Esta semana em nossa série de entrevistas Fotografia e Arquitetura, queremos apresentar para vocês o arquiteto Aitor Estévez Olaizola, graduado pela Escuela Técnica Superior de Arquitectura de San Sebástian. Aitor, sempre esteve em contato direto com a disciplina fotográfica, e no ano de 2008 começou a se dedicar à fotografia profissional de arquitetura e outras formas de expressão artística, sem abandonar seu trabalho como arquiteto.
A seguir deixamos vocês com una entrevista exclusiva e una seleção de suas melhores imagens, tanto digitais como analógicas.
1. Quando e como você começou a fotografar arquitetura?
A primeira experiência que me lembro com uma câmera fotográfica surgiu quando peguei emprestada a Agfamatic dos meus pais pela idade aproximada de 10 anos. Era uma câmera daquele tipo Instamatic de rolo formato 126, já obsoleto. Peguei-a e fotografei um rolo inteiro com algumas imagens do meu bairro das janelas de casa. Vivíamos na periferia de uma pequena cidade, e eu me sentia estranhamente fascinado por aquelas paisagens no limite entre o urbano e o rural. Evidentemente naquele momento não sabia porque me interessava tudo aquilo, nem sequer sabia o que era cidade e a arquitetura, mas por algum motivo aquelas visões exerciam sobre mim um magnetismo especial.
Como não podia ser de outra maneira, quando meus pais encontraram o rolo usado, ganhei um bom castigo, e naturalmente, aquelas fotografias nunca foram reveladas. Mas foi então quando me apaixonei por aquele máquina que registrava o que via olhando através daquele pequeno visor. Para mim era algo mágico. Meus pais só me permitiam utilizar a câmera esporadicamente para tirar fotos de grupo em algum eventos familiares: “Antonio, deixa o guri tirar alguma foto para que fique calmo!”. Evidentemente, para mim não era suficiente poder utilizar aquela ferramenta mágica somente nos aniversários e Natais, e da maneira que me obrigavam meus pais, de modo que, assumindo uma atitude rebelde, decidi que não queria saber nada mais daquele aparato.
2. É arquiteto?
Sou arquiteto pela E.T.S.A de San Sebástian desde 2004. Foi durante o curso quando me re apaixonei pela fotografia. Realizamos algumas viagens por algumas cidades européias, e a câmera fotográfica se converteu em uma companheira indispensável. Enquanto estudava, trabalhei durante uma temporada como ilustrador criativo para uma empresa de alimentos nos finais de semana, e todo o dinheiro que ganhei investi em uma reflex Canon de rolo 35mm. Desde então nos convertemos em companheiros inseparáveis. com ela consegui ganhar alguns concursos de fotografia em nível local, mas jamais decidi que aquilo podia converter-se em uma profissão. O fazia como amador, simplesmente por gosto. Meu único interesse era registrar aquilo que via e despertava meu interesse, quase sempre arquiteturas e paisagens urbanas, para ir construindo uma memória própria. Ainda hoje faço uso desta câmera para alguns projetos pessoais de fotografia analógica.
Durante e depois de acabar o curso, trabalhei como arquiteto em vários estúdios de arquitetura de San Sebástian, e posteriormente me mudei para Barcelona, onde segui desenvolvendo meu ofício em vários escritórios da cidade. Neles fiz fotografias das maquetes, e alguns trabalhos de campo, como quando tínhamos que fazer um concurso por exemplo, eu realizava as fotografias do sobrado e do entorno. Foram meus próprios companheiros que me animaram a dedicar-me profissionalmente a fotografia, alguns deles inclusive me encarregaram de fazer registros fotográficos das suas obras finalizadas. E assim foi como aterrizei no mundo da fotografia profissional de arquitetura, de uma maneira indireta, mas natural, lá pelo ano de 2008. Creio que de algum modo, estava predestinado a realizar este tipo de trabalho.
