Os países africanos emitiram uma dura declaração conjunta em que cobram os principais países poluidores a ajudar as nações mais pobres a se desenvolver sem destruir ainda mais o clima e a natureza do planeta, como fizeram os países ricos. Os africanos defendem uma taxa global sobre o carbono como forma principal de viabilizar os investimentos sustentáveis nos países vulneráveis.
O novo imposto seria aplicado sobre combustíveis fósseis, transporte marítimo e aviação – os setores mais implicados na mudança do clima – e poderia ser complementado com um imposto global sobre transações financeiras, voltado ao mercado de ações e grandes fundos de investimento.
A declaração foi publicada no encerramento da Cúpula do Clima da África, realizada em Nairobi, no Quênia, na semana passada. O documento renova a cobrança por uma reforma ampla nas instituições financeiras multilaterais, como Banco Mundial e FMI, e defende uma nova Carta Global de Financiamento Climático até 2025, o que deve culminar com a realização da COP30, em Belém do Pará.
O risco de que a temperatura média global possa extrapolar a meta de Paris de 1,5C é dramático para o continente, que é a região que menos contribuiu para a mudança climática. Além de agravar as secas e a desertificação que já estão causando escassez de alimentos, o clima extremo aumenta a frequência de ciclones em países como Moçambique e Malaui, onde meio milhão de pessoas já foram deslocadas e mais de 600 morreram por enchentes e deslizamentos de terra em março de 2023.
Além dos efeitos das mudanças climáticas, o continente ainda está se recuperando dos efeitos da pandemia da COVID-19, que levou a um endividamento significativo, limitando a capacidade fiscal para estabelecer políticas climáticas.
Um dos pontos mais enfatizados do documento é a urgência de um crescimento robusto da energia renovável no continente até o fim desta década – dos atuais 56 GW para 300 GW, em 2030.
“Os impactos da mudança climática estão comendo impiedosamente o progresso econômico da África”, disse o presidente queniano, William Ruto, em seu discurso de abertura. “Os 54 países africanos devem se tornar verdes rapidamente antes de se industrializarem, e não vice-versa, ao contrário do que [países ricos] se deram ao luxo de fazer”.
Ruto é apontado como uma das lideranças climáticas mais coerentes do cenário político atual, angariando apoio dentro e fora da África para uma taxa de carbono global que se converta em investimento sustentável nos países pobres.
Energia renovável
O Quênia tem eletricidade 93% renovável, contrastando com a média do continente, que atraiu apenas US$ 60 bilhões (2%) dos US$ 3 trilhões de investimentos em renováveis em todo o mundo nas últimas duas décadas. Sem energia limpa e barata, o custo alto da energia fóssil torna a eletricidade inacessível para cerca de 600 milhões de africanos atualmente.
Para atrair mais fundos e aumentar a capacidade de geração, a declaração de Nairóbi reconhece a necessidade de aumentar a demanda por energia renovável e não somente a capacidade de geração. E recomenda, como forma de aumentar a demanda, transferir o processamento primário das matérias-primas obtidas na África para o próprio continente. Entre 30 e 40% dos minerais críticos para as energias renováveis estão no subsolo africano.
“Vamos fazer da África uma superpotência de energia renovável”, clamou António Guterres durante o segundo dia da Cúpula, que contou com outros participantes de alto nível político, incluindo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente da COP28, Sultan Al Jaber.
“Estou animada para ver os líderes africanos e globais convergirem para discutir como a África pode liderar o caminho nesta crise climática com soluções para a África e o mundo. Atualmente, fala-se de energia renovável em todos os lugares. Vamos manter o ímpeto enquanto nos dirigimos para a COP28 e para o futuro do nosso planeta”, disse Wangari Muchiri, diretora para África do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC).
Via CicloVivo.