Materiais vernaculares para uma modernidade africana: entrevista com Worofila

Fundado pela arquiteta senegalesa Nzinga Mboup e pelo arquiteto francês Nicolas Rondet, o Worofila é um estúdio dedicado à arquitetura bioclimática e ecológica. Com sede em Dakar, Senegal, o escritório explora o potencial de materiais vernaculares, como tijolos de terra e fibras vegetais, aplicando técnicas contemporâneas para criar soluções construtivas eficazes. Seu trabalho aborda questões fundamentais relacionadas ao meio ambiente, sustentabilidade e urbanização, unindo materiais tradicionais a práticas inventivas.

Nesta entrevista, Nzinga e Nicolas compartilham sua visão sobre uma modernidade africana distinta, que integra métodos contemporâneos com conhecimentos e recursos tradicionais. Eles defendem uma abordagem de desenvolvimento que não apenas atenda às necessidades imediatas, mas também empodere comunidades e promova um progresso significativo e duradouro. Suas ideias oferecem uma perspectiva instigante sobre como a arquitetura pode impulsionar um futuro mais sustentável e contextual para as cidades africanas.

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Romullo Baratto: Nzinga, você é natural do Senegal, estudou na África do Sul e no Reino Unido, e trabalhou tanto em Londres quanto em Dakar. Nicolas, você é da França e trabalhou em Paris antes de se mudar para o Senegal. Como vocês dois se conheceram? Poderiam nos contar sobre o início do Worofila?

Nicolas Rondet: Eu estava em Dakar há duas semanas quando conheci uma pessoa que mais tarde se tornou um amigo. Ele conhecia muitas pessoas interessantes, e Nzinga era uma delas. Compartilhávamos as mesmas motivações e objetivos, e estávamos em estágios semelhantes em nossas vidas pessoais.

Nzinga Mboup: Eu tinha acabado de voltar de Londres, onde trabalhei por três anos na AJ Associates antes de me mudar para o Senegal. O último projeto em que trabalhei lá era para uma agência do Banco Mundial em Dakar — um projeto que usava blocos comprimidos como preenchimento na fachada. Viajei muito entre os dois países, então, no último ano antes da minha mudança, vinha frequentemente ao Senegal para coordenar o projeto com os agentes locais. Um desses profissionais era um amigo que também fabricava esses blocos. Quando visitei sua fábrica, fiquei impressionada com o que vi.

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Nicolas Rondet e Nzinga Mboup. Foto © Jessica Sarkodie

Eu disse a ele que seria fantástico ter um coletivo de arquitetos experimentando com esses blocos, realmente mostrando o que poderia ser feito com eles. Ele respondeu que já conhecia alguns arquitetos e estava tentando organizar algo. Mais tarde, quando voltei para trabalhar em um projeto para meus pais, precisava de um espaço de trabalho. Ele comentou que tinha um escritório disponível em Dakar e disse que alguns arquitetos se reuniam lá às terças-feiras. Ele me apresentou a eles, e foi assim que conheci Nicolas.

RB: Então, tudo aconteceu de forma bem orgânica, quase natural, para vocês.

NM: Sim, exatamente. O timing foi perfeito. Começamos a trabalhar juntos, e então fomos selecionados para um concurso organizado pelo governo. Nicolas e eu éramos os que tinham mais disponibilidade, então acabamos trabalhando juntos de forma mais próxima, desenvolvendo o projeto com contribuições do restante da equipe.

O edital pedia um edifício para o Ministério do Meio Ambiente que usasse materiais bio e geossustentáveis. Nossa proposta usava principalmente terra e typha (vegetal também conhecido como taboa). Colaboramos com um arquiteto paisagista, que fez uma parte significativa do projeto. Também precisávamos realizar simulações térmicas para demonstrar que nosso projeto funcionaria de forma eficaz. Isso exigiu trabalhar de perto com um engenheiro especializado em conforto térmico para entender como nossas escolhas projetuais impactariam as estratégias passivas e garantiriam o conforto térmico natural.

