Em homenagem ao que foi sem dúvida um dos maiores arquitetos do Brasil apresentamos sua memorável linha de vida e obra que desenharam o Brasil e o Mundo. Confirma-se assim o porquê de ser seguido e louvado por muitos, mas que não desvenda a magia da resistência ao tempo e a incansável vontade de projetar.
1907 | Oscar Niemeyer nasce no Rio de Janeiro a 15 de Dezembro
“Nasci em Laranjeiras, na Rua Passos Manuel. Uma rua íngreme, tão íngreme que até hoje me espanta como a corríamos de cima para baixo jogando futebol” (Revista Época, 09/11/1998)
Anos 20 | O Rio, capital do Brasil
“Naquela época áurea, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil. Sua noite era uma festa, bares, cafés, cabarés, chorinhos, arrasta-pés! E Niemeyer, a mil, adorava uma seresta…”
“Quando saí de casa e vi como a vida era injusta entrei para o Socorro Vermelho. A gente arranjava roupas e coisas para auxiliar os mais pobres”. (Jornal do Brasil, Caderno B, 11/12/2005) O Socorro Vermelho foi uma organização de apoio a perseguidos e presos políticos e suas famílias, vinculado ao Partido Comunista Brasileiro.
1928 | Casa-se com Annita Baldo e começa a paixão pelo desenho
Annita era descendente de imigrantes italianos que vieram da província de Pádua. Moça modesta, formosa, católica fervorosa, com quem vive um grande amor e gera a sua primeira filha, Anna Maria Niemeyer. Mesmo sendo ateu, a noiva o leva para a igreja. Como pai de família, vai ajudar o pai na sua tipografia. No meio de papéis e tintas, surge seu talento no desenho.
1929 – 1934 | Matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e forma-se engenheiro-arquiteto em 1934.
1932 |Inicia a vida profissional no escritório de Lúcio Costa (1902-1998), arquiteto com o qual, anos depois, criaria Brasília.
1936 | Trabalha com Le Corbusier e Gustavo Capanema e revela-se inovador.
Como estagiário da equipe de Lúcio Costa, Niemeyer trabalha ao lado do arquiteto franco-suíço Le Corbusier (1887-1965) no projeto do novo prédio para o Ministério da Educação e Saúde Pública, no Rio de Janeiro, um marco da arquitetura moderna brasileira.
Apesar de ser um iniciante naquela época, foi Niemeyer quem sugeriu a mudança da altura dos pilotis de quatro para dez metros à equipe. Sua proposta foi acatada com sucesso.
1937 | Projeta a Obra do Berço, no Rio de Janeiro, seu primeiro projeto construído
1938 | Projeta a Casa de Oswald de Andrade, São Paulo e um pequeno hotel na cidade de Ouro Preto-MG, com traços muito semelhantes aos que utilizaria no projeto do Catetinho anos mais tarde.
1940 | Faz o projeto do Conjunto de Pampulha, Belo Horizonte
A convite de Juscelino Kubitscheck (1902-1976), então prefeito de Belo Horizonte, faz o projeto Conjunto da Pampulha, a primeira obra de impacto do inventivo arquiteto, com áreas abertas e vias de acesso, as obras se dariam em volta de um lago artificial. O programa envolve um casino, um clube, um salão de dança, uma igreja e um hotel, mas o último não chega a ser construído. Para a execução da obra, Niemeyer conta com a colaboração do engenheiro de estruturas, e também poeta, Joaquim Cardoso (1897 – 1978) e do paisagista Burle Marx (1909 – 1994).
1942 | Casa da Lagoa Rodrigo de Freitas
1945 | É convidado para projetar o Edifício da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque, juntamente com outros arquitetos internacionais e filia-se ao Partido Comunista Brasileiro.
Além disto, na época em que os americanos e russos vencem a Alemanha nazi, Niemeyer filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, próximo da linha política russa, do qual irá se retirar em 1990, junto de Luiz Carlos Prestes.
1951-1955 | Parque do Ibirapuera, SP
Surge para comemorar os 400 anos da cidade de São Paulo, símbolo da modernidade brasileira, o segundo grande projeto de Niemeyer, encomendado pelo governo de São Paulo. Tal projeto busca dar à cidade uma grande área verde, com lugares para exposições e lazer, juntando arquitetura e paisagismo modernos. O uso das curvas acentua a “leveza” das construções. Tanto na Marquise do Ibirapuera assim como no interior do Prédio da Bienal.
1953| Casa das Canoas, RJ
A construção da icônica Casa das Canoas, onde Oscar Niemeyer morou com a sua família durante muito tempo inicia-se neste ano e está localizada na Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro.
