Da editora. No decorrer de um século muita coisa mudou na comunidade dos artistas italianos empenhados no movimento para uma arquitectura ao modo antigo. Alberti deu início à tratadística moderna sobre arte e edificação, com o De Re Aedificatori, um livro da teoria de tipo normativo que caracterizou o modo de entender uma nova profissão de natureza intelectual inferida da tradição latina. Registou o esforço para o conhecimento das técnicas construtivas, as que conjugavam a sabedoria artesanal com a descoberta do mundo antigo, no sentido de dominar os instrumentos de controlo e caracterização do espaço. Afirmava a autonomia da ideia conceptual no perseguir os caminhos das descobertas necessárias para a construção da cidade humanizada.
Cem anos passados, Sebastiano Serlio dava à estampa o Libro Quarto, a sua Regola Generali di Architettura. Era uma espécie de manual de boas práticas para uso dos arquitectos que, assim, permitiria a cada um trabalhar com a certeza do bom desempenho, correspondendo à crença numa verdade, ou via única, para atingir a perfeição e a beleza. Bastava, para isso, cumprir os enunciados do código cuja publicação se iniciava, como um catálogo de formas ao modo antigo, a que se seguiriam as necessárias informações técnicas complementares. Como suporte das suas ideias invocava o trabalho de alguns romanófilos que investiam numa ciência arqueológica nascente. Mas, para o sucesso dessa tese, muito contribuíu a generalização do livro impresso apoiada no progresso técnico e no uso intenso da gravura, conferindo-lhe a entusiasmante facilidade de uso para cópia.
Personalidade fascinante de finíssimas maneiras, espírito atento e discurso versátil de excelente conversador, Serlio era tido como homem modesto, sedento de saber, capaz de conquistar a confiança dos seus amigos mas também, por vezes, capaz de ser mordaz para com os seus inimigos. Instalado em Veneza, no coração do conflito intelectual entre reformistas activos e tradicionalistas críticos, foi compondo ordenadamente os enunciados das cinco ordens clássicas extraindo regras de proporção e hierarquias de uso, acreditando estar a ensinar as boas práticas de Vitrúvio. Com amigos de ambos os lados da polémica religiosa, inclinou-se para a banda dos espiritualistas católicos, acreditando no catecismo e no catálogo. Isso valeu-lhe o sucesso editorial e os seus livros correram o mundo. Mas seria mesmo inequívoca ou permanente a verdade enunciada pelos figurinos? Como se poderia entender a relação entre a liberdade criativa ao serviço do belo e a regra predefinida?
Sumário
Introdução
A Serliana
Pintor bolonhês
Memória do antigo
Discórdia concordante
Arquitectura virtual
Ancy-le-Franc
As Ordens de Vignola
Espanha e Portugal
Referências bibliográficas
Sebastiano Serlio: tratadismo normativo
Autor: Domingos Tavares
Dimensões: 15 x 22,5 cm
Páginas: 140
Editor: Dafne Editora
1ª Edição - Porto, outubro 2013
Depósito legal n° 367489/13
ISBN 978-989-8217-24-0
Série Sebentas de História da Arquitetura Moderna
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