NR: Foi aí que o "dream team" nasceu. Trabalhamos tanto nesse projeto — foi um excelente ponto de partida. Também foi divertido, pois ambos tínhamos acabado de chegar a Dakar.

RB: O site de vocês menciona que o nome "Worofila" vem da rua onde estão sediados em Dakar, refletindo o respeito pelo contexto. O que a palavra "contexto" significa para vocês?

NR: Tudo! Quer começar, Nzinga?

NM: Queríamos que o nome refletisse nosso compromisso de estarmos enraizados no contexto local, mas também que transmitisse a ideia de uma sensibilidade em relação a onde estamos agora. Viemos de lugares distintos. No início, éramos seis pessoas de diferentes países, então era muito importante encontrar um nome que pudesse nos ancorar no lugar onde operamos.

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Cortesia de Worofila

No começo, eu nem sabia que estávamos na Rua Worofila. Foi o Nicolas que comentou isso. Então, embora seja um nome bastante comum, ele está profundamente ligado ao lugar onde nos reunimos pela primeira vez — um lugar com uma história única que possibilitou nossa existência em conjunto. Estar enraizados nesse local nos faz sentir parte da comunidade. É reconfortante, tranquilizador e também fortalecedor.

NR: O contexto também é fundamental para a forma como abordamos a arquitetura, como pensamos a cidade e como trabalhamos. Quando digo que significa tudo, é porque o contexto molda o projeto desde o início — é parte integral do nosso processo de projeto e também de como as pessoas irão eventualmente habitar o espaço.

O contexto pode se referir ao terreno, aos elementos que você encontra no local onde está construindo, mas também representa o que nos cerca, o que queremos evocar e o que pretendemos projetar. Nesse sentido, o contexto é uma forma de pensar, uma forma de construir. Envolve o uso de materiais locais, conhecimento local e mão de obra local — todas essas são ferramentas para criar nossos projetos. Por isso o contexto é tão importante para nós. Não estamos tentando inventar algo novo; queremos permanecer enraizados, trabalhando com a realidade.

RB: O que levou vocês a trabalhar com terra crua e typha?

NR: Desde o início, a ideia principal do Worofila era trabalhar com o que já existe aqui. Um desses recursos é o Elementerre, uma empresa local que produz tijolos de terra e começou a fazer experimentos com typha.

A terra é o melhor material local para construir estruturas, enquanto a typha é excelente para isolamento. Ambos são perfeitamente adequados a este clima e são completamente naturais e renováveis. Então, ficou claro desde o início que esses seriam os materiais com os quais trabalharíamos.

NM: Há um entendimento intuitivo de que esses são os materiais certos para usar. Eles são usados pelas populações indígenas, mas seu uso foi, de certa forma, esquecido, então estamos tentando trazê-los de volta ao foco com técnicas contemporâneas.

RB: Esses experimentos são sempre realizados em colaboração com o Elementerre?

NM: Sim, de certa forma, sempre são. O Elementerre está sempre próximo, pois eles são tanto fornecedores como fabricantes desses materiais. Em relação aos blocos de terra comprimida, há também uma questão de segurança, já que eles trabalhavam com esse elemento há pelo menos oito anos antes de começarmos a colaborar com eles, e tiveram tempo de realizar testes rigorosos. Então, confiamos nesses tijolos.

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Cortesia de Worofila

RB: Nas últimas décadas, o material mais utilizado na construção civil em países em desenvolvimento tem sido o concreto. Vocês acreditam que os blocos de terra e a typha poderiam se tornar os principais materiais de construção para lidar com o déficit habitacional que assola muitos desses países?

NM: De certa forma, por que não? É uma possibilidade. Acho que a questão do "poderia" é diferente do "deveria", mas é interessante que você mencione especificamente a habitação. De todos os tipos de edificações, a habitação é talvez a que mais afeta diretamente o bem-estar das pessoas. É o espaço primário que habitamos.

Há um arquiteto em Dakar que realizou um estudo explorando diferentes metodologias e ferramentas para construir habitações mais adequadas aos seus habitantes. O estudo analisou vários aspectos da habitação, não apenas o envelope do edifício. É bastante lamentável — e, francamente, muito absurdo — que estejamos produzindo unidades habitacionais que são desconfortáveis para viver.

