Bienal de Veneza 2012: Perguntas sem respostas

 

Ao contrário do que alguns críticos e comentaristas têm sugerido sobre a semana de abertura, eles realmente estavam lá, os expositores com engajamento sócio-político fazendo perguntas relevantes, na abertura da Bienal de Arquitetura de Veneza 2012. O que estava faltando, no entanto, foram as conclusões sem rodeios, a parte arriscada e emocionante de tomar posição depois de ter feito observações interessantes. Onde estavam os rebeldes arquitetônicos, os aventureiros polêmicos e provocadores, para agitar e debater e levar ainda mais longe? Foi no pavilhão japonês que perguntas foram feitas, bem como respondidas.

Em um dos primeiros pré-eventos da Bienal, uma tempestade surpresa assolou sobre a Lagoa de Veneza, enquanto em um antigo armazém em Giudecca, Winy Maas do MVRDV e seu departamento da Delft University of Tehcnology, o The Why Factory, colocavam “o declínio da identidade da cidade européia “ na agenda por apresentar um Manifesto da nova Cidade da União Européia. Em uma apresentação com um turbilhão de ideias e temas que rivalizavam com a tempestade lá fora, tanto foi dito que a ideia central ou declaração ficou turva. A questão e a intenção eram tão boas e relevantes quanto o manifesto apresentado foi genérico, ainda que fosse uma resposta.

O evento foi uma premonição do caráter principal da Bienal que veio à vida no dia seguinte nos Giardini e no Arsenale, em Veneza. Foi-se a tempestade, e sob um céu ensolarado a festa borbulhou pelos dois dias de vernissages e aberturas. Numerosos curadores acabaram por ter abraçado temas sócio-políticos, a maioria deles tão abertos à interpretação e politicamente seguros como é o tema abrangente da Bienal deste ano: Common Ground. Sustentabilidade, uma das grandes histórias da última década, praticamente não esteve presente. Canadá focado no realojamento no contexto de migração, Alemanha, na reutilização de edifícios, a Holanda em redefinição de espaços, Zaha Hadid na reinterpretação da Engenharia (de Frei Otto), OMA em reapreciar burocratas esquecidas, Foster em reagrupar mais ou menos toda arquitetura . Em si a maioria dessas exposições e pavilhões foram bem feitos e inteligentemente montados, fazendo perguntas grandes e relevantes.

Pavilhão do Japão com o projeto final da casa comunitária em primeiro plano

No entanto, na perspectiva do evento em geral, a razoabilidade de tudo isso tornou-se insatisfatória. Common Ground começou a pingar através das exposições, conversas e apresentações como um conceito que provocou inúmeras questões politicamente corretas e justas, enquanto desviando respostas. A impressão que surgiu foi que o discurso arquitetônico está com medo de procurar respostas já que estas podem ter bordas políticas cortantes e produzir conceitos de design de risco. Está se deslocando em direção a um papel de facilitador, no qual colocar questões sobre a mesa é a principal tarefa. Tal atitude auto importante, mas segura pode enfraquecer o debate profissional a longo prazo. É a falta de respostas que pode ter adicionado à irritação de Wolf Prix, quando ele escreveu um comentário brutal na Bienal esta semana.

Um número de curadores deu um passo seguinte para explicitamente mostrar suas verdadeiras faces. O pavilhão de Israel surpreendeu a muitos com sua exposição intensa e confrontadora: chamada Aircraft Carrier (como em” Israel ser o maior, inafundável e bem posicionado porta-aviões da América”) ela consistentemente mostrou a combinação do consumismo e da violência que moldou o país atual, e pode ser visto como o contexto para a sua arquitetura. Crimson, em sua exposição chamada “The Banality od Good” introduziu um limite moral, demonstrando a forma como um princípio de design tem sido aplicado para fins completamente diferentes no desenvolvimento de diferentes gerações de novas cidades do pós-guerra em todo o mundo, os propósitos que normalmente não eram encontrados. Eventualmente, porém, também estas exposições deixaram as respostas para suas perguntas afiadas amplamente abertas.

Foi o Japão, que acabou como o pavilhão vencedor desse ano, que apresentou tanto uma questão como uma resposta em sua apresentação. Com curadoria de Toyo Ito, o pavilhão mostra o processo pelo qual três jovens arquitetos desenvolveram uma casa comunitária para uma das áreas atingidas pela tsunami no Japão. Sensível, poética e prática, a impressão deixada por esta exposição e pelo projeto da casa comunitária apresentado é surpreendentemente despretensioso e otimista. A enorme quantidade de modelos de estudo são a prova da ambição e energia que foram colocados no projeto pelos arquitetos. Exibindo um processo que exala tanto empenho e prazer em projetar, a mensagem do pavilhão é que as respostas (de projeto) realmente funcionem, mesmo que sejam pequenas e talvez vulneráveis.

Engajamento arquitetônico forte precisa de boas perguntas. É a busca posterior de respostas na forma de conceitos, teorias e modelos que o completa. Questões tempestuosas suficientes foram colocadas na Bienal deste ano, mas a falta de respostas lembrava os dias de sol da abertura: segurança clara e agradável.

Texto e fotografias: Jaakko van ‘t Spijker

 

 

Sobre este autor
Cita: Paula Garcia Monteiro. "Bienal de Veneza 2012: Perguntas sem respostas" 03 Out 2012. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-73260/bienal-de-veneza-2012-perguntas-sem-respostas> ISSN 0719-8906

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