local lançou um site com graves denúncias contra o arquiteto.

Originalmente orçado em 300 milhões de euros, o complexo conhecido como a Cidade das Artes e Ciências, que abriga a maior coleção de obras do arquiteto, custou quase três vezes esse valor... dinheiro que a região nunca teve.

Ignacio Blanco, membro do Parlamento da Província que começou o site, publicou uma avalanche de informação sobre o complexo, concluindo que Valência ainda deve 700 milhões de Euros pelo projeto. Segundo ele, foi pago a Calatrava aproximadamente 94 milhões de euros por seu trabalho, e por isso se pergunta: Como é possível isso, quando a casa de ópera inclui 150 lugares com vista obstruída? Ou quando o museu de ciências foi originalmente construído sem escadas de emergência e elevadores para pessoas com deficiência? Como é possível que se comentam erros como estes?

Revise as polêmicas geradas por vários de seus edifícios e a resposta do arquiteto às acusações, a seguir.

Ciudad de las Artes y la Ciencia / Valencia, España. Image © Vía Flickr, Usuario Visentico

O criador do site assegura que foram gastos milhões de euros para corrigir tais erros, "pagando-lhe inclusive para repará-los". Ao redor de todo o mundo, Calatrava projetou dezenas de estruturas, quase sempre brancas, incluindo a estação de trens de Liège-Guillemins na Bélgica, o arranha-céu Turning Torso em Malmö, Suécia e o Museu de Arte de Milwaukee, com uma cobertura mecânica.

Devoção pela forma

Seus admiradores dizem que seus desenhos são ao mesmo tempo delicados e de grande alcance. Comparam seus edifícios com esculturas gigantes e louvam sua devoção obstinada pela forma. Observam ainda que todos starchitecs geralmente são mais caros que outros arquitetos porque seus projetos são compostos de estruturas complexas e marcantes. Quase todos tem pelo menos um projeto que parece estar "fora de controle" e muito dificilmente se pode determinar de quem é a culpa e por quê.

No entanto, em várias entrevistas, outros arquitetos, acadêmicos e construtores dizem que Calatrava está acumulando uma longa lista de projetos marcados pelo excesso de custos, atrasos e litígios. É difícil encontrar um projeto de Calatrava que não tenha custado muito mais que seu orçamento inicial. E há muitas queixas de que ele é indiferente às necessidades de seus clientes. Em agosto deste ano, um conselho holandês em Haarlemmermeer, perto de Amsterdã, pediu a seus colegas a tomar medidas legais, porque as três pontes que o arquiteto projetou para a cidade custaram duas vezes o valor do orçamento e mais alguns milhões em manutenção desde que inauguraram em 2004. Calatrava já está em tribunal por uma ponte de pedestres em Veneza, uma vinícola na região de Alava Espanha e uma enorme Centro de Exposição e conferência em Oviedo, Espanha. Em Bilbao, também na Espanha, houve problemas com uma ponte e um aeroporto.

Ciudad de las Artes y la Ciencia / Valencia, España. Image © Samuel Aranda for The New York Times

"O que se vê uma e outra vez é que ao invés de buscar a funcionalidade ou a satisfação do cliente, ele busca a singularidade", comenta Jesús Cañada Merino, o presidente do Colégio de Arquitetos de Bilbao. "O problema é que Calatrava está acima do cliente".

A nova estação de trens PATH, localizada no marco zero, deve ser concluída em 2015, mas já acumula seis anos de atraso e um custo de US$4 bilhões, o dobro do orçamento original. Os críticos do projeto, encomendado pela Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey, acham o preço final difícil de acreditar. Ainda sim, vários executivos que participaram da construção da estação, que se recusaram a falar em expediente por causa de sua relação com o projeto, disseram que o projeto do arquiteto era problemático e de difícil construção, pois incluía uma imensa câmara subterrânea. Além disso, também exigiu que todos os edifícios circundantes contenham os elementos mecânicos da estação, como a ventilação, o que complicou a construção e a organização do tempo.

A Autoridade Portuária se recusou a discutir o excesso de custos e emitiu uma declaração sucinta "As primeiras estimativas para o centro de transporte são baseados em desenhos conceituais e, portanto, não eram realistas".

Ciudad de las Artes y la Ciencia / Valencia, España. Image © Mike Lowe

Em Valência, a farra de gastos do governo regional e a obra de Calatrava foram dissecadas e regularmente menosprezadas pelos políticos locais, que discutem sobre quem é responsável pela dívida do projeto. As autoridades regionais esperavam que o complexo transformasse a cidade em um importante destino turístico, assim como o Museu Guggenheim de Frank Gehry em Bilbao, e por isso continuavam a defender o investimento. Mas tudo parecia desmoronar quando a "pele" da ópera de Calatrava - que alguns chamam de "capacete do Darth Vader" - visivelmente começou a enrugar, apenas seis anos após o prédio ter sido inaugurado.

Os funcionários regionais esperavam que as partes responsáveis - Calatrava e as empresas envolvidas na construção - pagassem pelos reparos, caso contrário enfrentariam uma ação judicial. Atualmente estão trabalhando para determinar quais reparos são necessários.

