Embora desde a primeira edição do livro A Arte de Projetar em Arquitetura, de Ernst Neufert - publicada na Alemanha em 1936 - o mundo tenha mudado muito, o famoso manual apresenta conceitos elementais de desenho que seguem, em sua maioria, ainda vigentes, pois toma o ser humano como unidade de medida.
Entretanto, a arquitetura parece constantemente tomar outros rumos, afastando-se de seus princípios básicos para satisfazer requisitos que muitas vezes não têm relação direta com sua habitabilidade. Naqueles anos, Neufert estava preocupado com a redução da escala do projeto: "creio que este é o motivo da usual falta de relação entre os edifícios, já que os projetistas partem de escalas diferentes e arbitrárias e não levam em consideração a única correta, o homem".
Hoje em dia fazemos arquitetura com base em quais parâmetros?
As medidas do ser humano são, com certeza, o ponto de partida de Neufert para o desenvolvimento de seu livro. Sua inquietude pelo domínio de uma arquitetura que havia há muito tempo esquecido sua origem primitiva de ser simplesmente um refúgio para o homem o levou a compilar uma série de desenhos e textos para dar um exemplo de projeto com base no ser humano.
"Se quisermos que essa situação se altere, deve-se ensinar ao projetista de onde surgiram as dimensões, para evitar que as adote de forma irreflexiva. Ele deve saber em que relação estão as partes de uma pessoa e que espaço ocupa em suas diferentes posições e ao se mover".
Não se trata de fazer espaços robotizados ou padronizados, trata-se de projetar dentro de um certo intervalo de dimensões funcionais em relação aos usuários, levando o espaço a suas possibilidades máximas sem perder a escala certa e necessária para se habitar confortavelmente.
"(O projetista) deve saber qual a dimensão dos objetos que rodeiam o homem (...), tem que saber quanto espaço necessita o homem, entre os móveis, para desenvolver suas tarefas com conforto, mas sem desperdiçar inutilmente o espaço". [1]
Apesar da especificidade que se pode alcançar, é possível que esta unidade de medida permita que os edifícios tenham programas mais flexíveis a longo prazo; os espaços correspondem às dimensões que não irão se alterar muito com o passar dos anos, já que são parte da natureza do homem. Outros parâmetros espaciais de desenho incluem sempre uma certa arbitrariedade que fará mais completa sua adaptação e possível conversão a novos usos.
De onde nasce nossa arquitetura quando projetamos? Estamos tomando como ponto de partida a única medida que realmente importa?
* Deixamos com vocês uma série de fotografias nas quais os arquitetos decidiram incorporar o homem como medida e escala de espaço projetado, deixando em evidência sua certeza em quanto a suas dimensões e insinuando sua correta habitabilidade cotidiana e ao futuro.
+ Galeria de Arte Minas / MACh Arquitetos
+ Torre de Vigilancia e de Água Sint Jansklooster / Zecc Architecten
+ Produtora Kana / AR Arquitetos
+ Biblioteca Safe Haven / TYIN Tegnestue
+ Conversão de SZ-HK Biennale-Silo / O-OFFICE Architects
+ Ginásio de Boxe Municipal em Riberas de Sacramento / Urbánika
+ Novo edifício de educação infantil e creche em Zaldibar / Hiribarren-Gonzalez + Estudio Urgari
+ Casa da Maternidade / Pablo Pita Arquitectos
+ A ponte de Moisés / RO & AD Architects
+ Residência em Vincennes / AZC
+ Escola Nueva Esperanza / al bordE
+ Pavilhão Fort Greene / O’Neill McVoy Arquitectos
+ Praça Dongdaemun / Zaha Hadid Architects
+ Ponte para pedestres Lex van Delden / Dok Architecten
+ Centro Juvenil em Camboya: o Bambu a serviço da Comunidade
+ Casa OMBU / Daniel Silberfaden + Jens Wolter
* Mais elementos e espaços básicos da arquitetura aqui.
[1] Citação extraída da introdução de "El Hombre como Unidad de Medida" do livro "Arte de Proyectar en Arquitectura" (1936), por Ernst Neufert.