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Nossos amigos do Project for Public Spaces (PPS) elaboraram um guia com 13 conselhos que podem ser levados em consideração pelos municípios na melhoria dos espaços urbanos das cidades costeiras, a fim de torná-los lugares mais atrativos e que protejam a identidade da cidades e seus habitantes.
Na seqüência os 13 conselhos da PPS.
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1. Estabelecer metas públicas como objetivo primordial
Ao se construir ou remodelar uma orla, os municípios devem trabalhar sobre um princípio básico: satisfazer as necessidades públicas rapidamente ao invés de satisfazer as conveniências financeiras do setor privado. Segundo a PPS, isto se acontecerá quando os municípios determinarem que suas orlas são um bem público, nos quais os cidadãos cumprem um papel ativo.
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2. Criar uma visão compartilhada para a costa
Para se projetar uma orla costeira, o ideal é incluir a visão dos cidadãos na etapa de planejamento e desenho, convidando-os a pensar em novas propostas e metas para este espaço público, que podem ser integradas gradualmente. Além de atingir um desenho pensado no usuário, ao se criar uma visão compartilhada, as transformações e atividades que acontecem na orla ganham credibilidade.
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3. Criar destinos múltiplos: “O Poder dos Dez”
A PPS elaborou uma proposta que permite estruturar um plano a longo prazo para qualquer orla costeira: “O Poder dos Dez”. Este consiste em criar dez grandes destinos ao longo de toda a linha costeira, onde os cidadãos criariam um sentido de comunidade em espaços públicos abertos. Uma vez identificados os dez lugares, o uso de cada um deles pode ser definido por autoridades municipais, organizações cidadãs e empresários locais. O ideal é que cada destino permita realizar dez atividades distintas, garantindo assim uma orla ativa, diversificada e multifuncional.
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4. Conectar os destinos
Os dez destinos propostos no ponto anterior devem estar conectados entre si ao longo da orla costeira. A chave para isso se baseia na necessidade de assegurar continuidade de deslocamento para os pedestres, pois uma borda costeira caminhável com uma ampla variedade de atividades em toda a sua extensão se conectará com êxito a outros destinos, permitindo que cada um deles se fortaleça com o fluxo de pedestres.
Conectar os destinos não significa apenas unir dez lugares entre si, mas também criar conexões com outros pontos da cidade. Um exemplo disso é o Passeio Marítimo de Helsinki, na Finlândia, onde as pessoas podem se deslocar do centro da cidade até a orla costeira através de um trajeto reto que conta com vias para automóveis, ciclovias e um passeio de pedestres, todos acompanhados de árvores e flores, com vista direta para o mar.
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5. Aperfeiçoar as vias de entrada do público
Para que as orlas costeiras sejam utilizadas e visitadas pela maior quantidade de gente possível, é vital criar vários acessos em toda a extensão do passeio, pois quando estes não existem, o público diminui consideravelmente, pois se estabelece visualmente um obstáculo até ele. Por isso, é de suma importância que os acessos não interrompam os espaços públicos e assegurem a continuidade da orla costeira.
O passeio costeiro Balboa California Island,localizado na costa de Newport Beach, possui todo seu litoral disponível ao público, ao invés de privilegiar as propriedades privadas com vista para o mar.
O acesso também implica em um contato com a água através de muitas formas, como nadar, fazer um picnic, navegar, dar comida às aves, etc. Contudo, como existem praias que não são adequadas ao banho, a PPS propõe substituir as atividades aquáticas por outros tipos de acesso à água, como jogos infantis em piscinas, à semelhança das praias que foram instaladas em Paris, em uma porção da orla do rio Sena.
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6. Assegurar que o projeto da orla costeira se ajuste à visão da comunidade
Quando a visão dos cidadãos é primordial em um projeto de revitalização de um passeio costeiro, os novos desenhos devem ser adaptados para satisfazer seus objetivos e expectativas. Para a PPS, as orlas costeiras são valiosas demais para serem entregues ao setor privado e permitir que ele dite as pautas de crescimento e desenvolvimento ao orientar os novos desenhos a um perfil de habitante muito diferente das pessoas locais. No entanto, isto não deve ser interpretado de forma a ver o desenvolvimento através do setor privado como algo que não traz benefícios para a comunidade, mas, por outro lado, que este projeto deve privilegiar as necessidades locais. Tampouco se deve interferir nas conexões peatonais, ciclovias e estacionamentos para os automóveis.
