A construção do território se manifesta no espaço físico a partir dos valores dominantes que se promovem a partir do poder, configurando a vida cotidiana e o comportamento social. A este respeito, a urbe como construção ideológica do território baseia-se em um contexto mercantilista focado principalmente em objetos de transação material sobre o espaço, o que pode denominar-se como o fluxo de bens e serviços (mercadorias).
Para este efeito, os espaços urbanos se constroem como espaços de trânsito, como a sucessão de galerias e vitrines dispostas a dinamizar a oferta e a demanda, invadindo por completo silêncio e o estancamento (antagônicos ao progresso e o dinamismo). Os espaços de ócio como as praças e os parques - que constroem espaços de silêncio - são substituídos e reduzidos por espaços de fluxo como os shoppings , articulados em uma rede de corredores e de vitrines onde o indivíduo se vê impossibilitado de silêncio. Os espaços urbanos são principalmente de trânsito, de anonimato e intercâmbio e a tendência atual é de incrementar e acelerar estes espaços como fluxos de informação por quais o indivíduo transita e consome.
Os fluxos subtraem a individualidade e também impossibilitam a apropriação do território, funcionalizando a atividade humana através da lógica de transação e não da produção real do espaço. O ato criativo é substituído pelo ato de compra (consumo) e a produção substituída por transação, negando a possibilidade de construir o espaço como uma entidade criativa e criadora. Os fluxos constituem uma desumanização alienando o indivíduo do público até não existir raízes locais construídas por quem habita.
A constante negociação do ócio, reflexividade, contemplação, coloca o indivíduo em uma espécie de mal-estar que desesperadamente necessita de espaços e dos fluxos mercantis, mas que por sua vez são constantemente negados por estes. O valor primordial que as cidades dão a velocidade dos fluxos negam a introspecção, a possibilidade de refletir sobre o sentir, do dialogo com o intersubjetivo e vão construindo o indivíduo em uma partícula funcional de um espaço impessoal. O indivíduo cai no anonimato e sucumbe ante os fluxos da urbe.
É, portanto, adequado reconstruir a quietude dentro do espaço urbano como resposta aos fluxos. As cidades requerem oxigenação para reconstruir a comunidade e os laços sociais quebrados, permitindo-se reconstruir o valor do indivíduo através do ócio com a qualidade na construção da identidade do público. Tornam-se necessários os lugares de suspensão da vida cotidiana como novos espaços de produção material.
Texto por Javier Zárate, Sociólogo via Plataforma Urbana. Tradução Archdaily Brasil.