Estudio Guto Requena has designed a new façade, which also doubles as an urban art intervention, for the Hotel WZ Jardins in São Paulo. Dubbed “The Light Creature,” the 30-story facade is visible both during the day and at night, changing to interact with its surroundings and responding to stimuli like air quality and sound. During the day the façade has a pixilated blue, gray and gold skin that serves as “a visual reflection of the soundscape of São Paulo’s iconic Avenida Rebouças,” and at night it is illuminated by interactive light patterns.
Learn more about The Light Creature after the break.
Do arquiteto: A nova fachada do Hotel WZ Hotel Jardins é um desdobramento de projeto da pesquisa do Estudio Guto Requena sobre “Cidade Hackeada”, ou seja, como podemos provocar transformações positivas em nossas cidades, seus espaços públicos e sua arquitetura, plugando sistemas poéticos e funcionais que estimulem mudanças em tempo real, de modo improvisado, colaborativo e com preços viáveis.
A nova fachada do Hotel WZ Hotel faz parte de uma ação de retrofit da arquitetura original de um hotel construído nos anos 1970 em São Paulo. Desenhada por Guto Requena como uma obra de arte urbana, esta fachada com altura de 30 andares acontece em dois momentos distintos: Dia e Noite.
Na fachada diurna utilizou-se chapas metálicas para revestir o edifício, criando uma pele pixelada nas cores dourado, azul e cinza. Como uma camuflagem urbana, seu desenho foi gerado com um software paramétrico a partir da analise dos sons no entorno do edifício, criando padrões gráficos como resposta. O resultado final reflete visualmente a paisagem sonora de uma das avenidas ícones de São Paulo, a Avenida Rebouças.
À noite esta pele metálica acende em padrões luminosos interativos. Esta “Criatura de Luz” habita a fachada do hotel e tem um comportamento próprio, reagindo em tempo real à diferentes estímulos. Sensores instalados no prédio coletam sons que impactam nos movimentos e formas da Criatura. Outro grupo de sensores coleta a qualidade do ar, modificando suas cores. Um aplicativo para celular permite a interação direta do público com a Criatura de Luz através do toque com os dedos ou da voz.
A FACHADA DE DIA: CAMUFLAGEM PARAMÉTRICA
O briefing exigia que utilizássemos um sistema de placas metálicas para encapar o antigo edifício, renovando sua arquitetura. Para isso, vestimos o prédio com um padrão gráfico colorido que foi gerado com auxílio do computador, a partir da análise da paisagem sonora do entorno, coletada com um gravador polifônico posicionado no terceiro andar do hotel durante 24 horas. Em seguida modelamos a maquete digital do edifício e enrolamos quatro vezes nessa maquete o arquivo das curvas do áudio (simbolizando os quatro momentos do dia: manhã, tarde, noite e madrugada). Com uso de um software paramétrico (Grasshoper) os diferentes volumes de som geraram a posição de cada chapa metálica. Os picos de som (o máximo barulho) definiram a posição da chapa dourada, menos áudio a azul marinho, pouco barulho a azul claro e o silêncio posicionou as chapas cinzas. O resultado final é uma camuflagem pixelada que reflete visualmente a paisagem sonora da Avenida Rebouças, uma das mais movimentadas de São Paulo, situada próxima a Avenida Paulista, entre os bairros do Jardins e Pinheiros.
