O espaço nos quadrinhos: uma entrevista com Marília Marz

O trabalho de Marília Marz tem as cidades como fonte de inspiração e pesquisa. Ela começou a conversa no Betoneira contando sobre sua experiência no programa Ciência Sem Fronteiras, através do qual foi para os EUA estudar arquitetura e acabou se apaixonando pela disciplina de quadrinhos. A artista mergulhou de cabeça no universo gráfico, na Universidade de Oregon, onde também se formou o quadrinista Joe Sacco. Marília Marz ressaltou que a escolha da universidade acabava sendo um pouco aleatória no programa; nem todo mundo conseguia ir para a instituição de sua escolha. Ela acabou caindo em uma faculdade que não estava entre as suas opções, mas que é uma das poucas faculdades que têm o curso de quadrinho como formação secundária.

O departamento de arquitetura estava junto com o departamento de artes e através de diversas matérias disponíveis, Marília Marz aprendeu a fazer quadrinhos em forma de zine; além disso, cursou matérias sobre personagens famosos dentro do universo dos quadrinhos, como Batman.

A convidada ressaltou que a experiência nos EUA foi seu primeiro contato formal com os quadrinhos, mas ela já desenhava há tempos, entre amigas. Lia muitos mangás também; embora ela ainda não tivesse produzido nada prróprio, os quadrinhos eram muito presentes em sua vida. Antes do intercâmbio, Marília Marz ainda não enxergava os quadrinhos como uma possibilidade de carreira e trabalho. “Existem até os teóricos das HQs” Em 2017 realizou seu primeiro quadrinho longo, que foi também seu TCC, a história com o título de "Indivisível", uma narrativa sobre a cultura negra e leste asiática no bairro da Liberdade, em São Paulo. A HQ foi contemplada pelo edital PNLD 2021 (Plano Nacional do Livro Didático) e uma nova edição foi lançada em 2022 pela editora Conrad.


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Marília Marz contou que estava passando por um processo de reconhecimento da sua identidade como mulher negra e, através de um professor, decobriu que o bairro da Liberdade foi um bairro negro. De um lado da HQ, a artista conta como era o bairro no século XIX e, do outro, como ele é hoje em dia. Depois do quadrinho ter sido contemplado pelo PNLD, Marília entrou em uma nova fase na sua carreira.

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"Indivisível", de Marília Marz

A convidada também falou sobre o número crescente de mulheres negras na cena dos quadrinhos, uma área historicamente dominada por homens.

O imaginário dos quadrinhos ainda é muito de homens que desenham super-heróis.

A conversa terminou com a relação entre arquitetura e quadrinhos. Marília Marz defende que, de certa forma, o quadrinista tem o desafio de organizar espacialmente a história, assim como o arquiteto. “No meu trabalho a arquitetura, os espaços e as cidades estão muito presentes, sempre.” Para Marília, a cidade é a própria personagem. Mesmo quando ela vai desenhar uma janela ou um rosto, a cidade acaba entrando. A artista também citou outros quadrinistas que têm a cidade como tema, tais como Will Eisner e Joe Sacco.

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Assista ao episódio.

Sobre este autor
Cita: Betoneira. "O espaço nos quadrinhos: uma entrevista com Marília Marz" 30 Set 2023. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1007046/o-espaco-nos-quadrinhos-uma-entrevista-com-marilia-marz> ISSN 0719-8906

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