“Eu invento meu mundo… e cada um de vocês deve inventar o seu mundo”. Dita por Sérgio Bernardes aos seus alunos em uma das cenas do documentário Bernardes, a frase é uma das inúmeras provocações levadas às telas pela vida e obra do carioca, que faleceu em 2002, aos 82 anos.
O longa - um dos selecionados para Mostra Competitiva do 19º Festival É Tudo Verdade, realizado em maio, chega amanhã, 19 de junho, aos cinemas de seis capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador) - revela a polêmica e arrebatadora vida profissional e familiar do arquiteto, urbanista, designer, escritor, poeta, inventor e, sobretudo, humanista incompreendido pelo seu tempo. Um homem singular, de personalidade afiada, apaixonante e tão inventiva e questionadora quanto bem humorada.
O projeto nasceu da busca pessoal pela história avô do neto e também arquiteto renomado Thiago Bernardes. É ele quem assina o argumento do filme, que tem direção de Gustavo Gama Rodrigues e Paulo de Barros, e vai à frente das câmeras entrevistar pessoas que conviveram com Sergio e visitar suas obras.
Grande nome da segunda geração da arquitetura moderna brasileira, desde seus primeiros trabalhos Sergio já prenunciava um talento incomum, consolidado por uma estética própria e inovadora, o que incluía criar elementos construtivos até então inexistentes para atender à sua criatividade, que depois seriam utilizados em larga escala no mercado.
A viagem no tempo realizada por Thiago vai muito além da importância da obra arquitetônica do avô, revelando que o talento original de Sérgio Bernardes só é comparável à sua dimensão humana. O talento como arquiteto esteve a serviço de algo maior, suas propostas humanísticas. Guilherme Wisnik, professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, escritor, crítico de arte e arquitetura e curador da última edição da Bienal de Arquitetura de São Paulo, comenta: “..a obra de Sergio Bernardes é de fundamental importância pra qualquer estudo sobre a arquitetura e a cultura no País”. Entre os entrevistados estão também os netos Pedro Bernardes, músico, e Mana Bernardes, designer, entre outros.
Através de visitas aos principais projetos, da descoberta do vasto material iconográfico e de arquivo documental e audiovisual e encontros com pessoas que conviveram com o arquiteto ou que por ele foram influenciadas, Thiago monta as peças de um instigante quebra-cabeça, onde são levantadas questões que passam pelo desaparecimento de seu nome dos currículos das faculdades de arquitetura e do rompimento com os status quo ao deixar o casamento de 25 anos, com uma contundente carta à família, e mudar-se para os EUA para encontrar Buckminster Fuller, visionário da arquitetura mundial, em busca de novas possibilidades tecnológicas.
Na volta, dedicou-se às suas propostas de mudanças na sociedade a partir de soluções arquitetônicas e urbanísticas para as cidades, seja no LIC -Laboratório de Investigações Conceituais – instituto criado por ele em, 1979 , ou em cargos públicos. Aos 82 anos, quando faleceu, ainda se mantinha produtivo e fiel às ideias que hoje, em pleno caos urbano e social do século XXl, mostram-se cada vez mais relevantes.
O filme conta ainda com algo raro no país: a possibilidade de exploração de um vasto e rico material documental e iconográfico que o acervo do arquiteto reúne em 22.500 plantas, inúmeros croquis, textos, teses e poesias e mais de 8.000 fotografias. Mantido intacto desde sua morte, estão registrados ali os mais de 65 anos de produção intelectual que evidenciam o espírito inovador de um homem que veio ao mundo para propor-lhe novas possibilidades.
FICHA TÉCNICA
- Direção: Paulo de Barros e Gustavo Gama Rodrigues
- Argumento: Thiago Bernardes
- Fotografia: Stefan Hess
- Edição: Yan Motta
- Produção: 6D e Rinoceronte Produções
- Duração: 91 minutos
Via CAU/RJ