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Arquitetos: BBGK Architekci
- Ano: 2025

Descrição enviada pela equipe de projeto. A Cidadela de Varsóvia, uma fortificação do século XIX na capital polonesa, vem passando por uma transformação significativa. Por muitos anos isolado do restante da cidade, esse espaço histórico está se tornando um importante complexo de museus e memoriais — um dos maiores projetos culturais públicos da Polônia desde sua entrada na União Europeia, em 2004.


Em 2023, foram inaugurados o novo edifício do Museu da História da Polônia e o primeiro dos dois prédios planejados para o Museu do Exército Polonês. Mas foi em 2015 que esse movimento de revitalização começou, com a abertura do Museu de Katyń — um projeto marcante que se tornou referência sobre como a arquitetura pode contribuir para preservar a memória coletiva e refletir sobre episódios trágicos da história. Com um projeto sóbrio e minimalista do escritório BBGK Architekci, o museu foi finalista do Prêmio Mies van der Rohe 2017 e recebeu os mais importantes reconhecimentos da arquitetura polonesa, como o Prêmio da Associação de Arquitetos da Polônia e o Prêmio do Prefeito de Varsóvia. Quase dez anos após sua inauguração, sua força expressiva permanece atual.

Arquitetura da Memória Difícil – O projeto do Museu de Katyń trouxe aos arquitetos a difícil questão de como usar a linguagem da arquitetura para contar histórias marcadas pela dor e pela tragédia, criando um espaço que honre tanto a memória das famílias das vítimas quanto a memória coletiva. Um desses episódios é o massacre de Katyń, um dos eventos mais trágicos da história polonesa no século XX. Até hoje, Katyń é símbolo da política brutal do regime soviético contra o povo polonês. Projetado pelo escritório BBGK Architekci, o museu apresenta os eventos do massacre ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, homenageando os 22 mil oficiais do exército e funcionários do Estado polonês assassinados pelo Exército Vermelho. A missão do museu é restaurar a memória sobre o crime e documentar sua história. Mais do que um museu sobre o assassinato em si, o espaço foi concebido para celebrar a vida e a lembrança das pessoas. Localizado na parte sul da Cidadela de Varsóvia, o museu ocupa três edifícios históricos da fortaleza do século XIX. O projeto se tornou um exemplo emblemático de como uma arquitetura pré-existente pode ser ressignificada para atender a um novo propósito. As florestas distantes, que testemunharam os assassinatos, foram de certa forma trazidas para dentro de uma fortificação militar no coração da cidade.

O principal conceito do projeto foi criar um espaço voltado ao silêncio e à contemplação. Os arquitetos escolheram materiais simples, como tijolo, reboco e concreto pigmentado. A organização espacial do museu foi pensada como uma experiência sensorial e emocional, na qual objetos e ambientes formam uma narrativa arquitetônica coesa. Todo o conjunto foi concebido como um parque, tendo no centro da praça principal uma floresta simbólica de Katyń. As 100 árvores plantadas ali remetem à verdade sobre esse crime de guerra, que ficou oculto por mais de 50 anos. A exposição principal ocupa dois andares da Caponeira — uma estrutura histórica de fortificação. No primeiro nível, o visitante encontra informações sobre o massacre e pode ver objetos retirados das valas comuns da floresta de Katyń. O segundo nível da exposição é dedicado às histórias pessoais das famílias das vítimas, sendo um espaço para reflexão íntima.

A saída do museu leva ao chamado "Túnel da Morte" — uma passagem de 20 metros feita em concreto negro, projetada por Jerzy Kalina. Esse corredor escuro conduz à "Alameda dos Desaparecidos". "Desaparecidos" porque a alameda é composta por pedestais vazios, nos quais se lê apenas a profissão das vítimas: “policial, médico, advogado, arquiteto…”. O percurso segue até o terceiro edifício — um antigo pavilhão com arcadas de canhões, agora envidraçadas, onde estão expostas 15 placas com os nomes dos 21.768 oficiais assassinados. Sempre que a narrativa expositiva exigia, os arquitetos usaram o concreto pigmentado como meio expressivo. Trechos de cartas e objetos pessoais das vítimas foram impressos diretamente no concreto, prolongando a exposição para fora dos prédios. A expressão arquitetônica ganha força especial nesse trecho. O vão entre as paredes de 12 metros de altura que dividem a Cidadela aponta em duas direções: para baixo, conduzindo às placas com os nomes das vítimas, e para cima, em direção ao céu e à luz. Um crucifixo de madeira colocado entre as árvores encerra de forma simbólica e comovente a história de Katyń.