“Minha preocupação foi projetar a residência com inteira liberdade, adaptando-a aos desníveis do terreno, sem o modificar, fazendo-a em curvas, de forma a permitir que a vegetação nela penetrasse, sem a separação ostensiva da linha reta. E criei para as salas de estar uma zona em sombra, para que a parte envidraçada evitasse cortinas e a casa ficasse transparente como preferia.” (ON)
1954 | Participa do projeto de um conjunto de edifícios para o bairro Hansa, como parte do programa de reconstrução de Berlim ( Alemanha ).Projeta o Museu de Caracas na Venezuela.
1955 | Funda a revista Módulo no Rio de Janeiro
1956 | Brasília: Niemeyer é convidado por JK para juntos criarem “a mais bela capital do mundo”.
Juscelino Kubitshek (JK) é eleito Presidente do Brasil. Sua vontade principal é mudar a capital, então no Rio de Janeiro, do litoral para o centro do país, já prevista na primeira Constituição do Brasil.
Assim, elaborado pelo arquiteto junto de Israel Pinheiro e Ernesto Silva, é lançado o edital do concurso de um Plano Piloto para Brasília em setembro de 1956. Tal plano deveria propor todo o urbanismo da cidade, mas não previa o projeto dos edifícios públicos. Lúcio Costa é o vencedor do concurso.
“(…) Quando Juscelino transformou-se Presidente da República, ele já tinha um arquiteto no bolso, era Oscar Niemeyer. Era um arquiteto previamente escolhido. Isto quer dizer que o concurso foi somente na parte de urbanismo da cidade, o Plano Piloto. Eu elaborei o Plano Piloto. Eu não pretendia participar do concurso, mas, no meio do prazo, eu tive uma ideia, achei que valia a pena e concorri.” (Lúcio Costa – Entrevista à professora Ana Rosa de Oliveira, em 1992)
Niemeyer projetou diversas obras para a capital brasileira, entre elas podem-se destacar: o Palácio do Planalto, a Catedral de Brasília, o Congresso Nacional, o Palácio da Alvorada, e o Palácio do Itamaraty.
Brasília é como um “resumo” daquilo que o arquiteto já mostrara em seus projetos: o vidro junto ao concreto, a curva, as linhas de prumo, os pilotis e os vãos livres que tornam os prédios leves.
“A monumentalidade nunca me atemoriza quando um tema mais forte a justifica. Afinal, o que ficou da arquitetura foram as obras monumentais, as que marcam o tempo e a evolução da técnica. As que, justas ou não sob o ponto de vista social, ainda nos comovem.” (ON)
Inaugurada a cidade, vai então coordenar a Escola de Arquitetura da UnB.
1963 | Recebe o Prêmio Lênin da Paz, na URSS. É nomeado membro honorário do American Institute of Architects, dos Estados Unidos.
1965 | O gople militar. Niemeyer pede demissão da UnB e viaja para Paris.
A demissão juntamente com mais 200 professores é causada pelo golpe militar (1964) que torna evidente a dificuldade em viver e trabalhar no Brasil. Viaja então a Paris para visitar a exposição Oscar Niemeyer, l’architecte de Brasília, no Museu de Artes Decorativas do Palácio do Louvre. Recebe a medalha Juliot-Curie e o Grande Prêmio Internacional da Arquitetura e de Arte, da revista L’Architecture d’Aujourd’hui, ambos em Paris.
1967 |Niemeyer vai para o exílio na França.
A ditadura militar dura até 1985. Durante o exílio trabalha em diferentes projetos para vários países. Para isso, ganha do então presidente francês, Charles de Gaulle, uma licença especial para poder trabalhar no país com todos os direitos de um profissional francês.
1971 | Sede do Partido Comunista Francês e primeiros passos no desenho de mobiliário
“Dizem que a minha arquitetura não é funcional. Fiz a sede do Partido Comunista Francês e, dez anos depois, vieram pedir-me para projetar a sede do Humanité. Se não funcionasse, não me chamariam novamente.” (ON, O Estado de São Paulo, 8/11/98)
1972 | Abre seu escritório nos Champs Elysées, em Paris e projeta a Bolsa do Trabalho de Bobigny e o Centro Cultural de Le Havre em França.
Anos 80 | Depois de mais de uma década, o arquiteto retorna ao Brasil. Cria o Memorial JK (1980) e o o Museu do Índio (1982), ambos em Brasília, o prédio da Rede Manchete de Televisão(1983).
1983 | Realiza a primeira retrospectiva de sua obra, no Museu de Arte do Rio de Janeiro. Mesmo ano em que projeta com Darcy Ribeiro, o sistema de escola pública chamado de CIEPs ( Centro Integrado de Educação Pública).
