Fazer mais com menos é uma questão arquitetônica urgente. Mais ainda se pensarmos no contexto recente, em que às questões ambientais sobrepõem-se crises econômicas e sociais em diversas partes do mundo. É nesse contexto que o escritório Branco Del Rio Arquitectos vem desenvolvendo sua prática desde que foi fundado em 2014, na cidade de Coimbra. Nascida num período de instabilidade em Portugal, a firma é o resultado da busca de Paula del Rio e João Branco por uma arquitetura simples que procura responder às demandas impostas da forma mais objetiva possível.
Em menos de dez anos de atuação, o escritório coleciona prêmios em concursos, reconhecimentos internacionais e, recentemente, foi selecionado como uma das melhores Novas Práticas do ArchDaily de 2023. Tivemos a oportunidade de conversar com os arquitetos sobre sua experiência com reabilitações, seus projetos de habitação coletiva e sua prática caracterizada pela economia de meios.
Romullo Baratto (ArchDaily): Podem contar como vocês se conheceram e como surgiu o Branco Del Rio Arquitectos?
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ArchDaily seleciona as melhores Novas Práticas de Arquitetura de 2023Branco Del Rio Arquitectos: Conhecemo-nos em Madrid, na ETSAM, em 2011. Nós dois fizemos o MPAA, Máster en Proyectos Arquitectónicos Avanzados, e ambos demos aulas de projeto naquela instituição. Em 2014, já com alguns trabalhos em andamento em Portugal, fundamos nosso escritório em Coimbra.
No site de vocês há uma extensa lista de colaboradores na equipe. Como o escritório se organiza hoje em dia?
Na realidade somos poucos, o mínimo possível! Já passaram alguns colaboradores pelo escritório, principalmente através de estágios curriculares, porque estamos próximos do Darq (Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra).
Neste momento, somos nós dois e mais três pessoas. Tentamos ter sempre menos pessoas do que aquilo que eventualmente seria necessário, para termos sempre toda a gente com trabalho para fazer. Pensamos que assim trabalhamos melhor, com mais intensidade.
O momento que Portugal está vivendo após a recuperação da crise econômica de 2008 gerou uma onda de projetos de reabilitação residencial. Poderiam contar um pouco da experiência de vocês trabalhando reformas de interiores em edifícios antigos?
Portugal, desde os anos 1990, tinha esquecido os centros das cidades, deixados vazios para construir casas nas periferias. Finalmente o caminho começou a reverter-se, eventualmente por influência do turismo, e o trabalho dos últimos 15 anos, praticamente desde que nos formamos, tem se baseado muito na recuperação ou reabilitação dos centros urbanos.
É o tipo de trabalho em que nos formamos — a intervenção sobre o construído — e nos sentimos à vontade com esse tipo de encomenda. É um trabalho sempre interessante, pela relação entre o que já existe e o que se tem de fazer. As formas de fazer, por continuidade, por contraste, por justaposição etc. obrigam-nos sempre a um olhar atento ao que já lá está, o que é uma ótima aprendizagem: aprender a ver.
Intervir no construído é também uma forma de contenção energética, e isso cada vez nos interessa mais — conseguir o melhor resultado com o mínimo de jogadas.
Por outro lado, o escritório tem sido reconhecido em prêmios e concursos de projeto de habitação coletiva. Desse conjunto de propostas, espera-se que algumas saiam do papel, certo? Podem comentar sobre esses projetos?
Sim, em Portugal tem havido uma série de concursos para habitação a custos controlados, para responder à escalada de preços dos aluguéis nos centros das cidades, incompatíveis com a renda de uma parcela significativa da população.
Começamos a participar de concursos e tivemos a sorte de ganhar dois e ficamos em segundo em outros dois. Um, com 28 unidades habitacionais, já está em obra e o segundo, com 183 unidades, está em etapa de projeto executivo e entrará em obra no próximo ano.
É um tema que nos apaixona, a habitação coletiva, por fazer cidade e por condicionar diretamente a vida de pessoas, eventualmente de muita gente. É um privilégio estar a trabalhar nesses projetos.
Temos discutido e investigado bastante as alterações das formas de vida, questões como o trabalho, o gênero, ou o agregado familiar, e as implicações que estas alterações têm, ou devem ter, nas formas de habitar. São, por isso, tempos interessantíssimos para trabalhar neste tema, que já leva uns 100 anos (esse foi o grande desígnio da arquitetura moderna!) de investigação e trabalho para servir da melhor forma o maior número de pessoas.
Ainda sobre os concursos de projeto, como enxergam a importância deles para o cenário atual da arquitetura portuguesa?
Pensamos que os concursos de projeto, públicos e anônimos, são o melhor que pode acontecer à arquitetura de um país. Não temos qualquer dúvida de que eleva o standard, levando a classe dos arquitetos a estudar mais para trabalhar melhor e, como consequência, fazer melhores projetos. É também muito importante a possibilidade que estes concursos dão aos jovens arquitetos de ter acesso a encomendas que nunca teriam de outra forma, é uma forma de justiça geracional.
Além da prática projetual, vocês dois têm carreiras acadêmicas, PhD e experiência como professores. Como a docência interfere na prática do escritório — e como esta influencia aquela?
Para nós o projeto é o centro de tudo. Sabemos que à volta do projeto gravita muito conhecimento. A docência e a investigação só nos interessam pelo projeto, são formas de nos aproximarmos dele a partir dos nossos pontos de interesse, ou dos interesses dos estudantes.
O projeto é uma forma autónoma de pensar, e por isso não há para nós grande diferença entre o pensamento da prática projetual ou da docência ou da investigação, todas contribuem para aprendermos e trabalharmos melhor.
Os projetos do escritório parecem operar a partir da noção de economia de meios. Isso se reflete na linguagem — desenho enxuto, paleta de materiais concisa. O que embasa essa abordagem?
Nós nos formamos como arquitetos no meio de uma enorme crise econômica, em que muitos dos nossos colegas tiveram de emigrar para sobreviver. Temos uma longa tradição de país pobre que se reflete, para o bem e para o mal, no nosso patrimônio construído e na nossa cultura arquitetônica. Perdemos, nas duas grandes ondas de emigração das décadas de 1960 e 2010, imenso conhecimento e mão de obra para outros países. Apesar de termos a sorte de ter um clima ameno, que alivia um pouco o sofrimento da má construção, temos uma mão de obra bastante desqualificada e um sistema de contratação pública que não se baseia na qualidade, mas sim no preço.
Tudo isto afeta a forma como trabalhamos, e leva-nos a tentar simplificar em tudo o que conseguimos. Desde o desenho de uma ideia a um detalhe construtivo. Idealmente, cada solução a que chegamos deve resolver vários problemas ao mesmo tempo. Tudo o que fazemos deve ser claro, facilmente interpretável, justificável por razões objetivas, e o mais barato possível.
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