A ambição de usar o concreto como símbolo da modernidade levou a uma regressão das boas práticas e do bom senso. Se você observar a história da arquitetura antes da invenção do ar-condicionado, os edifícios eram projetados para serem naturalmente confortáveis sem depender de energia elétrica.

Vemos isso na arquitetura pré-colonial e colonial, onde existiam sistemas para promover a ventilação natural e estratégias para proteger contra a luz solar direta e o calor. No entanto, com o advento do ar-condicionado, muitas dessas práticas eficazes foram abandonadas, pois se assumiu que bastava ligar uma máquina para resfriar o ambiente.

Infelizmente, essa abordagem não é apenas dispendiosa em termos de energia, mas também insustentável. O ar-condicionado utiliza gases prejudiciais ao meio ambiente e não é acessível para grande parte da população. Além disso, aumenta o consumo de energia, o que não é viável nem equitativo. Acho importante destacar duas coisas:

Primeiro, devemos projetar com o clima em mente. Precisamos entender a orientação, os períodos de insolação, o isolamento do telhado e a ventilação natural. No Senegal, particularmente em Dakar, essa abordagem pode reduzir significativamente o ganho de calor. Em segundo lugar, os materiais que usamos também desempenham um papel crucial na regulação do ambiente interno do edifício. Paredes de terra, por exemplo, proporcionam inércia térmica, enquanto a typha na cobertura oferece isolamento. Esses elementos funcionam juntos de forma eficaz.

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Cortesia de Worofila

De certa forma, estamos voltando ao básico. Não estamos inventando nada novo aqui. Mesmo quando falamos de typha, é como pensar nos telhados de palha, que têm propriedades naturais de isolamento. Os telhados tradicionais que se estendiam para criar varandas protegiam as paredes da luz solar direta. Muitas das técnicas que estamos empregando não são invenções nossas; elas fazem parte das referências históricas do que já foi construído antes.

Acho que é hora de parar e reconsiderar nossa abordagem de projeto, tanto em relação aos materiais que usamos quanto às formas como construímos. Precisamos ser mais conscientes para criar um futuro sustentável, especialmente para habitação. Há também o aspecto energético a considerar. O concreto é um material de alta energia e alto carbono incorporados, e quando pensamos em habitações para as pessoas mais vulneráveis à crise energética e ao aumento dos custos de energia, fica claro que todos nós — especialmente os mais afetados — devemos nos beneficiar de projetos adequados.

Casas não devem depender de energia adicional apenas para alcançar um nível basico de conforto. Isso deveria ser o mínimo aceitável. 

RB: Essa alternativa ao concreto não é apenas uma escolha de material; ela está relacionada ao clima, às técnicas antigas sendo reinterpretadas e reutilizadas de maneiras contemporâneas, e também às considerações de energia e carbono incorporados. Acho fascinante ver arquitetos como vocês abordando essas coisas "básicas" com uma visão tão holística da arquitetura, da sociedade e do bem-estar dos habitantes. Parece mais sensato investir recursos em materiais sustentáveis, em vez de no concreto, que sabemos ser inadequado para o futuro.

Em relação a esses materiais, eles têm uma conexão forte com o lugar e o clima. Vocês acreditam que eles podem ser adaptados a outros climas, ou são especificamente adequados ao Sahel, predominantemente seco? Além disso, como os blocos de terra se comportam ao longo do tempo? Eles mantêm suas propriedades por longos períodos ou exigem manutenção frequente?

NR: Existem muitas formas de usar a terra, e sua aplicação deve se adaptar ao contexto e ao clima. Por exemplo, diferentes regiões têm diferentes tipos de terra, e as técnicas para usá-la variam. Em alguns lugares, você pode precisar de muita madeira para fôrmas, enquanto em outros, a madeira pode não estar disponível.

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A adaptação é a chave. Por exemplo, na Sibéria, onde há poucas árvores, seriam necessárias técnicas diferentes em comparação com regiões com abundância de madeira. Em um clima seco como o nosso, podemos usar métodos específicos para impermeabilização e proteção das fundações. Por outro lado, em um lugar como Casablanca (Marrocos), é necessário inclinar o telhado para lidar com a chuva.