3. Por que gosta de fotografar arquitetura?
A fotografia de arquitetura engloba minhas maiores paixões. Entre elas, por um lado a fotografia, e por outro a arquitetura, se estabelece um diálogo permanente, uma relação de simbiose que as alimenta reciprocamente. Ao meu modo de ver a fotografia é fundamental para explicar a arquitetura, e apesar de que sempre realize umas fotos habituais e recorrentes, cada edifício te oferece a oportunidade de olhar a arquitetura de uma maneira que não havia feito antes. Para mim isto é o mais atrativo deste ofício, aprender a enxergar de novo cada vez que realiza um trabalho diferente. O feito de enfrentar-me a cada edifício com “as mãos vazias”. passar um dia com ele, escutando, tratar de entende-lo, interpreta-lo, emocionar-se às vezes com certas perspectivas, sombras, situações inesperadas, o uso que as pessoas fazem dele, e chegar a noite em casa ou ao hotel com os bolsos cheios de imagens que documentam todo este processo resulta uma sensação muito gratificante.
Geralmente trato de buscar as perspectivas que melhor explicam o edifício, assim como a luz e a composição da foto. Tento ser comedido em minhas abordagens, já que considero que neste tipo de imagem é a arquitetura a protagonista, e não a fotografia. São fotografias descritivas, a finalidade é mostrar a arquitetura da maneira mais objetiva possível. entretanto, sempre encontras momentos em cada trabalho para romper estas regras.
4. Arquiteto favorito?
Todos aqueles que seguem conseguindo surpreender-me, emocionar-me, e dos quais posso seguir aprendendo, seja pela forma de utilizar materiais, ou pela relação que a arquitetura estabelece com o entorno e com seus próprios usuários, ou pela simplicidade e rotundidade de suas propostas, ou pelas soluções inesperadas mas efetivas, ou pela humildade e a constância na hora de desempenhar seu ofício trabalhando muito e esperando pouco em troca, ou por suas propostas geniais que não se conformam somente com resolver problemas práticos mas que aspiram a resolver problemas mais além da própria construção….
5. Obra favorita?
A que esteja fotografando nesse preciso instante.
6. Como trabalha? (independente? com revistas, arquitetos? viajas?)
Por um lado trabalho por encargo para estúdios de arquitetura. Até o momento não tive que me deslocar para o exterior. Todos os trabalhos que realizei foram pelo centro da Espanha e pela zona mediterrânea. Gosto de viajar a trabalho porque é uma viagem não somente física, mas também mental. Nunca é o mesmo quando volta.
Por outro lado desenvolvo um trabalho mais pessoal fotografando paisagens e arquiteturas minoritárias, que não tem a repercussão de outras atuais, o que para muita gente carecem de valor. Me são de grande interesse as arquiteturas acidentais, anônimas, pseudo arquiteturas, construções que estão no limite… em um mundo saturado de arquitetos midiáticos e obras singulares, me parece muito necessário refletir acerca do sentido da arquitetura buscando este tipo de paisagens e obras, mais nuas e sinceras, cotidianas, desprovidas de excessos e artifícios. Pondo em prática estas inquietudes agora me encontro imerso em um projeto que consiste em retratar alguns espaços industriais de Barcelona e Catalunha. Me encanta a arquitetura industrial porque tem um sentido meramente funcional, e isto a dota de uma grande beleza.
Também desenvolvo por puro prazer outro tipo de projetos pessoais que tem a ver mais com registrar emoções e estados de ânimo, sobre tudo experimentando com fotografia analógica, com seus processos químicos, e a possibilidade de realizar múltiplas exposições no mesmo fotograma.
A aparição dos smartphones e as possibilidades que oferecem enquanto a captura e edição tem proposto uma nova oportunidade de fazer fotografia. É fantástico levar sempre uma câmera fotográfica no bolso!.. no momento mais inesperado surge uma boa foto e sempre tens a oportunidade de faze-la e de compartilha-la no instante. Faz uma semana sem ir mais longe, foi publicado um artigo no blog Archidose com umas fotografias que realizei com meu iphone na Barceloneta (enquanto dava um passeio pela praia com alguns amigos) de um protótipo de casa solar instalado no Porto Olímpico.
7. Que equipamentos e software v0cê usa?
Para meus projetos profissionais uso câmeras e lentes Canon. Já em estúdio utilizo Mac, e os programas habituais de tratamento de imagens. Meu fluxo de trabalho nunca é excessivo, o qual me permite trabalhar somente e controlar todo o processo desde o contato com o cliente e a captura de imagens, até sua entrega e publicação. Já comentei que levo um iphone no bolso… Para meus projetos pessoais me perco em dezenas de câmeras analógicas de todos os tipos e formatos, mas isso já é outra história…