A água tem sido muito utilizada como um elemento por designers de forma incrivelmente criativa. Novas praças e parques fornecem água em todos os tipos de formas: cachoeiras, corredeiras, paredes de água, piscinas tranquilas, túneis de água, riachos sinuosos e diversas fontes. Porém, em apenas um aspecto importante há uma falha: em seu acesso.
Uma das melhores coisas sobre a água é a sensação que causa nas pessoas: adoramos tocá-la. No entanto, em muitos lugares, a água é só utilizada como um elemento visual, para ser olhada. Deixe que um pé a toque e um guarda estará lá em um instante. Há sempre um empecilho - não é permitido, há produtos químicos na água, há perigo de contaminação.
Não deveria ser correto disponibilizar elementos com água em espaços públicos e depois proibir que as pessoas os utilizem. Mas isso é o que vem acontecendo por todo o mundo. Piscinas e fontes são instaladas em parques e praças, mas logo em seguida são sinalizadas com advertências para que as pessoas não entrem em contato com a água. Igualmente notório é o zelo com que muitas piscinas são continuamente esvaziadas, recarregadas, aspiradas e limpas, como se a função principal delas fosse a sua manutenção.
A segurança é a razão habitual dada para manter as pessoas afastadas. Na França, por exemplo, várias fontes localizadas em pequenos espaços públicos entre quadras, altamente utilizadas por crianças nos tempos de verão, foram desativadas pois o piso de pedra em contato com a água se tornava escorregadio, provocando pequenos acidentes com as crianças. A comunidade, juntamente com as prefeituras, ao invés de optarem por reformas que tornassem o espaço adequado, retiraram as fontes que atraíam as crianças.
Mas há maneiras melhores do que a proibição para lidar com este problema. Na Fonte do Auditório Forecourt, em Portland, Oregon, as pessoas têm escalado para cima e para baixo um complexo de canais e cachoeiras para crianças de seis anos. Parece perigoso – o designer Lawrence Halprin projetou para parecer perigoso - e, desde o dia em que abriu, não houve acidentes graves. Esta fonte é uma afirmação de confiança nas pessoas, e isso diz muito sobre a boa cidade de Portland.
Outra grande coisa sobre a água é o som dela. Quando as pessoas explicam por que elas acham Paley Park de Nova York tão calmo e tranquilo, o que sempre mencionam é a parede de água. Na verdade, a parede de água é bem alta: o nível de ruído é de cerca de 75 decibéis quando perto, mensuravelmente maior do que o nível na rua. Além disso, o som - tomado por si só - não é especialmente agradável. Já reproduziram o som para as pessoas e perguntaram-lhes o que elas achavam que era. Normalmente elas faziam careta e diziam um trem do metrô, caminhões em uma rodovia, ou algo tão ruim quanto. No parque, no entanto, o som é percebido como muito agradável. É um som branco e disfarça as buzinadas intermitentes e estrondos que são os aspectos mais irritantes do barulho da rua. O barulho da água também mascara conversas. Embora existam muitos outros por perto, você pode falar bem alto para um companheiro e desfrutar de uma sensação de privacidade. Nas ocasiões em que a parede de água é desligada, o feitiço é quebrado, e o lugar não parece tão agradável. Ou, tão tranquilo.
Trecho extraído do livro The Social Life of Small Urban Spaces, por William H. Whyte via PPS. Adadptado por Archdaily Brasil.