A chave é adaptar as técnicas. Se o material está disponível, sempre há uma maneira de usá-lo de forma eficaz e maximizar seu potencial.

NM: É importante desenvolver uma abordagem crítica às técnicas que usamos e como aplicamos os materiais. A arquitetura vernacular fornece dicas valiosas sobre como os materiais podem ser adaptados a diferentes climas. Por exemplo, no Senegal, as técnicas de construção variam significativamente: no sul, encontramos construções em taipa e telhados de palha, usando madeira local e casca de arroz; no sudeste, há construções em blocos, semelhantes às de Burkina Faso; no norte, são comuns as técnicas de adobe, com telhados planos e paredes expostas devido à baixa precipitação.

Esses materiais se adaptam a vários climas e são usados de diferentes maneiras. Para nós, em ambientes urbanos como Dakar, os blocos de terra comprimida permitem paredes expostas, maximizando o espaço em terrenos menores. Essa abordagem se adapta ao contexto e responde às necessidades locais.

Quando se trata de clima e tempo, edifícios sustentáveis devem ser projetados para resistir às intempéries. A arquitetura vernacular muitas vezes inclui a manutenção como parte do projeto.

Por exemplo, a Mesquita de Djenné, no Mali, conta com elementos de madeira que servem como andaimes durante as fases de manutenção, e muitas casas tradicionais muçulmanas têm escadas integradas para facilitar os reparos. No norte de Gana, existem montes de terra que servem como lembretes para rebocar as paredes a cada tantos anos. Esse tipo de inteligência e compreensão dos ciclos de manutenção é crucial. Trata-se de criar edifícios que não sejam apenas sustentáveis, mas também projetados com a manutenção em mente, garantindo que permaneçam funcionais e bem integrados ao ambiente ao longo do tempo.

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RB: Vocês destacaram uma mudança de perspectiva crucial. É um movimento em direção a enxergar os edifícios como entidades vivas, o que contrasta com a direção que a arquitetura moderna tomou ao longo das décadas. Parece uma mudança necessária. Para tornar o uso da terra mais difundido, vocês estão envolvidos em algum esforço ativo em Dakar ou no Senegal? Existem iniciativas promocionais, educacionais ou financeiras para popularizar esses materiais e técnicas?

NR: Essa é uma ótima pergunta, e é algo em que pensamos bastante. Queremos oferecer uma alternativa à cidade de concreto, mas apenas projetar casas interessantes não é suficiente. Precisamos gerar impacto além de nossos pequenos projetos.

Começamos ensinando na escola de arquitetura em Dakar. No entanto, o contexto lá é desafiador, então tentamos apoiar estudantes talentosos oferecendo estágios e oportunidades para desenvolver seus portfólios, o que muitas vezes os leva a estudar no exterior.

Outro desafio é ampliar nossos esforços. Enfrentamos dificuldades em encontrar arquitetos locais que possam desenvolver essas técnicas e estabelecer suas próprias práticas. Também precisamos encontrar empresas dispostas a trabalhar com terra e outros materiais ecológicos, em vez de apenas cimento e concreto. Atualmente, estamos colaborando com empresas assim para desenvolver suas habilidades no uso desses materiais.

Além disso, estamos desenvolvendo soluções habitacionais mais acessíveis e ecológicas. Nosso objetivo é criar bairros sustentáveis que sejam acessíveis a mais pessoas, mostrando às incorporadoras e órgãos públicos que a construção sustentável é viável e econômica.

NM: Em uma escala mais ampla, estamos envolvidos em várias iniciativas. Prestamos serviços de consultoria para outros arquitetos e participamos de conferências para promover práticas de construção sustentável. Também estamos trabalhando em projetos que demonstram a viabilidade da construção com terra por meio de diferentes mídias.

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Educação e treinamento são cruciais. Muitas pessoas estão interessadas, mas não sabem por onde começar. Nosso objetivo é construir recursos para treinar empreiteiros e pedreiros nessas técnicas. Essa abordagem ajuda a preencher a lacuna entre o interesse e a aplicação prática.

