A contribuição alemã para a Bienal de Arquitetura de Veneza 2014 analisa a arquitetura da representação, sua crise e potencial supressão. Além da ambição universal do modernismo de romper com o passado, a Alemanha passou por inúmeras e decisivas rupturas políticas e sociais nos últimos cem anos. Por meio da questão de como uma nação "se (re)constrói e representa através da arquitetura, podemos discutir o atrito entre a identidade nacional e a expressão arquitetônica - contudo, arquitetura não é apenas uma ideologia menor, mas uma realidade constituinte e um contexto social."
Dos curadores: Selecionamos dois edifícios nacionalmente significativos com o objetivo de situar nosso projeto último século. Um deles é o Pavilhão Alemão no Giardini e o outro é o Kanzlerbungalow, ou Bangalô do Chanceler, projetado pelo arquiteto Sep Ruf em 1964 em Bonn, antiga capital da Alemanha. Este último serviu como residência oficial do Chanceler alemão, de onde representava a nação e onde recebia outros chefes de estado. O edifício é envolvido por um parque e se relaciona com outro monumento nacional - o Rio Reno.
Apesar de suas linguagens arquitetônicas, organizações e expressões opostas, os dois edifícios compartilham algumas características. Ambos foram consideravelmente alterados em suas existências, ambos falaram sobre a nação alemã, e ambos - Bangalô e Pavilhão - sacrificaram suas singularidades e qualidades enquanto objetos para se tornarem representações teatrais de interioridade.
Em 1999, Bonn desapareceu - a Bonner Republik foi transferida para Berlim. Da noite para o dia a cidade e seus edifícios, outrora (inter)nacionais, foram esquecidos. É claro, Bonn ainda está lá e o Kanzlerbungalow é significativo nesse sentido. Escondido atrás de uma cerca, arbustos e árvores, o edifício nunca teve uma fachada pública. Ele sempre esteve presente apenas através da cobertura da mídia, em fotografias e filmes. De certo modo, é um edifício publicamente privado que todos conhecem mas ninguém nunca esteve lá.
Quinze anos depois, estamos acordando os mortos-vivos com um beijo aqui em Veneza. Ao sobrepor o Kanzlerbungalow com o Pavilhão Alemão, a memória/imagem bidimensional do Bangalô se torna publicamente acessível e, em última instância, presente através da interação física. O Pavilhão em Veneza não apenas "engole" o Bangalô (que foi, um dia, engolido pelo parque em Bonn), mas as duas arquiteturas começam a se engajar numa conversa específica para para este lugar. O que iniciou como um projeto sobre representação termina sendo um experimento de apreensão da presença, onde o aspecto físico e seu significado frequentemente colidem.