Gautam Bhatia é um arquiteto de Nova Deli e um dos mais famosos escritores de arquitetura da Índia, tendo escrito para o The New York Times, Outlook Magazine e Indian Express.
Hoje em dia, vivemos do jeito que vivemos porque não conhecemos outro modo. Nossas vidas se enquadram nos padrões definidos de casas, ruas, bairros, cidades. Como um arquiteto, tento entender e explorar - através do desenho - diferentes possibilidades de construção e paisagem. Cada vez mais os desenhos têm me afastado das convenções da arquitetura, indo em direção a planos mais abstratos. Desenhar tem ajudado a definir espaços inexistentes, talvez como eles deveriam existir. Não de uma maneira utópica, mas de modo a tentar meramente descrever um jeito diferente de viver.
Os desenhos são uma espécie de rebelião contra os limites do espaço. Eles exploram as possibilidades extremas: por um lado, um confinamento tão estreito e sufocante que requer libertação e exposição, e por outro lado, uma imensidão que se afasta incessantemente em direção ao horizonte, no qual pessoas e edifícios são minúsculos. Como se todo o esforço humano - definido por pessoas, árvores e edifícios - fosse meramente uma gravura na vastidão.
No início, a terra é vazia e sem expressão, deserta, sem som ou forma ou sombra. Apenas uma ausência na paisagem. O vazio cria a primeira insinuação, a esperança de arquitetura. Um objeto desenraizado surge no espaço - um ser humano, uma árvore, um edifício, uma sombra. O desenho constrói uma relação entre eles. Por vezes a sombra dissipa o próprio espaço, por vezes a sombra é usada para enraizar coisas à terra. A arquitetura existe se ela não projeta sombras?
O peso do edifício deixa uma sombra permanente no solo, uma área cinzenta misteriosa, bastante diferente da inquieta sombra que segue uma pessoa em movimento. Sua profundidade é tão tortuosa quanto impenetrável, mas está lá, uma presença histórica arqueológica que não pode ser apagada. Permanência e imobilidade de um edifício são fatos. Aceita-se isso com uma certeza tão certa quanto a morte. E quando você constrói, você constrói com o pincel de uma sombra negra, na esperança persistente de que o seu edifício também tenha, um dia, o lugar de descanso eterno da morte, de que a escuridão imóvel cresça e escureça ainda mais com o envelhecer do edifício, ao passo que ele se torna arquitetura.
Gautam Bhatia é um arquiteto de Nova Deli e um dos mais famosos escritores de arquitetura da Índia, tendo escrito para o The New York Times, Outlook Magazine e Indian Express.