O Leão de Prata concedido ao Pavilhão do Chile na Bienal de Arquitetura de Veneza deste ano, o Prêmio MCHAP Emerging Architecture para a Casa Poli do escritório Pezo von Ellrichshausen e a recente inauguração do pavilhão de Smiljan Radic para o Serpentine Gallery não são casos isolados, mas um reflexo de uma arquitetura chilena - já madura - que consegue afastar o país da imagem de uma nação rural no fim do mundo ocupada por residências unifamiliares salpicadas sobre uma geografia acidentada; uma arquitetura que se reconcilia com seus centros urbanos, projetando-os na cena mundial.
Neste contexto, o jornal britânico Financial Times dedicou um artigo a este boom de arquitetos já consolidados, como Smiljan Radic, Mathias Klotz, Pezo von Ellrichshausen e Elemental. O que ocasionou esse impulso da arquitetura chilena?
Se o Leão de Prata para jovens profissionais concedido ao escritório Elemental, de Alejandro Aravena, na Bienal de Veneza de 2008 parecia um fato isolado para um arquiteto promissor, seis anos depois o Leão de Prata entregue ao Pavilhão do Chile na mesma Bienal, com curadoria de Pedro Alonso e Hugo Palmarola, é um sinal inequívoco de certa maturação da arquitetura chilena que já não parece mais apenas lançar alguns nomes específicos na cena internacional, mas compor algo maior: uma geração inteira impulsionada à escala global, assim como a expansão do leque de projetos de destaque: de residências unifamiliares de final de semana localizadas em paisagens envolventes ao retorno às questões urbanas das cidades chilenas, sobretudo Santiago, Valparaíso e Concepción.
Um avanço que começou a ter destaque na imprensa e publicações especializadas europeias há algum temo e que deu sinais de consolidação quando - entre outros fatos - Smiljan Radic foi encarregado, em março, da construção do Serpentine Pavilion em Londres. Na ocasião, a diretora Julia Peyton-Jones comentou: "ficamos intrigados com seu trabalho desde nosso primeiro encontro com ele na Bienal de Veneza de 2010. Radic é um protagonista importante da incrível explosão da arquitetura no Chile."
Há alguns dias o jornal de economia Financial Times publicou o artigo "Chilean architects gain global recognition" [Arquitetos chilenos ganham reconhecimento internacional], documentando a impressão europeia dessa arquitetura sul-americana inserindo-se no mercado internacional, como observa Trish Lorenz. Segundo o artigo: "em janeiro, o escritório Pezo von Ellrichshausen foi selecionado pela Real Academia de Artes de Londres para participar da exposição Sensing Spaces, [...] (Elemental) venceu um concurso em conjunto com o VAV Studio, do Irã, para projetar a Bolsa de Valores iraniana em Teerã; Teresa Moller trabalha em projetos na China e Austrália, e Mathias Klotz (em colaboração com Rodrigo Duque Motta) está projetando dois edifícios de mais de 80 mil m² em Zhengzhou, China."
A residência unifamiliar de final de semana definiu o tom da arquitetura do sul e, como observa Juan Pablo Corvalán para o artigo britânico, "durante os últimos 20 anos, os arquitetos abandonaram nossas cidades [...] toda a arquitetura interessante ganhou forma fora da cidade e era apenas para a elite."
Segundo Lorenz, a acelerada urbanização latino-americana, o boom e posterior estabilidade econômica chilena, o surgimento (e demanda) do conceito de espaço público - dinamitado pela ditadura - e a crescente valorização da arquitetura de autor seriam os elementos que ajudaram a arquitetura chilena a alcançar novos patamares.
Leia o artigo de Trish Lorenz para o Financial Times aqui.