Formalmente a repetição, a monotonia e a sequencialidade são traços sem graça de um objeto, mas ao nos concentrar na fotografia de Martín Volman podemos pensar que “quanto menos há para ver, mais há para dizer”, dentro da paisagem urbana.
Terrorismo arquitetônico, monstruosidade urbana, manifestações puras da cidade contemporânea, cada imagem é um retrato da uniformização do entorno, onde se faz presente a perda de identidade e a desconstrução do conceito do lugar. Fachadas de grandes edifícios carregadas de onipresença e desapego, sem marcos de referência, sem linha do horizonte. Acentuando o impessoal, esses módulos podem estar falando de uma cidade em particular ou de todas simultaneamente.
Fotografias que podem ser entendidas como registro ou documentação seguindo a linha iniciada pelos Becher nos anos setenta, transcendendo a sua ideia, explorando na vanguarda arquitetônica, mas mal concebida, como construção deformada, sufocante e lotada.
Susan Sontag escreve: “A visão fotográfica seria a aptidão de descobrir a beleza no que todo mundo vê, mas omite como muito habitual”, e são nesses planos frontais de massivos blocos de cimento onde a sensibilidade e o caráter pictórico produzem um intenso prazer estético deixando de lado a trivial e supérflua visão do cotidiano para dar lugar à contemplação do “próximo”.
A visão de Volman de uma cidade desvalorizada e desumanizada é precisa, simétrica e bela. Beleza controlada, que deixa entrever uma intensa busca formal construída a partir de enquadramentos carregados de uma geometria serena, mas desconcertante na sua expressão. “A ideia de paisagem não se encontra tanto no objeto que é contemplado como no olhar de quem contempla. Não é o que está diante senão o que se vê”, o romantismo dessa visão nos permite adentrar na dimensão trágica da já conhecida paisagem urbana.
Via Plataforma Urbana. Tradução Camilla Ghisleni, ArchDaily Brasil.