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7. Não limitar as atividades públicas do passeio costeiro para privilegiar o desenvolvimento residencial
Por que nos grandes passeios de pedestres não existem zonas residenciais? Segundo a PPS, esta situação ocorre pois estes lugares estão repletos de gente durante o dia e a noite. Além disso, suas dimensões e localização os fazem locais ideais para consertos, festivais, feiras, lançar fogos de artifícios e outros eventos que atraem um grande número de pessoas.
Para a PPS, as autoridades não devem permitir o desenvolvimento imobiliário nos arredores imediatos dos passeios costeiros, pois os proprietários não querem ser perturbados pelos ruídos dos eventos e limitam o horário de funcionamento das atividades nos passeios. Com isto, a urbanização das orlas costeiras limita a diversidade de atividades e as proíbe em certos horários, privatizando um espaço que é público.
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8. Construir parques para conectar destinos
Em cidades como Nova Iorque, Toronto e Vancouver, os parques foram construídos como destinos em si, dando lugar a uma “ecologização” das orlas costeiras que não mesclam atividades e, conseqüentemente, não atraem público, pois é o mesmo que se encontra em cidades sem praias. Por outro lado, em Baltimore, Estocolmo, Helsinki e Sidney, os parques que se localizam nas orlas costeiras são utilizados como parte do tecido conectivo da cidade, unindo os principais destinos.
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9. Edifícios baixos para ativar o espaço público
A construção de grandes torres na orla de lagos, praias e rios é absolutamente descontextualizada, pois estas atuam como um muro visual e psicológico para os bairros que estão atrás desta linha de edifícios. Por isso, a PPS coloca que a edificação na orla costeira deve ser de baixo gabarito e deve combinar usos comerciais e públicos no térreo para somar-se os espaços públicos da costa.
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10. Apoiar múltiplos meios de transporte e limitar o acesso de veículos
O público aumenta consideravelmente quando se pode acessar através de diferentes meios de transporte e não apenas o automóvel. Andar de bicicleta e caminhar são parte importante da mescla de modos de transporte, o que se comprova nas orlas de Estocolmo, Helsinki, Hong Kong, Sidney e Veneza, que já contam com passeios de pedestres e ciclovias.
Embora à primeira vista as pessoas não tenham tomado gosto pela restrição dos estacionamentos de carros, aos poucos optaram por outros meios que lhes permitem evitar os congestionamentos e, conseqüentemente, a perda de tempo. No caso das pessoas com mobilidade reduzida, a PPS coloca que se aumente o número de estacionamentos para elas e que se utilizem cores fortes para distingui-los.
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11. Integrar atividades de temporada em cada destino
Embora as zonas costeiras se caracterizem por más condições climáticas, isto não justifica que seus passeios não sejam palco de atividades durante o inverno. Por isto, se deve criar uma programação e infraestrutura especial para os meses mais frios e chuvosos, para que prosperem as atividades econômicas e o público não deixe de circular por estes espaços públicos.
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12. Construir edifícios emblemáticos para criar um destino multiuso
Segundo a PPS, uma estrutura icônica pode ser de grande ajuda na revitalização de um passeio costeiro, pois atua como um destino multiuso. Por exemplo, o edifício municipal de Estocolmo foi construído nos arredores da orla costeira, onde se pode navegar e percorrer o parque que cerca o edifício.
Dessa forma, o edifício é visto como um ícone da cidade e cria um forte sentido de lugar público.
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13. Administrar, gerir, administrar
A gestão contínua dos passeios costeiros é essencial para mantê-los ativos durante todo o ano e poder realizar eventos. Existem municípios que adotaram o modelo de melhoramento comercial que consiste em estabelecer alianças entre as empresas e as organizações cidadãs a fim de financiar exposições temporárias de artistas e músicos locais, para que a borda tenha um caráter identitário único que esteja alinhado ao perfil da comunidade.
Texto via Plataforma Urbana. Tradução Archdaily Brasil