A base quase quadrada de oito metros e trinta e cinco centímetros por oito metros e vinte e cinco centímetros produz um volume prismático de dois pavimentos de alturas quase iguais: o pavimento térreo com dois metros e oitenta centímetros, e o pavimento superior com três metros. Quatro elementos produzem a assimetria do edifício: o conjunto de planos que protege a varanda frontal, o conjunto de planos que protege a entrada lateral, o volume da cozinha posterior, e o par de linhas perpendiculares que apoia as pérgolas da varanda posterior. As aberturas no volume reforçam a assimetria. O edifício é um trabalho sobre linhas, planos e volumes.
O primeiro elemento assimétrico é formado por três planos. Um plano horizontal de nove metros e setenta centímetros de extensão por dois metros e meio de largura configura a laje de cobertura da varanda frontal. Os outros dois planos são verticais e sustentam o primeiro. O primeiro deles tem a mesma largura do plano horizontal e está localizado rente ao muro de divisa. É a continuação vertical do plano horizontal, formando um L. O segundo plano vertical apresenta a mesma largura que os demais e está localizado paralelamente à fachada frontal. Os três planos formam uma esquina cega na varanda do edifício, sem a qual o jardim lateral ficaria completamente exposto às vistas da rua.
O segundo elemento assimétrico parece ser formado por dois planos em L, como os dois primeiros do elemento anterior. Formam o elemento de proteção da entrada principal do edifício, criando uma laje por cima da passagem do automóvel. O plano vertical apoia-se diretamente sobre o muro de divisa. O plano horizontal, entretanto, apresenta muito mais espessura que um plano usual, configurando quase um volume. Ao contrário do primeiro elemento assimétrico, este utiliza a área superior do plano como terraço. A espessura do plano horizontal surge da altura do peitoril.
O terceiro elemento assimétrico é o volume decorrente da expansão da cozinha, na parte posterior do pavimento térreo. Dá continuidade lateral ao volume principal do edifício, avançando dois metros e vinte e cinco centímetros, a mesma medida do recuo da primeiro elemento assimétrico em relação à lateral do edifício. Apresenta quatro metros de largura, um pouco mais da metade da largura da base, e um pavimento de altura. O volume é um quase cubo que brota do volume principal do edifício.
Finalmente, o quarto elemento é um pórtico formado por duas linhas perpendiculares. Assim como os primeiros dois elementos, forma um desenho em L. Surge alinhado à segunda lateral do edifício, paralelo ao volume sobressaliente da cozinha. As pérgolas apoiam-se lateralmente nesse volume e no pórtico. São os elementos lineares do conjunto.
A base do edifício é dividida internamente em quatro por uma cruz quase central. No pavimento superior, ela é evidente. A linha que divide a casa em setor frontal e setor posterior cria dois lados simétricos de três metros e oitenta centímetros de largura. A linha perpendicular, não: divide a casa em dois lados quase simétricos: um de três metros e meio, e outro de quatro metros. Neste último, estão localizados o dormitório principal no quadrante frontal, e a escada e banheiro no quadrante posterior.
No pavimento térreo, os dois quadrantes frontais dão lugar ao salão de estar. A sala de jantar ocupa o quadrante posterior mais estreito. O volume posterior da cozinha amplia o segundo quadrante posterior. Por ele se dá o acesso principal à casa. Junto à entrada estão a escada e o banheiro social, e em seguida, a cozinha.
As aberturas para janelas e portas entram em consonância com os elementos assimétricos. Enquanto este são os elementos positivos do conjunto formal, aquelas são os negativos. Os primeiros somam ao conjunto. As aberturas subtraem dele. A principal delas, que identifica o edifício, é a janela do dormitório principal no pavimento superior. Sugere uma abertura em L, propondo uma relação direta com os dois primeiros elementos assimétricos. No entanto, a sugestão é visual: a esquina retrocede do perímetro do edifício, para gerar a sombra que geraria uma janela. Enquanto as paredes externas têm trinta centímetros de espessura, essa esquina, assim como as paredes internas, têm quinze centímetros. A janela em L é formada por duas janelas independentes e uma esquina sólida.
Além do aspecto compositivo dessa esquadria, ela apresenta outro singular aspecto: o desenho da veneziana externa. Trata-se de um trabalho fino e meticuloso sobre as peças de madeira. Cada peça é da ordem de três centímetros de altura por oitenta e cinco centímetros de largura. Apresenta dois rebaixamentos simétricos mínimos em um de seus lados maiores. Internamente, as peças são dispostas com os rebaixamentos voltados para baixo. Externamente, eles aparecem na parte de cima da peça. Assim, cada linha horizontal da veneziana é formada por duas peças coladas em sentidos opostos uma à outra. Cada par é unido verticalmente aos outros por um tipo de costura que dá flexibilidade ao sistema. Isso permite que a veneziana possa ser completamente recolhida por um sistema de enrolar. O contato entre as peças forma com seus rebaixamentos frestas mínimas para a entrada de luz. Além disso, quando completamente fechadas, duas peças laterais de ferro possibilitam empurrar as venezianas na condição de toldo, criando um afastamento inferior para iluminação indireta.
O edifício, além da sua composição volumétrica e espacial, apresenta um trabalho fino de desenho sobre seus detalhes. Todas suas esquadrias apresentam desenhos específicos de motivos retilíneos. O mesmo acontece com as luminárias, que por ora incorpora motivos curvos. A curva torna-se evidente num único elemento da composição: o muro que separa a área externa de manobras do automóvel junto com as edículas secundárias para a garagem, dormitório de serviço e lavanderia, e os jardins da casa.
- Ano: 1930