Hoje em nossa seção de Fotografia e Arquitetura apresentamos aquele que através de suas lentes nos conecta com a arquitetura ao redor do mundo. Nesta ocasião apresentamos um grande da fotografia de arquitetura na Espanha: Jesús Granada.
Graças à este perfeccionista do pixel (como poderão ver na última pergunta quando nos conta como trabalha) podemos disfrutar da melhor arquitetura do sul da Espanha, Estremadura, Andaluzia. Seu trabalho não se restringe à fotografia mesma e inclui também Irreversible Editorial, projeto desenvolvido junto a ELAP (Eva Luque y Alejandro Pascual, Los Del Desierto) que publicaram micrografias bastante completas da Casa de Los Pinos de XPIRAL e a Casa del Plátano de MGM Morales de Giles Arquitectos.
Também criou junto a um grupo de fotógrafos espanhóis o BIS (Built In Spain Images), projeto que busca apresentar a arquitetura espanhola ao mundo. Seu trabalho tem sido amplamente publicado, e destacamos o trabalho que foi feito para a El Croquis n º 142, um número enorme de arquitetura espanhola.
Vejam a seguir a entrevista completa:
1. É arquiteto?
Tecnicamente não, pois nunca me formei na Escola Técnica Superior de Arquitetura de Sevilla, pela falta do meu projeto final. Espero fazê-lo como a atividade que abra minha hora de aposentar.
Tenho uma mistura de alívio e inveja ao pensar na arquitetura. Alívio porque é comprovado o difícil que é compatibilizar minha forma de viver e expectativas vitais com as dificuldades do exercer do arquiteto, pelo menos aqui na Espanha. Muita responsabilidade e esforço. Os arquitetos que conheço são para mim anti-heróis que se entregam de corpo e alma a sua profissão, ainda que esta não se entregue a eles.
Também desperta em mim algo de inveja, logicamente ao ser uma das atividades criativas mais sublimes que conheço, junto à do músico. A satisfação íntima que se tem, presumivelmente, em executar uma boa obra de arquitetura ou uma boa peça musical, ser reconhecido e apreciá-lo, eu acho que é incomparável.
Deixarei para outra vida, nesta me limitarei a ser fotógrafo.
2. Quando e como começou a fotografar arquitetura?
Antes de começar a universidade tinha dois grandes hobbies, a pintura e a fotografia. Aos 18 anos eu comecei mais a sério como um complemento para os anos de carreira em que você começa a pensar sobre a representação gráfica da arquitetura. Geometria, Análise arquitetônica, Procedimentos de expressão gráfica, Composição arquitetônica… foram assuntos em que a minha câmera fazia de lápis e se enchia de visões arquitetônicas.
Alguns professores também me sugeriram que elevasse a fotografia como algo a mais que um hobbie, não sei se perceberam que eu seria um mal arquiteto (era possível) ou porque realmente viam que eu poderia me sair bem com a mudança.
Minha primeira reportagem encomendada é de 1999, esse mesmo ano publiquei fotos em Pasajes, On Diseño, Arquitectura Viva e em revistas do Japão e Itália. Nesse mesmo ano fui reprovado em cindo das seis disciplinas que cursava na faculdade.
A Deusa Arquitetura não me queria em seu reino, pelo menos como arquiteto.
3. Por que você gosta da fotografia de arquitetura?
É um trabalho que me permite ser feliz. A fotografia me seduz como ferramenta desde muito pequeno, a arquitetura foi invadindo pouco a pouco minha mente através do seu estudo e sem viajar não entenderia minha vida.
Este trabalho me permite viajar constantemente, estar sozinho desfrutando de boa arquitetura e fazer fotografias de maneira sossegada.
Já na faculdade conheci através das revistas o trabalho de Duccio Malagamba, Roland Halbe, Luis Asín, Javier Azurmendi, Eduardo Sánchez, Lluis Casal… os fotógrafos clássicos dos editoriais espanhóis, que influenciaram muito em minha técnica e minha maneira de olhar. Mas acima de tudo, me atraía o trabalho que fazia Hisao Suzuki para a revista El Croquis. Ambos são os gatilhos que fizeram com que a fotografia se tornasse parte inseparável da minha vida.
4. Arquiteto favorito
Mais do que um nome, eu sou atraído por arquitetos de gerações mais perto e com uma visão da arquitetura mais social que instrumental. Fotografo obras para grandes nomes e escritórios menos conhecidos, mas os que no final deixam uma marca em mim, são os que de modo mais natural fazem a arquitetura, os que não se distinguem bem quando deixam de ser arquitetos para serem pessoas ( para grande desgosto de seus parceiros não- arquitetos). Possuem um ponto de “loucura” ( uns mais, outros menos) e de atratividade intelectual natural que me simpatizam muito. Felizmente, este é um grupo muito cheio de arquitetos com os quais estou trabalhando confortavelmente e sem trabalhar.
