Em Mauá, cidade localizada a 27 km ao sudoeste de São Paulo, era comum observar centenas de bicicletas estacionadas em qualquer ponto da estação de trens que conecta ambas as cidades, consequência de uma lei municipal que proíbe estacionar as bicicletas nos postes das ruas. Se um guarda encontra uma bicicleta amarrada ou presa num poste, ele tem permissão para apreendê-la e levá-la à um pátio municipal de veículos apreendidos. Por isto, todos os ciclistas deixavam suas bicicletas na estação, considerada um lugar seguro, com gente circulando até tarde da noite.
Ainda sim, esse improvisado estacionamento de bicicletas dentro da estação dificultava a circulação dos passageiros, sobretudo nos horários mais movimentados. Com isso, Adilson Alcântara, funcionário da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e trabalhador da estação Mauá, pensou numa solução para que os ciclistas pudessem deixar suas bicicletas num lugar mais cômodo e seguro, sem afetar os demais passageiros.
Foi assim que, em 2001, fundou a Associação de Condutores de Bicicletas Mauá (Ascobike), que neste mesmo ano apresentou um projeto à CTPM para criar um estacionamento de bicicletas numa das laterais da estação de trens, em pleno centro da cidade. Como a ideia era viável, a companhia concedeu à Associação um espaço com capacidade para até 200 bicicletas.
Desta forma, as pessoas que vivem em Mauá e viajam todos os dias até São Paulo para trabalhar ou estudar podem combinar suas viagens de trem com os trajetos percorridos de bicicleta. A iniciativa também permitiu que 85% dos passageiros que usam o estacionamento para bicicletas continuem suas viagens em trem, dando uma nova função intermodal para a estação. Com os anos, o uso da bicicleta foi se intensificando a ponto do estacionamento ampliar suas instalações, chegando à capacidade atual de 1.700 bicicletas.
Para utilizar o serviço, cada pessoa deve pagar uma taxa de R$ 10,00 mensais. Isso dá direito a estacionar a bicicleta durante as 24 horas do dia e durante os 365 dias do ano. Cada bicicleta leva consigo um distintivo com um número que é o mesmo número do estacionamento, e que identifica cada membro inscrito no sistema. Os ciclistas também recebem abono em planos de saúde e um serviço de oficinas de bicicleta mais barato. Este último permite que uma pessoa deixe sua bicicleta pela manhã e já pegue ela pronta durante a tarde. Caso seja preciso mais tempo para arrumá-la, a Ascobike possui 12 bicicletas que empresta aos usuários.
Como o estacionamento visa ser um agente social, conta com advogados e trabalhadores sociais que auxiliam os ciclistas em qualquer assunto legal em que necessitem assessoria, independente da questão tratada. Há também uma pequena infraestrutura que permite aos ciclistas um local para tomar um café, limpar seus sapatos depois de pedalar e encher os pneus de suas bicicletas.
Os R$ 10,00 mensais são a única tarifa do serviço e financia o newsletter do sistema, as contribuições, os impostos e o salário da equipe de Ascobike, que periodicamente realiza oficinas sobre segurança no trânsito.
Como o formato dos estacionamentos funcionou bem desde o princípio, o serviço foi ampliado a outras 14 estações da CPTM. Atualmente, a organização está trabalhando com outras organizações e instituições municipais, federais e estaduais para promover a bicicleta como meio de transporte e instalar nas ruas sinalização dedicada aos ciclistas.
Via Plataforma Urbana. Tradução Gabriel Pedrotti, ArchDaily Brasil.