Como um dos diretores do EMBT, Salvador Gilabert ajudou na realização de alguns dos maiores projetos do escritório dos últimos anos - incluindo a coordenação do projeto do Pavilhão da Espanha para a Expo Shanghai 2010 e o recém finalizado Bloco de Moradias Sociais de Barajas.
Em agosto o arquiteto reservou uma semana da sua agenda para liderar um projeto em Hello Wood onde liderou um grupo de estudantes na construção de uma plataforma elevada de madeira - sem uso de parafusos ou outras conexões metálicas - que emergia das árvores e se oferecia como um mirante para o pôr do sol. O ArchDaily se encontrou com Salvador Gilabert durante essa semana para saber mais sobre o seu trabalho.
Leia a entrevista completa, a seguir.
Rory Stott: Primeiramente, gostaria de falar sobre sua participação no EMBT, qual é sua filosofia de trabalho?
Salvador Gilabert: A filosofia principal é continuar o processo - é um processo que não se detém. Vindo do último projeto, ou do projeto anterior, tratamos de seguir desenvolvendo esse processo. Não estamos pensando no resultado final, não estamos pensando na forma final. O mais importante é partir do lugar: a história, a orientação, o ambiente, a sociologia, se estamos no campo ou em uma cidade. Portanto, nos encarregamos disso e depois continuamos com o processo. Por exemplo, para o Pavilhão da Espanha na Expo Shanghai 2010 estávamos trabalhando com vime, assim, depois desse projeto continuamos a desenvolver essas ideias e começamos a criar sofás e outros ítens com esse mesmo material. O projeto do Pavilhão da Espanha não terminou assim que a Expo teve fim, ele continuou nos projetos seguintes.
RS: Qual é seu projeto favorito em que trabalhou pessoalmente no EMBT?
SG: Ah, você não pode dizer isso! É como perguntar qual é seu filho favorito.
RS: Existe algum, então, que lhe deixa particularmente orgulhoso?
SG: Não, cada projeto possui temas diferentes em comparação aos outros. O Pavilhão da Espanha foi espetacular, muito mais impressionante pelo material, pela forma. Mas a moradia social foi muito agradável porque era muito barata, e conseguir realizar o projeto de forma barata era tão importante quanto fazer um grande edifício. Cada projeto possui algo interessante e essa é a filosofia que queremos criar no nosso escritório - inclusive o sofá de vime para mim foi muito importante. É muito pequeno e perdemos dinheiro porque estávamos gastando muito tempo tentando encontrar a forma adequada, o desenvolvimento de um assento cômodo para as pessoas que o utilizassem e também para que funcionasse para a empresa que iria produzi-lo. Assim, cada projeto é bom, dependendo de como você se concentra nele.
RS: Gostaria de saber mais sobre seus experimentos em vime, como o Pavilhão da Espanha e os sofás. O que lhe atrai no vime?
SG: O vime é um material espetacular. As características do material em si permitem realizar qualquer forma: é muito forte, flexível, possui cores incríveis, uma sensação natural. Também cresce todo ano, seus ramos são cortados e no ano seguinte crescem novamente, tornando-o totalmente sustentável. É um material que os humanos estão utilizando durante, não sei, uns 20 mil anos, mas que de repente está começando a desaparecer. Quando os plásticos apareceram nos anos 50, começaram a ocupar o lugar do vime. Dessa forma, queríamos produzir coisas utilizando técnicas artesanais e demonstrar que é sustentável e que é possível criar grandes coisas com qualquer material.
RS: E em relação ao que está fazendo em Hello Wood, uma coisa me chama atenção em relação ao vime, que é poder fazer estruturas inteiras apenas com esse material. Existe alguma relação entre o trabalho feito com vime, onde você utilizou apenas um material, e o que está fazendo aqui, onde tudo é de madeira sem parafusos?
SG: Com certeza - o vime é um tipo de madeira, quer dizer, não é tão forte como outras madeiras e a sensação do material é diferente, mas é madeira. Porém, a ideia aqui foi trabalhar com as mãos, os estudantes devem utilizar o mesmo material para o todo o projeto, sem utilizar pregos ou parafusos. Estamos usando a madeira para tudo: para as junções, estrutura, piso, teto. É a mesma filosofia que o vime - de uma maneira diferente, porque as características do material são um pouco diferentes - mas a ideia é a mesma.
RS: Qual é o valor arquitetônico de estabelecer um desafio como esse, dizendo "nós vamos utilizar somente madeira" e então realizar o projeto em função disso; ao invés de dizer "assim é como quero que seja", e então fazer todo o possível para concretizar sua ideia?
SG: Eu acredito que o objetivo não é pensar no desafio. É simplesmente dizer que se quer fazer algo segundo um certo processo, seguir o processo e logo aparece o resultado. Isso não é o final, não termina em uma semana; nunca termina. Amanhã pode se tornar uma casa de madeira, e hoje estamos desenvolvendo métodos que poderão ser úteis para isso. Acredito que todos nós em Hello Wood aprendemos a cada dia com as outras pessoas.
RS: Qual é o papel de Hello Wood na promoção desse tipo de trabalho, onde as pessoas de todas as partes do mundo se reúnem e aprendem uns com os outros e estabelecem desafios?
SG: Para mim, é a melhor oficina da qual já participei. O lugar, as pessoas, os projetos. A forma como todos somos uma comunidade, é um lugar onde é possível criar com todo mundo a sua volta e o estilo de vida contribui. É bom que todo mundo seja capaz de passar um tempo com os demais e fazer amigos, porque cada um é diferente e a melhor maneira de criar uma boa arquitetura é trabalhar com outras pessoas que possuem diferentes pontos de vista. É muito bom - todo mundo se reúne, vindo de diferentes países, em um só lugar.
RS: Então você acredita que a diversidade, a varieade de países representados em Hello Wood, é importante para seu sucesso futuro?
SG: Com certeza. É preciso criar alguma relação com o maior número de pessoas que você puder, porque assim pode-se conseguir diferentes coisas realmente interessantes vindas de todas as culturas distintas. Vir aqui é como dizer "uau, olha isso!" porque em geral você está no seu próprio mundo, que é fantástico, mas as vezes fica um pouco limitado. Ao abrir suas portas, sua mente, você cresce muito com isso.