Se lhe digo, um deles pode me convidar para jantar por tê-lo feito meu favorito ou pode deixar de falar comigo por tê-lo chamado de “louco”, por isso prefiro não lhe dar nenhum nome.
5. Obra favorita
Minha filha Clara.
6. Como você trabalha?
O procedimento é sempre o mesmo.
O arquiteto é o que dá o primeiro passo e me mostra seu interesse em trabalhar juntos. Só fotografo por ordens e nunca fiz por iniciativa própria. Se o calendário permite e a obra me atrai o que resta é começar a programar a produção. É fundamental que se veja possibilidades na obra de extrair algo dela.
Normalmente, o tempo mais útil para mim é me trancar sozinho com o autor em sua obra e radiografar sua visão do que está por vir. Isso é importante, já que o arquiteto costuma falar sobre as coisas que não conseguiu fazer em vez do que os nossos olhos veem. É um passatempo bastante comum.
Após um período inicial de ladainhas, passamos à verdadeira ação e é quando as palavras têm menos importância que seus gestos, a posição do seu corpo ou os movimentos das suas mãos. É nessa coreografia onde se encontram as imagens que tem em sua cabeça e que eu tenho que extrair. Serão uma porcentagem do resultado final.
Eu gosto se podem desenhar, já que nos traços improvisados intenções são sentidas e se vislumbram anseios que eu como fotógrafo tenho que perseguir. É essa etapa que chamo de “Extração”.
A terceira é a mais simples, onde a câmera aparece em ação e se faz de caça- borboletas, perseguindo essas imagens que intuí anteriormente e que agora reinterpreto. Também voltar a origem, ao projeto que gerou essa obra inicialmente, é muito útil. Ainda que formalmente não se pareça muito, a essência, as intenções primitivas são as que o arquiteto usa como faro para o resto do processo.
O resultado é sempre uma invenção, pois é uma grande mentira que uma fotografia pode dar uma visão objetiva da arquitetura.
Finalmente o contato com os editores é fundamental para os arquitetos. Trato de publicar os projetos que fotografo, em revistas onde tanto a obra como minhas fotos, vão ser valorizadas e bem editadas. Ao longo desses dez anos publiquei já em mais de vinte países, em torno de umas 300 revistas e 25 livros. No meu blog estou fazendo uma compilação destas publicações.
7.- Quais os equipamentos e softwares que você usa?
- Na rua:
Trabalho com câmera de banco ótico Linhof 679CS, com espectro de oito objetivas Rodestock e Schneider sobre um chassis digital Hasselblad CF-39. Para os não-fãs, explicarei que um banco óptico é a “Câmera de pano preto na cabeça.” É uma câmera clássica, mas um terço do peso das clássicas de placas, coisa que minhas costas agradecem, mas minha fisioterapeuta não (estava pagando). Os tripés são Manfrotto e Gitzo, por trabalhar com muito vento, em exteriores ou no interior.
O mundo digital substituiu os slides antigos e fornece uma gama dinâmica muito próxima da visão natural.
As câmeras digitais colocam nas mãos dos fotógrafos de arquitetura um poder e liberdade consideráveis na construção de imagens. Ao computador chegam muito elaboradas, e não é necessário manipular perspectivas nem corrigir deformações óticas nem fazer ampliações de intervalos dinâmicos. Isto é importante porque me permite trabalhar com calma no edifício e reduzir muito o processo no estúdio. Procuro não fazer mais de uma reportagem por semana, ainda que tenha que recusar alguns trabalhos desejáveis.
Por agora quero garantir a qualidade do tempo que trabalho e se o faço sem pressa, de maneira sossegada, sou mais feliz que se o fizesse rápido.
- No estúdio:
O equipamento de informática é composto por vários Mac-pros e telas duplas de 24 polegadas cinema HD Display. Como equipamentos móveis temos Macbooks pro. Todos os discos rígidos são LaCie e finalmente foram incorporados dois iPads e iPhones, assim como um terminal Android para ir programando e adaptando as webs a aplicações de dispositivos móveis, tarefa em que estamos atualmente.
O servidor é apache é de 500 GB com todo o meu trabalho armazenado e o CMS que gerencia minha web é WordPress, como o seu. Como um lançador de slideshows xml usamos o SlideShowspro que é compatível com dispositivos móveis e muito cuidadoso com a qualidade das fotos.
Sobre o software que usamos é Capture One como revelador Raw junto a Phocus de Hasseleblad. Como software de pré-impressão e análise Photoretouchpro e finalmente para terminar o clássico Photoshop que todos conhecemos. Para mim estes programas são coisas estranhas, quase de alquimia. Primeiramente vou me concentrar no ato fotográfico puro e simples e quase nada na pós produção.
Este trabalho de pós- produção delego aos meus dois colaboradores, María Arias e José María Franco, excelentes especialistas em pós-produção digital e bons companheiros de viagem. São eles que levam e gerenciam o meu estúdio. Sem eles o meu trabalho teria muito menos qualidade e seria publicado menos.