RB: Ao decidir entre construir do zero ou adaptar estruturas existentes, muitas vezes é mais eficiente em termos de recursos adaptar, especialmente em termos de consumo de energia. Como edifícios feitos de terra e typha podem acomodar mudanças incrementais para atender às necessidades que mudam com o tempo? Em muitos países, o tamanho e a estrutura das famílias se alteram frequentemente. Como a arquitetura pode se adaptar a essas mudanças para evitar a necessidade de demolição e reconstrução, tornando-a mais eficiente a longo prazo?

NM: Quando se trata de edifícios existentes, preservá-los e adaptá-los nem sempre é mais barato. Na prática, adaptar edifícios antigos pode às vezes ser mais caro devido a problemas inesperados. Lidar com essas questões em uma estrutura existente pode ser mais complexo do que enfrentá-las em uma nova obra. No entanto, tanto de uma perspectiva filosófica quanto ambiental, muitas vezes é preferível trabalhar com estruturas existentes quando possível. Nosso foco está em melhorar o conforto térmico e acústico desses edifícios por meio de alterações simples, como melhorar a proteção das janelas ou o isolamento da cobertura.

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Para atualizações incrementais, usamos materiais como painéis de terra e typha, que são leves e fáceis de aplicar em estruturas existentes. Esses painéis melhoram o isolamento e o conforto geral. Outros ajustes podem incluir adicionar ou ampliar janelas para aumentar a incidência luz natural.

Também estamos desenvolvendo estratégias para projetar novos edifícios que permitam expansões futuras. Em Dakar, onde o espaço é limitado e a densidade urbana está aumentando, a expansão vertical é uma solução comum. Nossos projetos incluem recursos como escadas que levam a terraços, permitindo que os moradores adicionem mais andares conforme a necessidade.

NR: Em nosso projeto de bairro, projetamos casas para serem adaptáveis de forma incremental. Essa abordagem lida com a alta rotatividade de famílias e a rápida urbanização de Dakar. Ao planejar expansões futuras, buscamos evitar a demolição prematura de edifícios, garantindo que eles permaneçam funcionais e relevantes ao longo do tempo.

Nosso objetivo é criar espaços adaptáveis e reutilizáveis que possam evoluir com as necessidades de seus habitantes. Por exemplo, nossos projetos incluem recursos que permitem uma expansão vertical fácil ou a conversão de espaços residenciais em uso comercial ou de escritórios. Essa estratégia não apenas amplia a vida útil do edifício, mas também reduz o risco de demolição prematura.

RB: Para concluir nossa conversa, quais são as expectativas de vocês para o futuro das cidades africanas nas próximas décadas?

NR: Queremos que elas sejam africanas. Elas devem ser significativas, projetadas com um profundo entendimento das pessoas e do conhecimento local. A essência de sua identidade africana deve ser evidente.

NM: Desde a independência, temos lutado para definir uma modernidade que integre nosso modo de vida com os recursos disponíveis — tanto materiais quanto humanos. É crucial desenvolver projetos sustentáveis cujos benefícios sejam claros e tangíveis.

Nossas práticas de construção e projetos de infraestrutura devem servir efetivamente às nossas comunidades e apoiar as indústrias e os sistemas de conhecimento que queremos fomentar.

O desenvolvimento não deve se concentrar apenas na construção de novos edifícios ou na resolução de objetivos políticos; deve envolver progresso significativo que empodere o povo e os estados africanos. Existe uma oportunidade real de criar uma modernidade genuinamente enraizada em nosso próprio contexto, e temos os recursos para alcançar isso. Só precisamos empoderar nossa gente.

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Sobre este autor
Cita: Baratto, Romullo. "Materiais vernaculares para uma modernidade africana: entrevista com Worofila" [Indigenous Materials Towards an African Modernity: An Interview with Worofila] 10 Jan 2025. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1025263/materiais-vernaculares-para-uma-modernidade-africana-entrevista-com-worofila> ISSN 0719-8906

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