Quantas vezes caminhamos observando ao nosso redor e imaginamos algo semelhante, mas não igual a esta "coisa" que na realidade se parecia. Com este "novo olho" de enxergar as coisas, o fotógrafo libanês Serge Najjar se inspira, caminhando todos os sábados de manhã para capturar estas passageiras cenas irreais, um acerto nessa linha estreita de oportunidades, que oscila entre o passado e o presente.
Hoje nos apresenta a sua série de imagens Realidades Abstratas. Veja a seguir.
Apresentação de Pecha Kucha - Março 2015.
Título: Uma linha estreita
Descrição do fotógrafo.
E se no caminho víssemos "coisas" ao nosso redor determinadas por como elas na realidade se pareciam?
Desde que comecei a fotografar, há quatro anos atrás, consegui chegar em um princípio simples: "Não se trata do que se vê, mas sim de como o vemos."
Quando comecei a capturar a vida real ao meu redor, todos os livros de arte que tinha lido na infância faziam sentido: desde o cubismo, a arte abstrata de vanguarda russa, até o construtivismo. Cada imagem única havia determinado a forma em que eu via as coisas ao meu redor, quando me coloquei o desafio de criar.
Quando percebemos as coisas com um novo olho, se vive de novo. Nos damos conta de quão poderoso aquilo pode se tornar, simplesmente empurrando outros a ver o que não podem ser capazes de ver por si só.
É uma linha estreita. Entre seu passado e seu presente.
Nunca soube que poderia criar artisticamente (sou advogado!). Estava convencido que provavelmente havia sido o pior pintor da terra, o criador da pior arte. Até que minha paixão pela fotografia começou. Nesse mesmo momento, meu interesse cresceu em relação à, arquitetura, criada pelo homem, o outro desenho através das linhas e luz.
Viver em Beirute significa uma vida de desafios e suspeitas. Tranquilizar os habitantes que não sou um terrorista nem um espião, não representa nenhum dano, mas é uma preocupação constante. Tenho que atuar de maneira eficiente e trabalhar com o que está aparente, o que está à vista, tratando dentro do possível incorporar a presença humana em mil imagens. Este "duelo" e a cumplicidade entre o homem e a arquitetura é interessante porque um ser humano em uma imagem traz ao mesmo tempo calor e a escala da arquitetura. Isto dá, por sua vez, uma dimensão abstrata do homem.
Meu objetivo na fotografia é chegar o mais próximo que se possa da abstração.
Não se trata do que eu fotografo realmente, ou o lugar que vivo. Não existe um lugar ideal para fotografar. Ou uma cidade ideal.
A arquitetura me inspira, é claro, mas todo meu foco na fotografia também se concentra no que as pessoas consideram como comum.
O comum ou o feio não pode ser tão chato como todos pensamos que é.
Claro, algumas pessoas podem dizer que minhas imagens são realidades personalizadas, ou imagens subjetivas. Seriam elas tão assim?
A maior parte das pessoas que eu fotografo são completos desconhecidos. Eu nunca penso em quem vou clicar, minhas imagens são fiéis ao que vejo. E cada sábado pela manhã apenas estou convencido que nunca vou capturar a imagem que teria a oportunidade de capturar na semana anterior. Mas, por uma estranha razão, sempre volto pra casa com algo novo. Um caçador sortudo. Mas também, tenho que admitir, um otimista.
É verdadeiramente uma linha estreita. Entre o feio e o belo, o ordinário e o extraordinário, entre o caos e a ordem, a realidade e a arte. Entre o que era antes desta paixão intrigante que invadiu minha vida, e o que sou agora que meus olhos se abrem: um homem disposto a dar testemunho de que, depois de tudo, a vida que nos rodeia não é tao má como pensamos que era.
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Serge Najjar naceu e vive em Beirut. É doutor em Direito e advogado na Corte. Começou a publicar suas fotos no Instagram (@serjios) em Maio de 2011. Em sua primeira exposição, « Lines, Within» estreou na Galeria Tanit (Beirute, Munique) em Setembro / Outubro de 2012. Hoje suas fotografias são expostas em feiras internacionais, entre elas Paris Photo. Seu projeto "realidades abstratas" é um projeto em curso.