1984 | Sambódromo do Rio de Janeiro
1985 | Projeto do Panteão da Pátria na Praça dos Três Poderes em Brasília.
1987 | Ano que projeta o Memorial da América Latina, na cidade de São Paulo, e o edifício sede do jornal I’Humanité, em Paris.
1988 | Na cidade de Chicago, recebe o Prêmio Pritzker de Arquitetura.
1991 | Projeta o Museu de Arte Contemporânea MAC, no Rio de Janeiro, e o Parlamento da América Latina.
1996 |Projeta o Monumento Eldorado Memória, doado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra.
1996 | Museu da Arte Contemporânea de Niterói
“Às vezes um projeto custa a se definir. O terreno era estreito, cercado pelo mar, e a solução aconteceu naturalmente, tendo como ponto de partida o apoio central inevitável. Dele a arquitetura decorreu espontânea como uma flor. A vista para o mar era belíssima e cabia aproveitá-la. E suspendi o edifício e sob ele o panorama se estendeu mais rico ainda. Defini então o perfil do museu.
Uma linha que nasce do chão e sem interrupção cresce e se desdobra, sensual, até a cobertura. A forma do prédio, que sempre imaginei circular, se fixou e, no seu interior, me detive apaixonado. À volta do museu criei uma galeria aberta para o mar, repetindo-a no segundo pavimento, como um mezanino debruçado sobre o grande salão de exposições. E me preocupei com os interiores, desejoso de que fossem bonitos e variados, convidando os visitantes para conhecê-los melhor. No terreno, minha ideia foi acentuar a entrada do Museu, desenhando a rampa externa. Um passeio ao redor da arquitetura. E senti que o museu seria bonito e tão diferente dos outros que ricos e pobres teriam prazer em visitá-lo.” (ON)
1999 | Projeta, o novo Parque do Ibirapuera, e o Setor Cultural de Brasília.
2000 |Cria o Auditório de Ravello, na Itália. Publica também seu livro de memórias em Londres.
2001 | Projeta o Museu do Cinema Brasileiro no Rio de Janeiro, Museu Oscar Niemeyer em Curitiba e o Acqua City Palace, em Moscou.
2002 | Inaugura o Museu Oscar Niemeyer (MON) Museu do Olho, em Curitiba. Projeta também o Auditório Ibirapuera.
2003 | Projeta o Serpentine Gallery Pavillon, no Hyde Park, em Londres. Inicia em Brasília a construção da Biblioteca Nacional e o Museu Nacional, ambos parte Setor Cultural de Brasília.
2004 | Projeta o Monumento a Paz na cidade de Paris.
2005 | Projeta o Parque Aquático de Potsdam, na Alemanha, e o Complexo Administrativo da Hidrelétrica de Itaipu.
2006 | Projeta o Centro Cultural Principado de Astúria, em Espanha, e o Memorial Leonel Brizola, no Rio de Janeiro e casa-se novamente.
Niemeyer se casa com Vera Lúcia Cabreira (nascida em 1946), com quem mora num apartamento em Ipanema, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano é inaugurado o Complexo Cultural da República, em Brasília, com o Museu Nacional Honestino Guimarães e a Biblioteca Nacional Leonel de Moura Brizola, formando um dos maiores centros culturais do país.
2007 | Ano de seu centenário, Assume junto com o governador José Roberto Arruda, o compromisso de projetar a sede do Arquivo Público do Distrito Federal e o Museu da Imagem e do Som, ambos na cidade de Brasília. Projeta a Universidade de Ciências e Informática em Cuba e o Centro Cultural em Valparaíso, no Chile.
2008 | Visita a cidade de Brasília, e lança no Museu Nacional o terceiro número de sua revistas de arquitetura ” Nosso Caminho”. Projeta o Teatro Puerto de la Musica de Rosário, na Argentina.
2010 | Cidade Administrativa de Minas Gerais. Curvas, concreto armado e o maior prédio suspenso do mundo. A Cidade Administrativa é considerada o projeto mais ousado de Oscar Niemeyer. A obra, realizada no governo Aécio Neves, abriga as Secretarias e órgãos do Estado e foi inaugurada a 4 de Março de 2010.
2012| O estado de saúde do arquiteto agrava-se casualmente e e internado várias vezes por deshidratação.
2012 | Morre com 104 anos a 5 de Dezembro.
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Fontes: BAPTISTA, Josely Vianna. – Oscar Niemeyer: O espetáculo arquitetural: cartilha dos estudantes / pesquisa e textos Josely Vianna Baptista, Luis Dolhnikoff e Francisco Faria – Curitiba: Museu Oscar Niemeyer, 2007)
Sítios: ON – Oscar Niemeyer e Pritzker Prize