A FACHADA DE NOITE: CRIATURA DE LUZ
Ao anoitecer, a pele metálica acende-se, a partir de uma iluminação de baixíssimohttps://en.wikipedia.org/wiki/Conway%27s_Game_of_Life gasto energético composto por cerca de 200 barras de LED, criando uma dinâmica interativa com a cidade e seus habitantes, dando vida à uma “Criatura de Luz”. Essa criatura tem um comportamento próprio, reagindo em tempo real aos estímulos do ambiente e das pessoas. Os ruídos do entorno impactam diretamente no movimento e nas formas da criatura através de microfones instalados no edifício. A qualidade do ar local modifica suas cores a partir de um grupo de sensores também instalados no hotel. Dias mais poluídos deixam a criatura em tonalidades mais quentes, como vermelhos e laranjas. Em dias de qualidade do ar melhor, a criatura tende a cores frias, como azuis e verdes. O aplicativo para celular permite a interação direta do público com a “Criatura de Luz” de duas maneiras. Uma através do toque (numa dinâmica visual inspirada no clássico “Game of Life”, um autômato celular desenvolvido nos anos 1970 pelo matemático inglês John Horton Conway - e a outra através da própria voz, falando com o edifício e visualizando as ondas sonoras em sua fachada.
Hackeamos a arquitetura original, plugando sensores, chips, microcontroladores, e barras de LED, tornando-a interativa. Uma fachada comunicante que responde aos estímulos do seu entorno e convida a população de São Paulo a refletir sobre seus próprios comportamentos. Som e qualidade do ar são dados fundamentais para a paisagem urbana de grandes cidades. Essa instalação de luz provoca e convida à reflexão.
A fachada interativa do WZ Hotel Jardins revela um futuro em que os edifícios se tornarão híbridos, mescla entre as instâncias concreta e virtual. A partir de agora fazemos arquitetura não mais apenas com matéria física, mas também com o digital. Sensores e atuadores se integram ao tijolo, vidro e concreto.
São Paulo, assim como tantas outras cidades brasileiras, possui uma arquitetura estandardizada, monótona, cinza, com sua estética definida por incorporadoras e construtoras, com baixíssimo valor arquitetônico. É claro que temos edifícios de grande relevância - entre eles, os clássicos do centro histórico, como o edifício Martinelli, os exemplares modernos de Rino Levi e Artacho Jurado, em Higienópolis, e os experimentos contemporâneos na Vila Madalena. Infelizmente são poucos exemplos, que se reduzem a quase zero quando avançamos para a periferia.
Estou obcecado com a ideia de que podemos mudar essa realidade, hackeando edifícios existentes, estimulando uma nova identidade urbana, elevando a autoestima, melhorando a qualidade de vida e promovendo inovação e sustentabilidade a custos viáveis. São Paulo pode ser exemplo internacional do que chamo de Arquitetura Hackeada, feita de modo simples, com a participação coletiva e com mudanças em tempo real. Como? Com estímulos fiscais para adicionar arte nas fachadas, como grafites e jardins verticais, ou plugando varandas e estruturas coletoras de água da chuva e de energia solar. Conectando, por exemplo, sistemas de iluminação de baixo gasto energético (com a tecnologia LED), e o que mais me fascina: fachadas interativas que respondem à estímulos, através do uso de sensores, como barulho, qualidade do ar e temperatura, ou visualizando dados de consumo energético, ou ainda refletindo humor com informações de comportamentos coletadas na internet e em redes sociais.
Essa nova arquitetura híbrida e interativa adiciona camadas poéticas ao nosso cotidiano urbano.
Hacker é um termo utilizado na informática e define uma pessoa que é capaz de subverter, manipular ou modificar utilizando sua criatividade e "expertise" para burlar um sistema computacional. Na Cultura Hacker é comum o trabalho compartilhado, improvisado e colaborativo. Muitas vezes, hackers são ativistas, com fortes ideologias e motivações a favor da internet livre e da privacidade. Hackers são, acima de tudo, grandes inovadores.
- Projeto: Estudio Guto Requena
- Criação: Guto Requena
- Equipe Estudio Guto Requena: Julio Radesca, Lucas Ciciliato, Paulo de Camargo, Vitor Reis
- Desenvolvimento Fachada Interativa e aplicativo para celular: Ydreams
- Iluminação: New Energy
- Cliente: WZarzur
- Localização: Avenida Rebouças n. 955, São Paulo, Brasil
- Projeto: 2013
- Execução: 2013/2014
- Conclusão: janeiro, 2015