Quando perguntaram a Calatrava sobre todos esses projetos, disse que não estava disponível para uma entrevista. No entanto, divulgou um comunicado dizendo: "Meu objetivo é sempre criar algo excelente para melhorar as cidades e enriquecer a vida das pessoas que vivem e trabalham nelas. Tem sido um privilégio trabalhar nesses projetos, todos os quais são realizados seguindo os mais altos padrões."

Nos últimos meses, ele defendeu o seu trabalho por escrito em diversas publicações, dizendo que seus honorários foram justos em Valência porque cobriam 20 anos de trabalho e também está incluído o acompanhamento da obra. Em uma breve entrevista na revista Architectural Record no ano passado, ele disse que os clientes estavam bastante satisfeitos, inclusive a ponto de pedir outros projetos. Entre estes estão as cidades de Dublin e Dallas. Neste artigo, Calatrava chama o escândalo sobre o seu trabalho em Valência de "uma manobra política dos comunistas." No entanto, outras cidades podem estar relutantes em contratar Calatrava novamente.

Pasarela Peatonal / Bilbao, España. Image © Samuel Aranda for The New York Times

A Ponte das pernas quebradas

Em Bilbao Calatrava projetou uma ponte de pedestres com uma superfície de blocos de vidro que lhe permitiq ser iluminada por baixo, mantendo seus ousados arcos livres das luminárias. Mas em uma cidade que recebe muita chuva e neve ocasional, os pedestres frequentemente escorregam na superfície. As autoridades municipais dizem que cerca de 50 pessoas quebraram as pernas ou quadris, desde que a ponte foi inaugurada em 1997, e que os blocos de vidro já apresentaram várias fissuras e tiveram que ser substituídos. Há dois anos a cidade "revestiu" a passarela com um tapete de borracha preta. "Perdeu-se a beleza", disse Ibon Areso, o prefeito em exercício de Bilbao. "Mas não podemos continuar pagando às pessoas que caem." Em uma recente tempestade, o tapete de borracha foi erguido pelo vento, atingindo várias pessoas.

Nos arredores de Bilbao, Calatrava foi encarregado de construir um terminal de aeroporto, que foi apelidado de La Paloma (A Pomba), por causa de sua semelhança com um voo da pomba. Mas quando abriu em 2000, faltava ainda um terminal de desembarque. Os passageiros se moviam através da zona de alfândega e área de bagagem diretamente para a calçada, onde eles tinham que esperar no frio. Autoridades aeroportuárias já instalaram uma parede de vidro para protegê-los.

Aeropuerto de Bilbao / Bilbao, España. Image © Vía Flickr, Usuario alberto rincon garcia

Em junho, um tribunal espanhol decidiu que Calatrava e sua equipe deveriam pagar 3.300.000 de euros para resolver uma disputa em Oviedo, onde a construção de um centro de conferências entrou em colapso.

Na região de Álava, uma vinícola está processando Calatrava por uma cobertura ondulada que projetou há quase dez anos. Problemas com vazamentos que prejudicam o controle de umidade - vital para o vinho - nunca foram resolvidos. Os donos da vinícola Domecq, pedem dois milhões de euros para contratar novos arquitetos e engenheiros para elaborar uma solução.

Enquanto isso, Veneza levou o arquiteto e vários engenheiros a tribunais por causa do custo excessivo e necessidade de manutenção e reparos que sofreu a Ponte della Costituzione, uma passarela que cruza o Gran Canal. O Tribunal de Contas da região pediu à Calatrava devolver mais de um milhão de euros. A primeira audiência estava prevista para o mês de novembro deste ano. Além disso, Veneza pede às autoridades judiciais averiguarem se Calatrava foi o responsável por alguns dos altos custos porque não apresentou oportunamente os desenhos necessários para iniciar a busca por um construtor.

Ponte della Costituzione / Venecia, Italia. Image © Vía Flickr, Usuario klausbergheimer

Conceitos excessivamente gerais

Quanto aos excessos orçamentais em Valência, o político Ignacio Blanco disse em uma entrevista recente que o problema de Calatrava é que seus projetos não têm o grau de precisão necessário para serem construídos: "Outros arquitetos sabem exatamente quais dobraduras de portas querem, onde comprar e a que preço. Mas Calatrava é o oposto. Seus projetos não tem esse grau de precisão. Se você olhar para os arquivos do Aquário, que foi construído por outra pessoa, eles são extensos. Mas os projetos de Calatrava apresenta apenas algumas páginas."

Valência, onde Calatrava nasceu, tem muito a lamentar, agora que o boom econômico da Espanha acabou. O governo regional, liderado pelo do Partido Popular de centro-direita, gastou, digamos, 180 milhões de dólares em um novo aeroporto que não conseguiu atrair companhias aéreas. E alguns críticos vêem a Cidade das Artes e Ciências como um outro monumento à extravagância do governo. Eles se perguntam: nossa cidade realmente precisa de uma Ópera?

A reportagem original do New York Times incluiu a colaboração de Rachel Chaundler na Espanha e Elisabetta Povoledo em Roma.

* Revise todos os artigos e projetos publicados anteriormente sobre o arquiteto aqui.

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Sobre este autor
Cita: Franco, José Tomás. "Santiago Calatrava coleciona fãs... e também críticas " [Santiago Calatrava recolecta seguidores... y también críticas ] 18 Dez 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Santiago Pedrotti, Gabriel) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-160859/santiago-calatrava-coleciona-fas-dot-dot-dot-e-tambem-criticas> ISSN 0719-8906

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