O urbanismo luz é uma disciplina recente que iniciei na França no final dos anos 80. A ideia era se diferenciar de uma visão parcial da cidade noturna centrada na iluminação do patrimônio construído e propor estudos integrais, chamados “Schémas Directeurs d’aménagement Lumière” SDAL, (Plano Geral de Iluminação), que poderiam tratar em conjunto a iluminação das vias, as paisagens noturnas, os ambientes luminosos para os pedestres e a iluminação da arquitetura e monumentos.
O urbanismo luz, incialmente desenvolvido por designers de iluminação franceses e, mais tarde, ingleses, foi progressivamente adotado em todos os países europeus. A partir de 1992 se estendeu aos países asiáticos e as cidades da América do Norte, e mais recentemente em algumas cidades da América do Sul (podemos estudar o plano geral de iluminação de São Paulo em 2012 no Brasil).
O urbanismo luz permite refletir previamente sobre a paisagem e a silhueta noturna da cidade, para fazer florescer progressivamente características que lhe confiram identidade. Em paralelo, o urbanismo luz também permite o planejamento controlado da iluminação pública e sua renovação.
O urbanismo luz é a implementação de uma disciplina metodológica e uma ferramenta de controle e desenvolvimento da luz urbana. “O plano diretor de iluminação”.
O estudo do plano diretor de iluminação se desenvolve em um prazo de tempo que pode durar entre 4 meses a um ano, dependendo do tamanho da cidade estudada, e responde a vários objetivos:
- Compartilhar as ferramentas e a linguagem da cultura da luz.
- Educar os políticos e os serviços técnicos da cidade, sensibilizando-os frente aos impactos visuais e psicológicos gerados pela iluminação urbana.
- Estabelecer um vínculo transversal entre os serviços da prefeitura.
- Integrar as iniciativas públicas e privadas a serviço de um único projeto noturno global.
O estudo consiste em:
- Analisar sensível e tecnicamente o estado noturno da cidade.
- Desenvolver um plano geral que leve em conta a história da cidade, sua geografia, sua paisagem, sua arquitetura, sua personalidade, suas características e seu futuro.
- Propor e controlar a futura imagem noturna da cidade.
- Identificar os lugares de intervenção possíveis e potencialmente interessantes
- Hierarquizar as prioridades.
- Conceituar a silhueta noturna da cidade e o impacto visual próximo e longínquo das distintas ações de iluminação.
O conjunto de documentos e cartografias emitidos e aprovados pelo comitê diretor do estudo é reunido para formar um plano geral de iluminação da cidade. Esse documento de consulta servirá de base para:
- As ações cotidianas dos serviços técnicos de iluminação pública.
- A elaboração de bases preliminares das licitações ou projetos entregues a entidades privadas.
- Os projetos de iluminação (valoriza os espaços públicos, arquiteturas, obras de infraestruturas, lugares naturais, percursos urbanos temáticos.
- A redação dos termos de referência ou as bases destinadas a futuros operadores (Direção de obras públicas, empresas privadas).
Hoje em dia, o plano geral de iluminação não é um documento contratual regulamentário de urbanismo, mas um guia de recomendações e uma ferramenta muito útil para a cidade e as empresas públicas e privadas.
A pluralidade das estratégias luz em curso
Distintos objetivos complementares podem ser a origem da elaboração de uma estratégia luz para a cidade:
- Proporcionar identidade noturna a cidade.
- A renovação da iluminação pública (substituição progressiva, implementação de uma gestão externa).
- Evidenciar o patrimônio construído e natural.
- A criação de ambientes noturnos durante a revitalização de um bairro.
- Melhorar a conectividade entre o centro da cidade e seus bairros periféricos.
- Criar um vínculo social noturno.
- Implementar uma dinâmica de atenção dos vizinhos.
- Definir de uma imagem noturna associada a um projeto urbano.
- A coordenação de uma multiplicidade de projetos urbanos de iluminação.
- O destaque luminoso de uma infraestrutura (metrô, estradas) ou de um eixo maior ou simbólico.
- A criação de uma grande paisagem noturna.
- A pré-configuração de uma mudança urbana maior.
- O desenvolvimento de um turismo noturno.
- A celebração de um grande evento esportivo ou histórico.
- A iniciação de uma política de desenvolvimento sustentável.
- A redução dos custos relacionados ao consumo energético.
- O respeito a biodiversidade noturna.
O urbanismo luz se insere em uma reflexão global sobre a cidade e se revela progressivamente como parte integrante da aposta urbana no início do século XXI.
Essa inovadora forma de trabalhar, essencial no domínio noturno do desenvolvimento urbano, será transmitida no encontro EILD Medellín 2014 aos designers de iluminação da América Latina, em um workshop internacional que tem como tema o estudo do plano geral de iluminação para a cidade de Medellín.
* Roger Narboni apresentou recentemente, em uma visita ao Chile, a palestra “Iluminação Urbana e Paisagem Noturna: Evolução e Tendências”, convidado pela a Escola de Desenho da Universidade Católica, onde expôs seus pontos de vista em relação a iluminação das cidades.
Via Plataforma Urbana. Tradução Camilla Ghisleni, ArchDaily Brasil.