Após mais de uma década de equívocos administrativos e reparos controversos que deram início a preocupações acerca de sua integridade histórica, os esforços de restauro da casa E-1027, projetada em 1929 por Eileen Gray em Côte d'Azur, França, foram concluídos. A casa, que influenciou grandemente a obra de Le Corbusier e se tornou alvo de sua fixação invejosa, tem um passado traumático que quase resultou em sua degradação.
Assim como a Villa Savoye e a Viipuri Library, obras do início do modernismo realizadas com em um intervalo de cinco anos, a E-1027 passou a maior parte do século XX em estado de completa ruína antes de ser alvo de esforços recentes de restauração. Usada como alvo para o treinamento de tiros por soldados alemães na Segunda Guerra Mundial, a casa testemunhou o assassinato de seu proprietário antes de ser abandonada na década de 1990 e ocupada por invasores. [1] A casa foi posteriormente comprada pelo Conservatoire du littorali que, em conjunto com autoridades locais, deu início ao longo processo de revitalizar esse tesouro modernista.
Políticas sexuais tiveram um papel central na obscuridade e abandono da E-1027. Na década de 1930, a casa foi vergonhosamente pichada por Le Corbusier, que violou as paredes brancas com oito desenhos sexualizados enquanto permanecia na casa como convidado. "Aparentemente afrontado pela ideia de que uma mulher poderia criar uma obra modernista tão bela", escreve o crítico Rowan Moore, "ele afirmou seu domínio, como um cão que urina sobre seu território." [2] Sem ter sido consultada de antemão, a arquiteta ficou furiosa com o ato de vandalismo de Le Corbusier. Seu conflito com este que se tornaria um expoente da profissão, além da enraizada misoginia na arquitetura, conspirou para que Gray fosse vista como a sombra de seu rival durante grande parte do século XX. [3]
Imagens recentes da casa restaurada atestam a genialidade e presciência de Gray. Pioneira na linguagem do modernismo industrial que desde então se tornou onipresente, a E-1027 está entre os primeiros projetos residenciais a experimentar com os elementos do vocabulário modernista, como janelas em faixa, cobertura plana e guarda-corpo feito com tubos metálicos.
[1] Gordon, Alastair. “Le Corbusier’s Role in the Controversy Over Eileen Gray’s E-1027.” The Wall Street Journal. 19 ago. 2013. Acessado em 10 de junho de 2015 em http://www.wsj.com/articles/SB10001424127887324354704578637901327433828.
[2] Moore, Rowan. “Eileen Gray’s E1027 – Review.” The Guardian. 29 jun. 2013. Acessado em 10 de junho de 2015 em http://www.theguardian.com/artanddesign/2013/jun/30/eileen-gray-e1027-corbusier-review.
[3] Rawsthorn, Alice. “The Tortured History of Eileen Gray’s Modern Gem.” The New York Times. 25 ago. 2013. Acessado em 10 de junho de 2015 em http://www.nytimes.com/2013/08/26/arts/design/The-Tortured-History-of-Eileen-Grays-Modern-Gem.html.