As fotógrafas Ana Mello e Evelyn Müller foram as convidadas do último episódio do Betoneira e a conversa girou em torno do trabalho do fotógrafo de arquitetura e decoração, atribuição do autor e propriedade da fotografia. Müller falou sobre o começo do Conafarq (Coletivo Nacional de Fotógrafos de Arquitetura), durante a pandemia, quando muitos fotógrafos ficaram sem trabalho por meses. Embora o mercado estivesse parado, os fotógrafos observaram que suas fotos realizadas no pré-pandemia continuavam a ser usadas por muitos clientes em diversos contextos - redes sociais, e-mails, etc. Pequenos grupos começaram a se articular para falar sobre a necessidade dos fotógrafos receberem por suas fotos, sempre que elas forem usadas comercialmente.
Evelyn Müller contou que havia vários grupos em diversos estados do Brasil, e o Conafarq surgiu para unir todos eles. No final de 2020 Evelyn e outros fotógrafos foram conversar com alguns advogados para entenderem os seus direitos e deveres; esse era um passo fundamental para a formação do Conafarq. Muitas vezes, quando os fotógrafos questionavam o uso de suas imagens, o cliente dizia “mas você já foi pago.” Era uma preocupação do Conafarq que ficasse claro que os fotógrafos não estavam sendo mesquinhos ou aproveitadores. Trata-se da defesa dos seus direitos no campo profissional.
Em 8 da janeiro de 2021, dia do fotógrafo, o Conafarq foi então criado. Recentemente ele se tornou um órgão de classe, habilitado para lutar pelos direitos dos profissionais.
“A profissão do fotógrafo sempre foi muito solitária, não havia muito com quem trocar. É emocionante termos, hoje, tantos associados.”
O Conafarq conta, hoje, com 340 fotógrafos do Brasil todo. Ana Mello contou que elas não tinham ideia de que existissem tantos profissionais da área; um grupo foi puxando outro, e o Confarq foi crescendo. Lives públicas com advogados e outros profissionais foram feitas no início da iniciativa, para conscientizar todos os associados. A dupla de entrevistadas também contou que os clientes atendidos pelos fotógrafos vão de arquitetos até fornecedores de materiais da construção civil, passando por editoras, incorporadoras, designers e empresas de mobiliário. A abrangência nacional com Conafarq rompe o eixo Rio-São Paulo e abre conversas com fotográfos e clientes do Centro Oeste, Norte, Nordeste etc.
Evelyn Müller trabalhou no mercado publicitário e contou como eram feitos os contratos na época em que a fotografia era analógica. A imagem, uma vez impressa, ficava na mão do cliente. Se ele compartilhasse a fotografia, a perderia. Por isso, não havia a cultura do compartilhamento e, em contrato, as condições eram sempre esclarecidas. A fotografia será usada em outdoor? Na revista? Em catálogos de marketing impressos? Hoje em dia, os clientes respondem “é só para o Instagram.” Mas o Instagram, justamente, é responsável por um volume grande de vendas.
Se o fotográfo foi contratado por um arquiteto, para documentar um projeto finalizado, é o arquiteto quem pode utilizar a imagem. Se a construtora, a empresa de cadeiras ou de tapetes quiser usar a mesma foto, é preciso que ela pague pelo direito de imagem. Ana Mello ressaltou que essa conscientização é um trabalho de formiguinha, pois se trata de educar o mercado para esse novo momento em que vivemos, de alta conectividade e vida digital intensa.
“O perfil de Instagram do Conafarq é bem didático, utilizamos memes e posts para explicar ao mercado os direitos de licença da imagem.”
A conversa também abordou os benefícios da relação longeva entre fotógrafos e arquitetos, e como esse tipo de parceria começou no surgimento da arquitetura moderna. Segundo Ana Mello, alguns arquitetos enxergaram a força que uma boa divulgação tem; olhar a arquitetura pode potencializá-la. Em um momento de transformação do espaço e das cidades, parcerias históricas como a de Lucien Hervé com Le Corbusiser e também de Ezra Stoller com Louis Skidmore, entre outros, mostraram a potência de uma parceria sólida.